Descrição de chapéu

Música de Rodrigo Campos é sofisticada demais para consumo rasteiro

Termo 'trabalho autoral' é miúdo para conceituar o que surge no disco '9 Sambas'

Thales de Menezes

9 Sambas

  • Gravadora YB Music
  • Artista Rodrigo Campos

Em “9 Sambas”, Rodrigo Campos é um artista que sabe para onde quer ir. Não parecia ter tanta convicção assim no álbum anterior, “Conversas com Toshiro”, um tanto desconjuntado e inferior aos dois primeiros trabalhos da carreira.

O novo disco, como entrega de cara o título, é um álbum de sambas. Diante da pergunta já esperada, “que tipo de samba?”, a resposta só pode ser uma: samba de Rodrigo Campos.

O termo “trabalho autoral” é miúdo para conceituar o que surge no disco. Soa clássico, mas não nostálgico ou simplesmente tradicional. Soa moderno, mas não modernoso, como o sambinha desconstruído e afetado que muitos nomes da cena independente insistem em propagar.

rodrigo campos
O compositor, cantor e multi-instrumentista Rodrigo Campos - José de Holanda/Divulgação

Quem já conhece a única música do repertório que já tinha sido gravada, “Clareza”, pode ter alguma pista do samba transgressivo do compositor. Presente no recente álbum de Elza Soares, “Deus É Mulher”, a faixa escapa de tentativas de catalogação fácil.

Como em várias canções do disco, “Clareza” tem cadência bonita do samba perene. Encanta, longe da tentativa do refrão grudento e da batucada que se impõe na força da batida.

Além de exímio construtor de melodias, Rodrigo também é um notório aglutinador de gente bacana. Traz para o álbum nomes relevantes da música brasileira realmente inovadora.

A começar por Juçara Marçal, que parece sobrevoar o disco em muitas aparições de grande efeito. Seu canto em “Clareza”, “Joguei o Jogo”, “Batida Espiral” e “Cecília e a Razão” merecia sucesso radiofônico para que muita gente pudesse ouvir essa voz impecável.

Mas a obra de Rodrigo não vai chegar às rádios e às playlists. É sofisticada demais para o consumo rasteiro. Mais ainda quando ele despeja um samba nada ortodoxo como “Bloco das Três da Tarde”, meio rarefeito, mas envolvente.

Mesmo em sambas mais colados na tradição, como “Chorei Comprido”, o coro marcante nas vozes de Romulo Fróes, César Lacerda e Paulo Neto conversa com uma quase intromissão de sax, a cargo de Thiago França.

Na categoria dos instrumentos intrometidos podem ser incluídos também o teclado de Dustan Gallas em “Cecília e a Razão” e o clarinete de Maria Beraldo em “Batida Espiral”.

É sempre arriscado tentar classificar um cantor e compositor que pode surpreender a qualquer momento. Talvez este seu quarto disco solo tenha ligação forte com o álbum de estreia, “São Mateus Não É Lugar Assim Tão Longe” (2009), e esteja mais distante do segundo, “Bahia Fantástica” (2012). Difícil colocar sua discografia sob um único rótulo.

“9 Sambas” mostra Rodrigo Campos deixando suas digitais numa mistura de vertentes diferentes desse gênero. Um samba definitivamente autoral.

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