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Cinema

'Asako I e II' mostra devaneio de perda súbita sem motivação clara

Título do filme de Ryusuke Hamaguchi resume os dois tempos da vida de sua protagonista

Cássio Starling Carlos

Asako I e II (Netemo Sametemo)

  • Quando Estreia nesta quinta (20)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Erika Karata, Masahiro Higashide
  • Produção Japão/França, 2018
  • Direção Rysuke Hamaguchi

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Todos os clichês do amor já foram usados e parecem desgastados, mas o sumiço do objeto amado vem sendo um motivo recorrente, o que deixa de ser visto como recurso realista para se tornar sinal, resposta a uma realidade em que tudo se apaga.

Depois do atordoante “Em Chamas”, do sul-coreano Lee Chang-dong, “Asako I e II”, dirigido pelo japonês Ryusuke Hamaguchi, é outro título da competição de Cannes deste ano que acompanha os devaneios de uma perda súbita e sem claras motivações.

Ambos trazem ecos da forma como Hitchcock representou o fantasma como figura central da situação amorosa em “Um Corpo que Cai”, jogando com o desaparecimento, o medo do abismo e a repetição.

O título “Asako I e II” resume os dois tempos da vida de sua protagonista, o antes e o depois de uma garota que se apaixona por Baku, jovem que ela conhece por acaso. Embora tudo pareça maravilhoso, do nada ele some.

Mais tarde, ela mudou-se para Tóquio e descobre Ryohei, sósia invertido de seu primeiro amor. Enquanto aquele era rebelde e imprevisível, este é calmo e dedicado.

Apesar de mais madura, a própria Asako não se tornou oposta à primeira. Na superfície, ela se acomoda à segurança do novo relacionamento. Porém, quando fica sabendo que Baku se tornou um modelo famoso, ela passa a agir de modo incerto.

Como apresentar as possibilidades desse conflito sem depender apenas das competências dos jovens atores na expressão de nuances?

A escolha de Hamaguchi é filmar a trama de vaivém sem sobressaltos. O formato de crônica, gênero com longa tradição no cinema japonês, traduz com precisão o aspecto quase imperceptível da passagem do tempo.

Esta forma representa o cotidiano como algo que não se rompe, de estabilidade acima dos riscos, cuja imagem mais comum aparece no modo com que os japoneses reagem aos pequenos tremores sísmicos sem entrar em pânico.

Mesmo quando encena a reação de uma plateia de teatro em meio a um terremoto, o filme passa longe do que esperamos ver em cenas de catástrofes, usando a situação mais como um sentimento do que pode ocorrer.

Esse modo aparentemente calmo desafia nossas expectativas moldadas pelas tramas românticas e suas viradas previsíveis.

Ele funciona mais como um sismógrafo que registra as modulações de humor de Asako, as oscilações de seu afeto, enquanto o mundo segue seu ritmo, indiferente às paixões.

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