Descrição de chapéu Obituário Alfredo Sternheim (1942 - 2018)

Alfredo Sternheim, cineasta ligado à Boca do Lixo, morre aos 76 anos

Dos anos 1960 aos 1980, diretor e crítico participou das várias fases da produção na rua do Triumpho

O cineasta Alfredo Sternheim - Bruno Poletti - 18.abr.2016/Folhapress
Inácio Araujo
São Paulo

Com a morte de Alfredo Sternheim, nesta quinta (6), aos 76 anos, perde-se o cineasta mais associado à era do chamado cinema Boca do Lixo paulista.

Melhor chamar, no caso de Sternheim, “cinemas”, pois do final dos anos 1960 até a segunda metade dos anos 1980 participou das várias fases em que a produção paulista, após a falência dos grandes estúdios, concentrou-se na rua do Triumpho, em Santa Ifigênia.

Nos anos 1960, aprendeu o ofício como assistente de Walter Hugo Khouri em “A Ilha” (1963) e “Noite Vazia” (1964), passando em seguida ao curta-metragem, com trabalhos sobre o artista plástico Flavio de Carvalho e a cidade de São Paulo (onde nasceu em 1942).

Parte de sua iniciação se deu, também, como crítico cinematográfico do jornal O Estado de S. Paulo.

Próximo de Khouri e de Ruben Biáfora (como ele, cineasta e crítico), fez sua estreia na direção com “Paixão na Praia” (1971), em que teve Adriano Reis e Norma Bengell nos papéis centrais. Desde ali já se notava seu engajamento na corrente do cinema brasileiro que se opunha ao cinema novo e se propunha a tratar de temas universais.

Dentro dessa proposta também realizou “Anjo Loiro” (1973), evidente referência a “O Anjo Azul” (1931), de Joseph von Sternberg, e um dos primeiros trabalhos de Vera Fischer como atriz. “Pureza Proibida” (1974) tem como base a peça “A Branca e o Negro”, de Monah Delacy, enquanto em “Lucíola, o Anjo Pecador” (1975), Sternheim adapta o romance “Lucíola”, de José de Alencar.

Com o fim da era do INC (Instituto Nacional de Cinema), e de maior incentivo a adaptações literárias, Alfredo se alterna entre a comédia e o drama erótico, em filmes como “Herança dos Devassos” (1979, com Sandra Bréa), “Corpo Devasso” (1980), “A Prostitutas do Dr. Alberto” (1981), “Amor de Perversão” (1982).

Quando a produção popular sai de cena em favor do filme de sexo explícito, Sternheim acompanha a tendência e filma, entre outros, “Variações do Sexo Explícito” (1984) e “Sexo dos Anormais” (1985).

Nesse momento entra em polêmica com o crítico Edmar Pereira, do Jornal da Tarde, ao fazer a defesa do cinema de sexo explícito. 

Sua carreira como cineasta termina, na prática, com “Fêmeas que Topam Tudo” (1987), apesar de ter realizado, em 2014, um episódio de “Memórias da Boca”.

Sternheim continuou a praticar o jornalismo em revistas dedicadas sobretudo ao DVD. Mais recentemente manteve atuação constante no Facebook, espaço no qual discutiu desde o custo de produção dos filmes brasileiros atuais (que julga com frequência excessivos) até a dificuldade dos filmes nacionais dialogarem com o público em vista da ocupação quase total das salas pelos blockbusters americanos.

Há menos de uma semana recebera a notícia de que seu “Herança dos Devassos” (1979), em que dirigiu Sandra Bréa e Roberto Maia, estava disponível sob demanda nos canais Now, Vivo Play e Oi Play. Sternheim morreu próximo de suas paixões mais constantes: o cinema e a escrita.

O velório do cineasta será no Cemitério do Araçá.

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