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Sem defeitos, Carlos Lyra lança 'Além da Bossa', seu 1º disco de inéditas em 25 anos

Álbum tem canções totalmente inéditas e faixas que parceiros já gravaram, mas que nunca foram cantadas pelo cantor

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O cantor Carlos Lyra, que lança ‘Além da Bossa’
O cantor Carlos Lyra, que lança ‘Além da Bossa’ - Divulgação

Além da Bossa

  • Preço R$25 (CD)
  • Gravadora Independente
  • Artista Carlos Lyra

O título do disco é "Além da Bossa". Não traduz novidade, porque em seus 65 anos de carreira Carlos Lyra já foi além da bossa nova que ajudou a criar na década de 1950. Mas o álbum soa revigorado, um dos melhores que o cantor e compositor já gravou.

Trata-se do primeiro disco de inéditas que ele lança em 25 anos, desde "Carioca de Algema" (1994). Algumas canções são totalmente inéditas, enquanto algumas faixas registram músicas que parceiros já gravaram, mas nunca foram cantadas por Lyra.

E a voz melódica continua impecável. "Meus cuidados com a voz são básicos. Não pego vento, porque tenho rinite e isso acaba me dando pigarro. Antes de show ou de gravar voz, tenho o hábito de comer um pedacinho de raiz de gengibre. Durante as sessões de gravação só bebo água", conta Lyra à Folha.

Nesse intervalo de 25 anos, ele esteve ocupado. Seu projeto mais recente foi a bem-sucedida turnê do relançamento do álbum "Os Bossa Nova", que gravou ao lado de parceiros dos primórdios do movimento: Marcos Valle, Roberto Menescal e João Donato.

Os músicos João Donato, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Marcos Valle
João Donato, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Marcos Valle, que lançaram o álbum 'Os Bossa Nova' - Divulgação

"Nem vi o tempo passar. Me envolvi em outros tantos projetos que quando dei por mim, vi que já não lançava um disco autoral há 25 anos. Nunca me preocupei com a obrigação de fazer música pra gravar um disco. As músicas, quando não são por encomenda, vêm quando querem. Eu fui guardando e quando vi tinha um número considerável."

O repertório inclui músicas compostas entre 1956 e 2012, e a mais antiga, "Aonde Andou Você" é a exceção do disco, como única música de "Além da Bossa" que já tinha sido ouvida na voz de Lyra. Figurou em LP que leva o nome do cantor, lançado em 1961.

Ler a ficha técnica do disco é percorrer uma extensa lista de estrelas da música brasileira: Marcos Valle, Dori Caymmi, João Donato, Antonio Adolfo, Joyce Moreno, Jaques Morelenbaum...

"Fiquei avaliando o estilo de cada música e fui convidando os orquestradores e pianistas que eu achava que se encaixavam. Mas não pensei num 'dream team'. Pensei nos amigos que fazem trabalhos que admiro. Todos do meu convívio. Então, foi meio natural."

Se o disco soa refinado, com tramas sonoras sofisticadas, isso é surpreendente diante da declaração de quem tem tanta história na música brasileira. "Entre todos os discos que gravei, esse é o primeiro que não acho defeitos. Também é o primeiro em que as minhas escolhas foram todas respeitadas e todas as ideias foram moldadas à minha maneira", afirma Lyra.

"Não tive ninguém dizendo 'essa música não funciona' ou escolhendo os músicos por mim, ou impondo repertório, ou enviando a mixagem sem a possibilidade de eu opinar, ou colocando um coro sem me consultar. Não havia pressão de gravadora e nem um monte de nomes nos créditos, de pessoas em cargos executivos que eu nunca vi na vida. Em 65 anos de carreira, nunca havia tido uma experiência tão satisfatória."

Segundo Lyra, ele e o produtor Alex Moreira deixaram os orquestradores convidados voarem livres nas escolhas sonoras. "Não palpitei em nada. Eu deixei a minha música levar cada um pra onde sentisse. E deixei cada faixa na mão de cada orquestrador. E cada uma foi um presente. Sou muito grato."

Um bom exemplo é o arranjo de Dori Caymmi para "E Era Copacabana", escrita por Lyra e Joyce Moreno em 2005 e lançada por ela no ano seguinte. A música é bela moldura para versos como "Noites febris/ Tempos gentis/ Eu já fui tão feliz/ Mais do que eu quis".

Letras encantadoras também surgem em duas parcerias com Paulo César Pinheiro, "Tango Suburbano" e "Pelo Bem da Vida", esta pontuada pelo cello arrepiante de Jaques Morelenbaum.

E Lyra busca parceiros acima de qualquer suspeita entre gigantes da literatura.

Em "As Duas Flores", ele faz música para um poema de Castro Alves. Em "Em Quando Ela Fala", recorre a Machado de Assis.

Os parceiros do quarteto Os Bossa Nova compareceram ao estúdio. Marcos Valle arranjou e tocou piano em "Até o Fim", parceria dos dois, e na emocionante faixa que dá título ao álbum, escrita por Lyra e Daltony Nóbrega.

Com João Donato, a dupla assina "Pra Sempre", um dos grandes momentos do disco. "O convívio com Marcos, Donato e Menescal é natural. Minha parceria com Menescal só não está nesse disco porque a fizemos e gravamos pro relançamento de 'Os Bossa Nova' quando o repertório desse disco já estava fechado. Mas o Menescal está presente de outra maneira. Gravei 'Romântico Até Demais', que era inédita e fiz ainda no colégio onde estudamos juntos. Ele sempre me cobrava essa gravação."

Perto de completar 86 anos, no dia 11 de maio, Carlos Lyra prepara um musical com o amigo Daltony Nóbrega.

"Tenho mais alguns projetos na intenção de tirar do baú coisas que as pessoas não conhecem", avisa o cantor.

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