Descrição de chapéu
Flip

A Flip era o país do futuro e agora parece algo do passado, algo deslocado

O que deu tão errado? Como viemos parar aqui?

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Antonio Prata
Paraty (RJ)

No final da mesa, na tarde de sexta-feira, a socióloga Ângela Alonso pergunta ao historiador José Murilo de Carvalho se ele tem uma pitada de otimismo com o futuro brasileiro. Ele a encara em silêncio e em silêncio centenas de pessoas aguardam a resposta, sob a tenda do telão, na praça da Matriz.

O historiador José Murilo de Carvalho, durante a mesa Troia de Taipa, na Flip
O historiador José Murilo de Carvalho, durante a mesa Troia de Taipa, na Flip - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Horas depois, o silêncio será quebrado por rojões explodindo, um atrás do outro, bem ao lado da tenda. Na outra margem do rio, Glenn Greenwald, jornalista do The Intercept, irá participar de um debate. Na margem de cá, algumas dezenas, com bandeiras amarelas estampando o número 17, soltam os rojões e com enormes caixas de som, rebocadas por um carro, tocam o hino nacional e o funk “O mito chegou”, bem alto, para abafar a fala do jornalista. 

Estive na primeira Flip, há 17 anos (as faixas com o número 17, não sei se é preciso frisar, não são para comemorar o aniversário) e em várias outras também. A Festa Literária era acusada de ser elitista, para um pequeno público, mas parecia que os que estavam nesta ínfima bolha de leitura, estudo superior e conforto financeiro em breve seriam acompanhados por muitos mais, os que ascenderiam econômica e culturalmente para a nossa margem do rio. A Flip era o país do futuro. Agora parece algo do passado, algo deslocado. Em diversas mesas, debate-se: o que deu tão errado? Como viemos parar aqui? Tem saída? Na quinta, a jornalista e exilada venezuelana Paula Ramón me dizia que o Brasil lhe lembrava a Venezuela dez anos atrás.

Depois de um silêncio infinito, o historiador repete “otimismo?”, um tanto surpreso. Pensa mais um pouco, menos por não saber a resposta do que por não saber como dar a notícia. Ângela, então, ameniza, “uma pitada”, quase que mendigando um mísero vaga-lume no fim do túnel.

O historiador faz não com a cabeça.

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