Estamos nos anos 1970, no interior da Colômbia, onde Rapayet, nativo wayúu, quer se casar com Zaida. Mas é preciso obedecer à tradição e pagar o dote, que consta de 30 cabras e mais alguns quebrados. Já se vê que é uma cultura onde a criação de cabras joga um papel determinante.
Rapayet não tem tudo isso, mas não é impossível conseguir. E ela chega a isso por meio de um grupo de americanos que estão ali, supostamente, para proteger a Colômbia do comunismo, mas o que querem mesmo é maconha.
Na companhia de um amigo ele procura um parente que se dedica à plantação da erva. Em dois tempos o problema do dote está resolvido.
Algo, porém, começa a se transformar, com rapidez e não sem violência —da transação inicial, Rapayet passa ao comércio constante e agora bem maior da droga para traficantes americanos.
Ou seja, o contato com o mundo exterior subverte seus hábitos. Primeiro, podemos ver uma picape irromper em meio a taperas e cabras. Mais tarde, essas cabanas são substituídas pelo imponente bunker da família de Rapayet.
A maneira como os diretores Ciro Guerra e Cristina Gallego observam a transformação é que torna notável essa produção. Nenhuma mudança é instantânea. Elas são mediadas por elementos da tradição, como a matriarca influente e o mensageiro, personagens fortíssimos da trama. São, no entanto, radicais —degradam costumes, relações, tradições. Os wayúu se banham no dinheiro da droga.
É difícil dizer se existe uma metáfora da própria Colômbia ou das relações entre traficantes e guerrilha, que se desenvolveria tempos depois.
O filme ilustra os problemas nas relações entre indígenas e ocidentais. Habitualmente, os índios são despojados de sua cultura, catequizados e transformados em proletários.
Esses pássaros de verão, ao contrário, se tornam ricos e fortes. Mas é um verão —o contágio de sua cultura pelos hábitos do homem branco deixará marcas. E elas são menos felizes do que este belo filme.
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