Descrição de chapéu
Artes Cênicas

Musical sobre Dona Ivone Lara surpreende e entusiasma plateia

Sintonia fina com o público é a maior qualidade de peça sobre a matriarca do Império Serrano

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Dona Ivone Lara - Um Sorriso Negro

  • Quando Qui. a sáb., às 20h; dom., às 17h.
  • Onde Teatro Sérgio Cardoso, r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista.
  • Preço R$ 40 a R$ 150
  • Classificação 12 anos
  • Até 20/10

Entre as qualidades de “Dona Ivone Lara - Um Sorriso Negro”, talvez a maior seja o entusiasmo, o congraçamento com o público. A comunicação direta é constante, uma característica buscada com êxito.
Cria-se um diálogo intermitente entre o elenco e a plateia lotada do teatro Sérgio Cardoso. Integração que não se limita às canções, aos hits que apresenta, avançando pelos quadros, de cômicos a trágico, da vida de Dona Ivone Lara.

O ritmo dramatúrgico e espetacular alcançado advém, em parte ao menos, do fato de o musical ter chegado a São Paulo já tendo cumprido uma longa temporada no Rio de Janeiro.

Estetáculo "Dona Ivone Lara - Um Sorriso Negro", no palco do teatro Sérgio Cardoso
Estetáculo "Dona Ivone Lara - Um Sorriso Negro", no palco do teatro Sérgio Cardoso - Lenise Pinheiro/Folhapress

Amontoam-se virtudes nesta nova produção de Jô Santana, diretor geral que a apresenta como parte de uma trilogia sobre o samba e a cultura negra, que passou por Cartola e terminará com Alcione.

Com dramaturgia e direção artística de Elísio Lopes Jr., em “Um Sorriso Negro” há interpretações originais como aquela, nada realista, de Heloísa Jorge, atriz que faz a segunda Ivone no tempo, de idade intermediária. Ela atravessa os diálogos com gestos marcados e gargalhadas que surpreendem e tornam as cenas mais imediatas, vívidas.

A terceira Ivone, aquela de trajetória pública, com seus sucessos, ou seja, a celebridade como a conhecemos, é mais representativa, até por dar voz potente à mulher que revolucionou o samba, matriarca do Império Serrano.

Fernanda Jacob foi quem assumiu o papel após a controvérsia que, nos ensaios, marcou a saída de uma atriz questionada como muito clara para personagem tão vinculada à afirmação da cultura negra.

Outros intérpretes chamam a atenção, como Francisco Salgado, que faz o marido em idade mais avançada e que se vê entre o machismo e a resistência a ele, entre outros conflitos. O quadro de sua morte, levado pelo mar, é inspirado em rito religioso, na música e nos movimentos, em composição trágica de forte efeito.

Muitos elementos dão diversidade à apresentação e ajudam a compreender seu impacto para além da identificação palco-plateia. É o caso da linha de coro majoritariamente masculina, que rompe a obviedade das coristas e imprime vigor e até certo risco aos movimentos surpreendentes em diversos dos quadros coreografados por José Carlos Arandiba, o Zebrinha.

Sobretudo, livra assim o espetáculo da exploração turística das passistas de escola. As mulheres em cena estão ali como personagens plenas, mesmo quando não têm falas.

Há um esforço de compor a cenografia a partir de carros alegóricos, erguendo diferentes cenários móveis, novamente evitando obviedade, mas aqui com menos êxito.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.