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Manu Dibango, lenda do jazz, morre após ser infectado por coronavírus

Aos 86 anos, saxofonista camaronês ficou conhecido pelo hit 'Soul Makossa'

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Christophe Parayre Philippe Grelard
Paris | AFP

Construtor de pontes entre o Ocidente e a África. Era assim que o saxofonista Manu Dibango se descrevia. Aos 86 anos, o camaronês que era astro do jazz morreu nesta terça-feira (24), poucos dias após ser infectado pelo novo coronavírus.

Expoente do afro-jazz, Dibango se tornou famoso com o hit "Soul Makossa".

"Tenho a harmonia de Bach e de Handel no meu ouvido, mas com as letras camaronesas. É uma riqueza poder ter pelo menos duas possibilidades. Na vida, prefiro ser estéreo do que mono", disse ele em entrevista em agosto do ano passado.

Manu Dibango, que morreu após ser infectado por coronavírus, em foto de 2005
Manu Dibango, que morreu após ser infectado por coronavírus, em foto de 2005 - Olivier Laban-Mattei/AFP

"Seu legado, imenso, permanecerá. Sua criatividade era genial. Fazia as pessoas dançarem, com eficiência formidável", comentou o DJ e produtor Martin Meissonnier, à AFP. O cantor Youssou Ndour escreveu nas redes sociais sobre a sua tristeza. "Você foi um irmão mais velho, um orgulho para Camarões e para toda a África", publicou.

"O mundo da música perde uma de suas lendas", lamentou nas redes sociais o ministro da Cultura francês, Franck Riester. O artista morreu em um hospital da região de Paris.

Emmanuel N'Djoké Dibango nasceu em 1933 na cidade de Douala, em uma família protestante. "Meu tio tocava órgão, minha mãe conduzia o coral. Fui uma criança criada nos 'Alleluia'. Ainda assim, sou africano, camaronês e tudo mais", disse em entrevista.

Seu pai, funcionário público, o enviou à França aos 15 anos, na esperança de torná-lo engenheiro ou médico. Após 21 dias de viagem de navio, Dibango desembarcou em Marselha e seguiu para Saint-Calais, em Sarthe.

Na bagagem, tinha três quilos de café —uma mercadoria rara no pós-guerra e título de sua autobiografia— para pagar a família que o acolheu. Depois, estudou em Chartres, onde deu seus primeiros passos musicais no bandolim e no piano.

No meio de um universo branco, o adolescente que "não conhecia a cultura africana" passou a admirar as estrelas afro-americanas da época. Count Basie, Duke Ellington e Charlie Parker se tornaram seus heróis.

"Papa Manu" descobriu o saxofone durante um acampamento de verão. Arrastando os estudos, fracassou na segunda parte do seu bacharelado. Seu pai, insatisfeito, interrompeu o envio de dinheiro em 1956.

Ele então partiu para Bruxelas, onde passou a tocar em diferentes locais. "Na minha época, você precisava tocar em cabarés, bailes, circos. Fazer apresentações com um acordeonista como André Verchuren garantia algumas datas", contou.

Sua estada na capital belga foi marcada por dois encontros: com Marie-Josée, conhecida como "Coco", que se tornou sua mulher, e com Joseph Kabasélé, maestro do jazz africano. Na efervescência dos movimentos de independência dos países africanos, o músico congolês abriu as portas da África para Dibango.

O músico seguiu Kabasélé e lançou a moda do twist em 1962, abrindo depois uma boate em Camarões. Três anos depois, voltou à França. Tornou-se pianista de rock para Dick Rivers, organista e depois maestro de Nino Ferrer.

Em 1972, foi convidado a compor o hino do Campeonato Africano das Nações de futebol, a ser realizado em Camarões. No lado B do disco, gravou "Soul Makossa".

Os DJs de Nova York se apaixonaram por esse ritmo sincopado. E foi então que outra vida começou para ele.

O saxofonista foi convidado para tocar no teatro Apollo, templo da música afro-americana no Harlem, em Nova York, e agregou novas misturas, fazendo turnês internacionais, como na América do Sul.

Em 1982, veio outra forma de consagração. "Soul Makossa" foi "sampleada" por Michael Jackson em seu álbum "Thriller" —mas sem autorização. Manu Dibango iniciou o primeiro de uma longa série de processos por plágio contra o astro pop, que terminou com um acordo financeiro.

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