Sem shows, músicos driblam coronavírus com aulas e apresentações online

Professor ensina francês em transmissão de Anitta enquanto os festivais caseiros pipocam nas redes sociais

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São Paulo

Em meio ao avanço do novo coronavírus no Brasil, Anitta está esperançosa. “Uma hora ou outra a ciência vai nos trazer uma solução”, diz a cantora, que está aproveitando o tempo em casa para comer bem e descansar, já que sua agenda —incluindo shows, campanhas, gravações de clipes, estúdio, reuniões— está inteira suspensa.

Mas não demorou para Anitta, inquieta “até quando não era cantora”, arrumasse uma maneira de contornar o tédio da quarentena. “Não consigo ficar sem fazer nada, sempre fui assim. Então, resolvi aprender uma língua que não sei, o francês. A partir daí, pensei ‘e se na verdade eu divulgar o trabalho dos autônomos e ainda compartilhar minhas aulas com meus seguidores?’.”

A escola online de Anitta já está funcionando. No Instagram, ela está fazendo transmissões ao vivo em chamadas com algum professor ou profissional autônomo.

Entre as próximas atrações, um personal trainer vai ensinar uma série de exercícios para fazer em casa, um chef dará dicas de refeições simples e, por fim, aulas de francês —isso só nesta sexta (20).

A iniciativa da estrela pop se soma a um movimento de interação online entre músicos e fãs que vem se tornando cada vez mais frequente em meio à pandemia.

Lá fora, a cantora Charli XCX está compartilhando um diário da quarentena, enquanto Miley Cyrus lançou uma espécie de talk show online. Neil Young anunciou shows acústicos em sua lareira, Ben Gibbard, vocalista do Death Cab For Cutie, está se apresentando todos os dias de seu estúdio caseiro.

No Brasil, ideias desse tipo começaram a pipocar. Uma iniciativa portuguesa, o festival #EuFicoEmCasa, já inspirou pelo menos duas ações por aqui. Uma delas é o Música em Casa, iniciativa da gravadora Universal nos mesmos moldes daquela do país europeu.

“Em menos de quatro horas, vimos só o perfil do festival no Instagram chegar a quase 100 mil inscritos”, diz Paulo Lima, presidente da gravadora. O esquema, ele diz, é de cinco shows de meia hora por dia, das 19h às 21h30, com mediadores recolhendo pedidos dos fãs, nos perfis de cada artista, a partir do dia 20.

O festival reúne mais de 70 nomes, incluindo Sandy, Felipe Araújo, Vitão, Projota e As Bahias e a Cozinha Mineira. Um dos confirmados é Di Ferrero, ex-vocalista do NX Zero, que está com coronavírus. “Ele já está bem, se mantém recluso. Vai entrar cantando e trocando experiências, por ter contraído o vírus”, diz Miguel Cariello, diretor do departamento de shows da gravadora.

Sem a estrutura da Universal, outro festival parecido já foi anunciado, o Lá em Casa. “Venho de shows adiados e, não sei se por teimosia ou vontade de tocar, resolvi fazer uma live pra cada show adiado”, diz o cantor Marcos Almeida, idealizador do festival online.

Com o sucesso das lives, ele decidiu convidar os artistas —incluindo muitos músicos independentes— para os pocket shows caseiros. No line-up estão Biquíni Cavadão, Suricato, Bruna Caram, Ana Muller, Brisa Flow e Gustavo Bertoni, que é vocalista da banda Scalene, entre muitos outros.

Os artistas independentes, que não faturam tanto com streaming e dependem da renda de shows para pagar as contas, são os que mais estão perdendo com a impossibilidade de trabalhar. Segundo Almeida, o fortalecimento das redes sociais é o que pode ser feito para minimizar o impacto negativo do coronavírus.

“Nos últimos anos, os artistas tiveram que se virar dentro do digital. Até aqueles que eram mais céticos e preguiçosos agora têm uma razão maior pra fazer isso”, ele diz. “É também trazer esperança para a cena, uma esperança de ajuda mútua entre os artistas.”

No exterior, já existe até uma petição para que o Spotify, principal serviço de streaming no mundo, triplique o pagamento para ajudar os músicos a suportar o período sem shows. O Bandcamp já anunciou uma ação para recolher dinheiro dos fãs durante um dia inteiro e repassar a verba aos artistas com músicas tocadas na plataforma.

Além do lado humano de ajudar a superar a pandemia, os shows e atividades online também têm uma função na prevenção —com as pessoas em casa, assistindo às lives, há menos risco de contágio. Mas os músicos também já estão de olho num possível aumento no acesso a suas músicas no streaming.

“O universo digital permite que você faça até música de casa, e, com todo mundo em casa, o consumo de música digital vai aumentar”, diz Cariello.

Paulo Lima diz que a dica é conseguir o máximo de engajamento. “Quanto mais você cresce nesse meio, no futuro, essa monetização tende a aumentar. Os artistas podem usar isso como moeda de troca. Agora também é a hora de crescer o consumo legalizado de música digital. Se os músicos continuarem gerando conteúdo, vão conseguir aumentar o volume de acessos.”

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