Bienal de Arquitetura de Veneza vê Lina Bo Bardi como farol do viver junto

Tradicional mostra ocorre em edição presencial a partir de maio, com 63 países participantes

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São Paulo

“Se há uma arquiteta que representa o tema desta Bienal, é Lina Bo Bardi. A carreira dela como designer, editora, curadora e ativista nos lembra o papel do arquiteto como congregador e construtor de visões coletivas”, disse Hashim Sarkis, curador da próxima edição da Bienal de Arquitetura de Veneza, ao apresentar a 17ª edição do evento nesta segunda, dando destaque à italiana que fez sua carreira no Brasil, a grande homenageada da mostra.

Chamada “How Will We Live Together?”, ou como vamos viver juntos, a Bienal estava prevista para maio do ano passado, mas foi adiada para o segundo semestre, devido à pandemia, antes de ser remarcada mais uma vez, para maio deste ano. Ocorrerá presencialmente, em Veneza, entre 22 de maio e 21 de novembro, com 63 países representados, quatro dos quais estreantes –Iraque, Azerbaijão, Granada e Uzbequistão.

Lina exemplifica ainda a resiliência dos arquitetos em tempos difíceis, como durante guerras, disputas políticas e migrações, acrescentou o curador, dizendo que ela permaneceu criativa, generosa e otimista em adversidades. "Acima de tudo, são os seus edifícios poderosos que se destacam pelo design e pela forma como unem arquitetura, natureza, vida e comunidade. Em suas mãos, a arquitetura se torna verdadeiramente uma arte social que congrega."

Lina Bo Bardi na construção do Masp, na avenida Paulista, ao lado de protótipo do cavalete de cristal com reprodução de 'O Escolar', de Vincent van Gogh - Lew Parrella -década de 1960/Arquivo da Biblioteca e Centro de Documentação do Masp

O curador afirmou que o ano da pandemia tornou esta Bienal mais um processo do que um evento, alterando seu formato. Afora a exposição, nos espaços dos Giardini e no Arsenale e nas regiões centrais de Veneza, o programa se desdobra numa série de encontros e simpósios, além de fornecer conteúdo para diferentes mídias, como duas publicações e um filme com entrevistas com intelectuais a respeito do tema da edição. Parte da programação será transmitida online, assim como a montagem de alguns pavilhões.

“A questão 'como vamos viver juntos?' é uma questão tanto social e política quanto espacial. Aristóteles perguntou isso quando estava definindo a política e voltou para propor o modelo da cidade. A crescente polarização política, as mudanças climáticas e as vastas desigualdades globais estão nos fazendo fazer essa pergunta com mais urgência e em escalas diferentes do que antes", disse o curador.

"Paralelamente, a fraqueza dos modelos políticos que estão sendo propostos hoje nos obriga a pôr o espaço em primeiro lugar e, talvez como Aristóteles, olhar para a forma como a arquitetura molda a habitação em busca de modelos potenciais de como poderíamos viver juntos.”

O evento também indaga o papel do corpo em relação à arquitetura, numa colaboração com a Bienal de Dança de Veneza, e apresentará uma obra em parceria com o museu Victoria & Albert, de Londres, baseada em três mesquitas londrinas, para tratar de temas como islamofobia, imigração e multiculturalismo. Ao mostrar como esses locais de culto foram criados a partir da adaptação de construções já existentes —casas, lojas, cinemas e bares—, o evento reconhece o papel da arquitetura muçulmana.

Outra inovação é a ramificação da Bienal em mostras e discussões em outros lugares do mundo depois do seu término, em novembro. “Um dos objetivos de uma exposição internacional é aumentar nosso desejo por arquitetura. Nunca tivemos tanta necessidade de arquitetura”, afirmou o curador, lembrando os desafios impostos pela pandemia no morar e no conviver –a programação ainda não foi anunciada.

A Bienal começou a divulgar em suas redes sociais prévias de alguns projetos, numa espécie de esquenta para a abertura do evento. Nesta segunda, por exemplo, um post no Instagram mostra um modelo de reconstrução de uma pedra usada como assento na Grécia, há 2.000 anos, que deve fazer parte de um projeto dedicado a pensar a remodelação de espaços para deficientes físicos. Já a participação da Suíça se dará em torno de pessoas que vivem em territórios fronteiriços.

Sarkis, nascido em 1964 no Líbano, tem atuação tanto no mercado quanto na universidade. Ele trabalhou em projetos no Líbano e no Oriente Médio depois de obter o título de PhD pela Universidade Harvard, em 1995. Desde 2015, é reitor da Escola de Arquitetura e Planejamento do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, nos Estados Unidos.

A mostra dedicada às artes visuais da Bienal de Veneza, com curadoria de Cecilia Alemani, que deveria ocorrer em 2021, foi adiada para 2022 e terá duração de sete meses, entre os dias 23 de abril e 27 de novembro.

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