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Filme do É Tudo Verdade traz ousadia de Ziembinski, que revolucionou teatro no Brasil

Com imagens raras, documentário mostra como polonês que colaborou com Nelson Rodrigues influenciou gerações de atores

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São Paulo

Um episódio ilustra a coragem e a devoção pelo teatro de Zbigniew Ziembinski, diretor e ator polonês radicado no Brasil.

Em setembro de 1939, quando as tropas nazistas já iniciavam a ocupação das ruas de Varsóvia, ele encenava na capital polonesa a peça “Genebra”, em que o autor irlandês George Bernard Shaw apresenta figuras como Herr Battler, Signor Bombardone e General Flanco.

Não é preciso ser expert em Segunda Guerra Mundial para saber quem são os ditadores alvos da comédia. Ao satirizar Hitler, Mussolini e Franco, Ziembinski começou a ser perseguido pelos alemães e passou dois anos em fuga pela Europa até chegar ao Rio de Janeiro em 1941.

A história é lembrada pela atriz Nathalia Timberg em “Zimba”, documentário dirigido por Joel Pizzini que estreia no festival É Tudo Verdade. Diante das dificuldades dos brasileiros para pronunciar nome e sobrenome do polonês, ele logo ganhou o apelido de Zimba.

Timberg foi dirigida por ele (em parceria com Daniel Filho) em “Rainha Louca”, novela da Globo exibida em 1967. Ziembinski coordenou outros projetos na emissora, onde também trabalhou como ator.
Atuou ainda em filmes brasileiros, especialmente em produções da Vera Cruz, como “Tico-Tico no Fubá”, de 1952, e “Appassionata”, daquele mesmo ano.

Mas a arte por excelência de Ziembinski era mesmo o teatro, como mostra o documentário. Em 1943, dois anos depois de chegar ao Brasil, o diretor trabalhava com a companhia carioca Os Comediantes quando conheceu Nelson Rodrigues.

O dramaturgo havia sugerido o texto de “Vestido de Noiva” para outros grupos, mas ninguém se interessou. Ziembinski, porém, ficou fascinado pelas histórias de Alaíde e de sua irmã, Lúcia, desdobradas em três dimensões, a realidade, a alucinação e as memórias.

“Na Polônia, era um diretor consagrado, mas era mais um. No Brasil, ele se arriscou em uma outra direção com ‘Vestido de Noiva’”, diz Pizzini. Ziembinski partia de uma dramaturgia inovadora, mas isso não bastava. Trazia seus métodos de Varsóvia para o Rio e dava um passo além.

Com ensaios exaustivos para que os atores conhecessem o texto em profundidade, coreografia dos movimentos do elenco, iluminação minuciosa no palco, o cenário em camadas de Tomás Santa Rosa, entre outros avanços, Ziembinski revolucionou o teatro brasileiro.

“Nelson Rodrigues, sozinho, acho que não sairia do lugar não tivesse Ziembinski”, afirma Antunes Filho, morto em 2019, em depoimento apresentado no filme. Antunes foi assistente do encenador polonês no TBC, o Teatro Brasileiro de Comédia, nos anos 1950, quando Ziembinski trabalhou em São Paulo.

Ziembinski e Cacilda Becker na peça 'Os Filhos de Eduardo', de 1955 - Acervo UH/Folhapress

Depois de “Vestido”, ele montou outras peças de Nelson, como “Toda Nudez Será Castigada” e “Anjo Negro”, essa com a participação de Nicette Bruno, que morreu em dezembro passado aos 87 anos. Ela tinha só 15 anos quando o espetáculo foi encenado.

Ao longo do documentário, as atrizes Nicette Bruno, Nathalia Timberg e Camilla Amado, que participou da remontagem de “Vestido” em 1976, atuam como narradoras e interpretam trechos breves desses seus personagens históricos.

Afeito a experimentar novas linguagens do documentário, como em “Caramujo-Flor”, de 1998, “500 Almas”, de 2004, e “Olho Nu”, de 2013, Pizzini se arrisca desta vez no que chama de “dramaturgia documental”. Além das participações das atrizes, ele costura a narrativa do documentário por meio de passagens de Ziembinski no cinema e na TV. As falas e os gestos dos personagens vividos por ele nos ajudam a entender o homem e o artista.

Esse caminho só se tornou viável graças a uma longa pesquisa em arquivos poloneses, que permitem ver Ziembinski em filmes como “Córka Generala Pankratowa”, de 1934, e “Profesor Wilczur”, de 1938. No Brasil, esse garimpo foi feito principalmente na Cinemateca e no centro de documentação da TV Globo.

Em “Zimba”, Pizzini voltou a trabalhar com antigos parceiros, como Luís Abramo na direção de fotografia, Idê Lacreta na montagem e Livio Tragtenberg na trilha sonora.

Essa turma do cinema se junta para homenagear um homem do teatro. Quando morreu, em 1978, Ziembinski somava mais de cem espetáculos no Brasil como diretor ou ator, além de incontáveis lições para as gerações seguintes.

Zimba

  • Quando Quarta (14), às 21h; quinta (15), às 15h, em sessão seguida de debate
  • Onde Looke
  • Preço Grátis
  • Classificação Livre
  • Produção Brasil, 2021
  • Direção Joel Pizzini
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