Não que houvesse margem para reinvenção nesta premiação do Emmy, dadas as restrições impostas às filmagens pela pandemia de Covid. As raras séries que usaram de engenhosidade para superar a barreira, como a ótima “Calls”, da Apple TV+, porém, ficaram de fora, e a lista repete favoritos de outros anos.
Como tem sido recentemente, a competição de mais alto nível se dá entre séries de temporada única (ou antologias, essas de temporadas desconectadas). Como escolher entre a impecável “Mare of Easttown” e a arrebatadora “I May Destroy You”, ambas da HBO?
Por impacto cultural —e pela grita no ano passado, quando a data-limite para exibição a deixaram fora da disputa—, o drama personalista de Michaela Coel sobre estupro e consentimento merece a estatueta.
“Mare”, aplaudida por crítica e público, ficaria então com o prêmio de melhor atriz da categoria para Kate Winslet, como a policial interiorana que carrega o mundo nos ombros. Coel, em contrapartida, conquistaria as láureas de direção e roteiro.
“WandaVision”, do Disney+, e “Underground Railroad”, da Amazon, são ótimas, num patamar abaixo dessas duas, e “O Gambito da Rainha”, da Netflix, ainda que tenha mérito, poderia ter cedido lugar a “Small Axe”, da BBC e Globoplay —aquela que é provavelmente a produção mais relevante desta temporada foi indicada apenas a melhor fotografia.
Em drama, a disputa se dá entre a quarta temporada de “The Crown” e a de “O Conto da Aia”, pendendo para esta última e seu momento catártico.
Ambas têm neste ano seu recorde de indicações, 24 para o pessoal de Windsor (que já acumula 63 ao longo dos anos, com dez vitórias sem jamais levar melhor drama) e 21 para o de Gilead (que soma 75, com 15 vitórias).
Nada nesse páreo é ruim, mas o favoritismo das duas é inequívoco. Da mesma forma, a escolha de melhor atriz dramática deve recair em Elisabeth Moss, o a June de “O Conto da Aia", ou Olivia Colman, como a rainha Elizabeth em “The Crown”. Uzo Aduba corre por fora com "Em Terapia”, da HBO.
A situação é menos clara no front dramático masculino. Jonathan Majors, de “Lovecraft Country”, é o favorito desta colunista, mas não há risco de injustiça entre os escolhidos.
Na disputa entre os melhores intérpretes em série limitada, contudo, qualquer coisa diferente de premiar Ewan McGregor e sua personificação do estilista americano Halston na minissérie homônima da Netflix deveria dar cadeia.
Num ano que deu pouco motivo para rir, a categoria de comédias é quase envergonhada. Sintomático, a produção mais interessante tem humor quase perverso, “The Flight Attendant”, conto de intriga internacional da HBO Max.
“Hacks”, também da HBO, seria uma alternativa respeitável. Se o total de indicações oferecer algum indício, no entanto, o prêmio fica com “Ted Lasso”, da Apple (20, ao todo, contra 15 de “Hacks” e nove de “Flight Attendant”).
Jean Smart, em fase excepcional com “Hacks” e “Mare of Easttown”, pode levar a estatueta de atriz cômica. Sua maior rival é Kaley-Penny-Cuoco, ótima em “The Flight Attendant”. Tracee Ellis Ross, em “Black-ish”, também mereceria.
Jason Sudeikis, mais conhecido por sua participação longeva no “Saturday Night Live”, parece a barbada da hora como ator cômico por “Ted Lasso”. Anthony Anderson, de “Black-ish”, ou Michael Douglas, que renasceu em “O Método Kominsky”, seriam escolhas melhores.
Entre as plataformas disponíveis no Brasil, a Disney+ estreou bem com as divertidas “The Mandalorian” e “WandaVision”, além de “Hamilton”, e arrebanhou 71 indicações.
A quase nova Apple TV+ somou 35, em linha com os canais abertos americanos, dos quais só a NBC, potência de outrora, se fez notar, com 46 menções. E a Amazon, depois de uma sucessão de escolhas estranhas, minguou das 31 indicações em 2020 para 18 agora.
O prestígio parece estar sobretudo com a HBO e seu braço pop HBO Max, com, respectivamente, 94 e 36 indicações, um salto para 130 contra as 107 obtidas na temporada anterior.
A Netflix, que no ano passado recebeu 160 e neste ano aparece 129 vezes na lista, já não reina absoluta.
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