Descrição de chapéu tecnologia

Ubisoft, do jogo 'Assassin's Creed', lança o seu canal de televisão próprio no Brasil

Multinacional francesa da área dos games investe na convergência e faz aposta nos fãs de tecnologia do país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A multinacional francesa Ubisoft espalha seus jogos por várias plataformas, seja em smartphones, consoles ou computadores, onde der para jogar.

Postura parecida é adotada nos acordos para filmes e séries. Ela está na Netflix com "Assassin’s Creed", na Apple TV+ com "Mythic Quest"e no Prime Video com "Um Lobo Entre Nós". Depois de anos se hospedando nas plataformas alheias, a Ubisoft cria agora um canal próprio no Brasil.

A convergência de televisão com videogame dá mais um passo com a chegada de uma estação proprietária da dona de marcas como "Rainbow Six" e "Just Dance". Gratuita, a emissora explora conteúdo vinculado às marcas da empresa, com e-sports e gameplays de títulos do catálogo da empresa.

Cena de 'Assassin's Creed', filme de 2016 estrelado por Michael Fassbender
Cena de 'Assassin's Creed', filme de 2016 estrelado por Michael Fassbender - Divulgação

O plano é dar autonomia para o canal. Além do caixa da empresa-mãe, estará aberto a publicidade de outras empresas, diz o diretor da Ubisoft para a América Latina, Bertrand Chaverot.

"Eu sou ultraliberal com relação ao conteúdo", afirma. "Zero problemas em ter ‘Fifa’ ou ‘Call of Duty’, o que importa é ter conteúdo bom de jogo bom", diz, lembrando títulos populares publicados por EA e Activision. Segundo ele, a dificuldade de manter um canal de TV próprio pode ser um chamariz para negociações com outras empresas.

O Brasil é o primeiro país a receber a empreitada televisiva da multinacional sediada na França. "Gostamos de testar coisas aqui, é um país fã de tecnologia, games e entretenimento, é o nosso laboratório", conta Chaverot.

Por enquanto, a Ubisoft TV está em fase de teste, sem alarde. Lançado discretamente em novembro, o canal está na grade da Samsung TV Plus, recurso embutido nos televisores smart da fabricante, que lidera o segmento no país e que traz canais por internet. Também estão por lá a Record News, de notícias, Tastemade, de culinária e viagens, e outras dezenas de canais.

Quem hoje sintoniza a Ubisoft TV se depara com uma programação requentada de outras plataformas. Há vídeos de jogos, reações e "faça você mesmo" disponíveis no YouTube da companhia. São peças protagonizadas por youtubers, como Rato Borrachudo e Victor Lamoglia. Também faz parte da grade a animação "Rabbids: A Invasão", que era da Nickelodeon.

O conteúdo da TV não vai atravessar as grandes negociações de cinema da Ubisoft. Hoje os produtores de filmes e séries estão em disputa aberta por propriedade intelectual da cultura geek.

A chegada em 2019 do Disney+, com conteúdo de Marvel e "Star Wars", valorizou adaptações de marcas populares de videogame, quadrinhos, anime e literatura —"Arcane", "Cowboy Bebop" e "Duna" são exemplos recentes. A Ubisoft tem acordo com a Netflix para adaptar para filme os games "The Division" e "Assassin’s Creed".

Voltado a produções análogas a streamings gratuitos como Twitch e YouTube, a Ubisoft TV dá sinais de estar ainda inacabada. A transição entre programas às vezes ocorre com telas estáticas e silenciosas. São alguns segundos, mas no ritmo televisivo parece uma parada brusca.

A partir do começo do ano que vem, a estação estreia para valer. Além da programação linear, oferecerá grade de vídeo sob demanda e conteúdo para ser exibido na tela grande. "Um dos próximos passos vai ser com ‘Rainbow Six’, vamos plugar as finais dos campeonatos em nosso canal", diz Chaverot.

North Star, segunda temporada do Ano 6 de Rainbow Six Siege
'North Star', a segunda temporada do sexto ano de 'Rainbow Six Siege' - Divulgação/Ubisoft

"Tom Clancy’s Rainbow Six Siege", ou simplesmente "R6", é um jogo de tiro tático em equipes, concorrente de "Counter-Strike". Um atrativo para a audiência é que as equipes brasileiras de "R6" têm relevância no cenário global. O Six Invitational, campeonato mais importante do game, que neste ano ocorreu em Paris, teve final brasileira, com vitória de Ninjas in Pyjamas.

Apesar de parecer natural, projetos de videogame na televisão tiveram fôlego curto no Brasil. As primeiras tentativas ocorreram na década de 1990, em programas no Multishow e no SBT.

Uma aposta mais ousada surgiu há um ano com a estreia do canal Loading, do Grupo Kalunga, na faixa em que antes funcionou a MTV. Com programação inteiramente dedicada a games e animes a Loading contava com muitos youtubers para cativar a audiência, assim como a Ubisoft TV.

Em menos de seis meses, porém, a Loading encerrou suas produções inéditas, demitindo a sua equipe. Hoje a Loading apenas reprisa animações japonesas. Veio a público um interesse do grupo da rádio Jovem Pan em assumir a emissora, porém o negócio não foi adiante. Chaverot afirma que seu projeto é diferente da Loading. "Nosso canal é feito com marcas próprias a partir de um ecossistema que já existe. É uma forma de ver bom conteúdo na tela grande e assim agradar a nossos fãs".

A relação do público com a Ubisoft anda tumultuada nos últimos tempos. A empresa acaba de anunciar o Quartz, sistema de itens colecionáveis com NFT —tokens não fungíveis— dentro dos games. O primeiro título a ter Quartz é "Ghost Recon Breakpoint", lançado em 2019. O Brasil está entre os países de teste do novo sistema, que põe número de série únicos em adereços virtuais.

O anúncio se beneficiou da recente decisão do YouTube de ocultar o número de "dislikes", o botão de "não gostei" nos vídeos. Os comentários nos trailers do anúncio e o fato de o vídeo oficial ter sido ocultado do perfil da Ubisoft, porém, indicam que parcela expressiva dos jogadores não simpatizou com o movimento.
"É novo para todo mundo, as pessoas ainda não entenderam como vai ser, é quase como se fosse um presente", afirma Chaverot, numa fala que poderia se aplicar à iniciativa televisiva.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.