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Atriz de 'Maid' não salva filme de Claire Denis com trama dispersa em Cannes

'Stars at Noon' traz Margaret Qualley como jornalista impedida de sair da Nicarágua que se envolve com expatriado misterioso

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Cannes (França)

Os franceses pareciam estar com sorte no Festival de Cannes deste ano. Além de terem uma lista robusta de filmes de nomes consolidados na programação, ainda tinham um júri da Palma de Ouro encabeçado por Vincent Lindon, ator querido no cinema do país. Mas, ao menos na competição, o que trouxeram não animou muito.

Depois de "Frère et Soeur" e "Les Amandiers", "Stars at Noon" ganhou sua gala sob a batuta de Claire Denis, diretora que, pelo histórico, prometia entregar um forte concorrente ao prêmio, que pode ser seu primeiro.

Cena do filme "Stars at Noon", de Claire Denis, que integra a mostra competitiva do Festival de Cannes de 2022
Cena do filme 'Stars at Noon', de Claire Denis, que integra a mostra competitiva do Festival de Cannes de 2022 - Divulgação

Mas o longa, cujo título pode ser traduzido como estrelas ao meio-dia, ficou aquém do que se esperava de alguém já com uma grife consolidada. Denis leva elementos conhecidos de sua obra às telas, mas peca na execução.

Adaptação do livro homônimo de Denis Johnson, o filme tirou seus personagens de 1984 e os trouxe para os tempos atuais. Na Nicarágua, somos apresentados à protagonista de Margaret Qualley, uma jornalista americana que foi ao país escrever sobre sequestros e outros crimes ignorados ou fomentados pelas autoridades.

Justamente por isso, ela acabou tendo seu passaporte retido e seus dólares trocados por uma moeda local de pouco valor, o que a impede de deixar a nação nicaraguense, mergulhada em convulsão política e social às vésperas de uma eleição que a protagonista duvida que irá acontecer.

Ela então conhece um britânico recém-chegado ao país, que se hospeda num hotel de luxo, guarda um revólver na nécessaire e tem um estoque parrudo de dólares. Eles se envolvem e ela se torna alvo de policiais e outras autoridades vilanescas —mas nunca sabemos ao certo o que elas querem ou se há mocinhos nessa história.

O primeiro ato de "Stars at Noon", em que acompanhamos a difícil rotina da protagonista e a observamos se deixando envolver pelo britânico, é simpático. Tão logo o perigo começa a pairar sobre suas cabeças, no entanto, o filme toma outro rumo e se perde dentro da nova relação.

A missão perigosa dele e as intenções dúbias dela se dispersam dentro de seu próprio secretismo, impedindo que o espectador se entregue totalmente àquele romance.

Falta ainda carisma aos personagens de Qualley e Joe Alwyn, apesar de ela fazer um trabalho especialmente bom —este tem sido um ano sem grandes atuações em Cannes, até agora.

E, mais uma vez, Denis apresenta um olhar um tanto colonialista ou imperialista para uma nação dita subdesenvolvida. Não que isso seja um problema em sua obra, que por vezes dispensa essa lógica, mas aqui o trato com a América Central incomoda. Existe uma soberba americana e europeia nos protagonistas, além de imprecisões e generalizações sobre os latino-americanos.

A parte mais interessante de "Stars at Noon" acaba sendo a maneira como a Covid-19 sequestrou a trama. Ela está presente nas máscaras, em avisos de saúde e em pedidos de testes PCR e de comprovantes de vacina, que acompanham os personagens e são incorporados à trama de forma curiosa, sem comprometer o enredo.

Ainda em francês, o belga Lukas Dhont apresentou seu primeiro filme desde "Girl", que venceu em Cannes o prêmio da crítica da mostra Um Certo Olhar, a Câmera de Ouro e a Palma Queer.

Em "Close", ou perto, acompanhamos Léo, um garoto de 13 anos que vive uma amizade intensa com Rémi. Quando ambos passam a frequentar uma nova escola, acabam se separando abruptamente.

cena de filme
Gustav de Waele e Eden Dambrine em cena do filme 'Close', dirigido por Lukas Dhont e exibido no Festival de Cannes de 2022 - Divulgação

Os garotos começam a história vivendo uma relação bonita e pueril. Eles dormem na mesma cama, planejam o futuro juntos e descansam na grama, deitados um sobre a barriga do outro.

Dhont capta com muita sensibilidade e beleza essa amizade, deixando que, aos poucos, temas tão discutidos como masculinidade frágil e homofobia se apossem daquele sentimento tão especial que um nutre pelo outro.

Mas o cineasta belga não precisa citar nominalmente essas questões, nem estampar na testa dos personagens qual é a natureza de sua relação. Eles estão no limiar entre a inocência infantil e a responsabilidade adulta e só querem mesmo aproveitar a companhia um do outro.

O filme concorre à Palma Queer e, portanto, a leitura da trama por uma lente gay é óbvia —mas, ao mesmo tempo, não obrigatória. Não importa o que o espectador queira pensar dos garotos, a verdade é que sua jornada tem força e sensibilidade suficientes para tocar qualquer tipo de plateia.

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