Saiba como MC Bin Laden vai misturar sacanagem e festa junina com Gorillaz

Encontro entre o funkeiro brasileiro e o líder da banda britânica, Damon Albarn, aconteceu em estúdio no Rio de Janeiro

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São Paulo

Há cerca de um ano, MC Bin Laden leu uma entrevista em que Damon Albarn, ex-vocalista do Blur e líder do Gorillaz, disse que tinha interesse em fazer uma música com ele. "A gente tentou entrar em contato na época, e eles também, mas não conseguimos", diz o funkeiro. "Aí recentemente saiu essa mesma história, me marcaram no Twitter e eu fui falar com eles."

O funkeiro brasileiro MC Bin Laden e Damon Albarn, líder do Gorillaz, em estúdio no Rio de Janeiro
O funkeiro brasileiro MC Bin Laden e Damon Albarn, líder do Gorillaz, em estúdio no Rio de Janeiro - Divulgação

A história é que uma página de fãs do Gorillaz, que se apresentou em São Paulo e Curitiba e ainda toca no festival Mita, no Rio de Janeiro, este sábado, divulgou uma conversa entre Albarn e um fã brasileiro. Nessa suposta conversa, o britânico teria reforçado a vontade de gravar músicas com o MC brasileiro.

Bin Laden, muito conhecido pelo hit "Tá Tranquilo Tá Favorável", de cinco anos atrás, mandou uma mensagem no Instagram da banda e acabou gravando duas músicas com Albarn no Rio de Janeiro. O encontro, que durou cerca de cinco horas, aconteceu na última quinta-feira num estúdio que pertence a Dado Villa Lobos, ex-guitarrista do Legião Urbana.

"A gente não falou nada de gravar música, só de se trombar mesmo", diz o brasileiro. "Mas aí foi bizarro, a gente chegou lá, começou a trocar a ideia, a ideia bateu e a gente fez um sonzão. Era para ser um, mas acabamos gravando dois."

Bin Laden conta que Albarn conheceu sua música através de uma indicação do rapper Slowthai, um dos mais destacados nomes do rap britânico na atualidade, e que já gravou com o Gorillaz —banda que despontou nos anos 2000 com integrantes "virtuais", em desenho animado. Havia um tradutor no estúdio para facilitar a comunicação entre o britânico e o brasileiro.

"Ele contou que estava produzindo os beats de um disco novo", diz Bin Laden. "Então, acho que as músicas vão entrar nesse disco, mas não dá para ter certeza. Tomara que seja. Seria uma parada inédita na minha carreira e na minha vida."

Uma das músicas, diz Bin Laden, tem um estilo "good vibes, bem felizona mesmo". "Fizemos uma letra sobre subconsciente, submundo. Eu estava escrevendo e o tradutor viu ele cantar a parte dele ali na hora, e falou, ‘mano, ele ainda nem sabe o que você está falando, mas está cantando o mesmo tema que você’. Bateu muito. Rolou uma conexão. Viajamos no som e ficou muito foda."

O funkeiro conta que Albarn estava fazendo os arranjos no teclado e mexendo nas batidas, em faixas que podem integrar o próximo álbum do Gorillaz. "O mano é foda. Ele mudou toda a métrica do beat em questão de segundos e fez uma parada foda."

Seus versos, ele diz, têm uma pegada de funk underground e uma "brisa mesmo de subconsciente, de mente". "É sobre a gente não saber onde estar, mas estar em vários lugares ao mesmo tempo. A mente está em vários lugares, mas a gente não sai de onde está. É uma história de que colocaram alguma coisa no meu copo e eu não sei onde estou."

A outra música que Bin Laden gravou tem um triângulo, instrumentos brasileiros e uma "pegada de festa junina, só que com muito grave". "Tem uns instrumentos bem raiz mesmo, só que com uns graves batendo, uma melodia por baixo. Não são aqueles bagulhos enjoativos. É bem inovadora. A mente do gringo é muito lá na frente."

Na letra, Bin Laden evoca o funk putaria para contar a história de "uma mina que eu fiquei com a prima dela e ela está querendo me pegar agora". Um dos versos, ele diz, é "ela tá me mamando enquanto eu tô jogando um [jogo de computador] CS Go".

"Ele curtiu. Falou que era esse pique agressivo que ele queria na música. Falou, ‘mano, vai a vera, vamos embora, eu gosto disso, é ser agressivo e ir para cima’. Ele só falou para eu cantar e disse que era isso que ele esperava, um flow agressivo, com firmeza mesmo. Era essa vibe que ele estava esperando no som."

Agora contratado pela GR6, uma das maiores produtoras de funk de São Paulo, Bin Laden prepara novos lançamentos, depois de viver seu auge quando integrava a KL Produtora, há cerca de oito anos. Ele já recebeu atenção internacional antes, no Lollapalooza de 2016, quando foi chamado para cantar "Tá Tranquilo, Tá Favorável" no show do Jack Ü —duo dos superprodutores Skrillex e Diplo.

Bin Laden também já gravou com a estrela em ascensão da música espanhola, C. Tangana, e foi convidado para cantar no Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, num evento de "sons experimentais de diferentes gêneros". Na ocasião, ele foi barrado por não conseguir cumprir todas as exigências do consulado americano a tempo do show.

O funkeiro conta que está em contato com a estrela do pop e da PC Music, Charli XCX, para gravar músicas com ela. Também está tentando estabelecer contato com Slowthai, agora que sabe que o rapper inglês é seu fã.

Segundo Bin Laden, hoje o funk é a música brasileira que desperta a atenção dos artistas internacionais. "Tem muito jogador de nome lá escutando, dançando. Tem o TikTok que tem um alcance mundial, que faz a parada explodir mais. Também tem mais colaborações, como a Anitta. Então tudo favorece para o funk crescer no exterior e ficar mais conhecido."

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