Descrição de chapéu Virada Cultural

Xande de Pilares faz show histórico em dia em que o samba venceu o sertanejo

Além do sambista, Vitão e Thaeme e Thiago se apresentaram no palco Campo Limpo, da Virada Cultural

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São Paulo

A tarde de sábado no Campo Limpo, região do extremo sul de São Paulo, começou com gritos de fãs e coros ensaiados das músicas dos sertanejos Thaeme e Thiago. A dupla foi a escolhida para iniciar as apresentações da Virada Cultural no palco principal da praça Campo Limpo, que também teve Vitão e Xande de Pilares —o palco Rio Diniz fica na outra extremidade da praça Campo Limpo.

Durante os 60 minutos de música sertaneja, a dupla paranaese mostrou que é famosa mesmo na periferia paulistana. O público, que não chegou a encher a praça, cantou de forma enérgica os principais hits da banda, entre eles "O Que Acontece na Balada", do disco "Novos Tempos", de 2014, e "Deserto", do álbum "Perto de Mim", de 2013.

Xande de Pilares se apresenta na praça Campo Limpo, na Virada Cultural 2022, em São Paulo
Xande de Pilares se apresenta na praça Campo Limpo, na Virada Cultural 2022, em São Paulo - Jairo Malta/Folhapress

Na primeira apresentação, o clima era de festa na praça, com carrinhos de pipoca, algodão doce, crianças correndo e caindo a todo momento. Balões infantis luminosos se misturavam à claridade das telas de celulares que o público usava para registrar o show.

Depois de um intervalo de uma hora e após "Ela Partiu" —canção de Tim Maia, tocada por um DJ no intervalo das apresentações e conhecida no meio do rap por ter sido usada como sample da música "Homem na Estrada", do grupo de rap da região Racionais MCs—, Vitão começou sua apresentação, com 40 minutos de atraso e gritos de "começa, começa".

O público foi praticamente o dobro do que foi visto no show dos sertanejos Thaeme e Thiago. A canção "Tá Foda", lançada em 2019, foi a escolhida para começar a apresentação.

Diferente do show sertanejo que teve coro dos fãs do início ao fim, pouco se ouviu do público durante as primeiras canções —o som do palco estava mais alto do que mais cedo, volume que fez parte da plateia reclamar.

"Complicado", canção que Vitão divide com a funkeira Anitta, é um dos pontos altos do show —porém, ao mesmo tempo, os mais velhos que assitem à apresentação, fazem piadas sobre o show e questionam "falta muito pro Xande de Pilares começar?".

Durante cerca de 25 minutos, Vitão para de cantar, pega uma guitarra e transforma o show de rap melódico numa breve apresentação de heavy metal começando um solo de guitarra ao som de "Sweet Child O' Mine", da banda Guns N' Roses, e terminando com a guitarra de joelhos ao estilo Jimi Hendrix.

A música "Café", um dos maiores hits do cantor com 89 milhões de views no Spotify, é a penúltima canção do lineup. Antes de o músico sair do palco, ele puxa o coro de "Andar com Fé", de Gilberto Gil, e comenta que cantar na Virada Cultural era um sonho de infância dele, hoje com 22 anos.

"Sempre assisti a Emicida, Cone Crew Diretoria, Racionais MCs na Virada, isso é um sonho realizado na minha vida", afirma o cantor, que encerrou o show com "Embrasa", canção que divide autoria com o rapper Luccas Carlos.

O público ovacionou Vitão na despedida, mas foi ao delírio quando o nome de Xande de Pilares foi anunciado. Na sequência, gritos de "fora, Bolsonaro" e "Bolsonaro você acabou com a minha vida" foram ouvidos vindos do público.

Enquanto a banda preparava o palco para o sambista Xande de Pilares —escolhido para encerrar as apresentações do dia no Campo Limpo—, parte dos que aguardavam a apresentação já ensaiavam o grito "começa, começa".

Enquanto o samba não começa, uma opção para aliviar a ansiedade são as barraquinhas de alimentação. Os preços têm valor popular. Pastel, cachorro-quente e acarajé são vendidos a R$ 10. Entre as bebidas, o uísque com energético e gelo de coco —bebida comum em bailes funk de São Paulo— cuta R$ 30, e a cerveja, R$ 5.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB, subiu ao palco e, com uma hora de atraso, chamou em contagem regressiva o samba de Xande de Pilares. O sambista foi recebido aos gritos pelo público, que, a essa altura, lotava a praça Campo Limpo, reafirmando que o show era o mais aguardado da noite. O espaço tem capacidade para 8.000 pessoas.

Xande de Pilares se apresenta na praça Campo Limpo, na Virada Cultural 2022 - Jairo Malta/Folhapress

Com uma banda cheia de instrumentos, backing vocals e que ocupa todo o palco, ele iniciou a apresentação com "Samba Bombom". Logo depois, o show foi interrompido por uma falha no som. De terno amarelo e calça branca, Pilares cantou "Tem que Provar que Merece" assim que o som foi restabelecido. Ele é acompanhado pelo público, que canta e samba.

Antes de cantar "Deixa Acontecer" —canção da época que o cantor era do grupo Revelação—, Pilares comenta que não foi a favor de a banda gravar essa música. "Me falaram que eu ia envelhecer tocando essa, e 22 anos depois estou aqui cantando", afirma o sambista.

Pilares comentou que estava impressionado com a quantidade de pessoas. "Dá para gravar um DVD aqui." Na sequência, puxa mais um medley de hits –"Brincadeira Tem Hora", "Faixa Amarela" e "Vai Lá, Vai Lá", todas elas cantadas por quase todo o público.

Sempre antes de um grande hit, Pilares contava um pouco sobre a história da música. Antes de "Coração Radiante" e "Grades do Coração", por exemplo, ele lembrou que as canções foram feitas numa época em que ele era apaixonado por uma vizinha.

É claramente visível como o público se identifica mais com as músicas de Pilares do que com os shows que o antecederam na noite. A cada nota iniciada pelos instrumentos da banda, a plateia já cantava parte da música —momentos que lembram o extinto programa "Qual É a Música", do SBT.

Próximo do fim da apresentação, Xande de Pilares fez uma homenagem a Arlindo Cruz, que sofreu um AVC e ficou impossibilitado de cantar, e chamou à frente do palco Tito, percussionista da banda e que tocou com Cruz, para cantar "Meu Lugar".

Com "Vou Festejar", canção de Beth Carvalho, e "Vou Pedir pra Você Voltar", de Tim Maia, Xande de Pilares encerrou a noite em que o samba se sobressaiu sobre o rock, o rap e o sertanejo. Mas, antes do desligar das luzes, o público voltou a gritar "fora, Bolsonaro".

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