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Cinema

'Eu, Christiane F.' segue duro e difícil de assistir mesmo com David Bowie

Filme de horror do irregular Uli Edel merece ser lembrado por retrato cru e documental de jovem que mergulha nas drogas

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Eu, Christiane F. - 13 Anos, Drogada e Prostituída

  • Quando Estreia nesta quinta (28)
  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Natja Brunckhorst, Eberhard Auriga e Peggy Bussieck
  • Produção Alemanha, 1981
  • Direção Ulrich Edel

O sonho de uma menina de 13 anos é ver um show de David Bowie. Ela frequenta uma casa noturna como se já tivesse 16 anos, e a trilha sonora é sempre a mesma –David Bowie. Ganha de presente de um namorado de sua mãe uma coletânea do –David Bowie.

"Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída", primeiro longa para cinema do diretor alemão Ulrich Edel, realizado em 1981, tem a trilha dominada pelo camaleão britânico, que pouco antes havia encerrado sua célebre "trilogia de Berlim". Na verdade, sabemos pelos créditos finais que a trama do filme se passa em 1977, quando Bowie lançou seus primeiros discos da trilogia, "Low" e "Heroes".

Natja Brunckhorst em cena do filme 'Eu, Christiane F., 13 anos, Drogada e Prostituída'
Natja Brunckhorst em cena do filme 'Eu, Christiane F., 13 anos, Drogada e Prostituída' - Divulgação

O apelo principal desse filme duro e, em certos momentos, difícil de ver, é mostrar como uma menina de classe média, sem problemas familiares graves tirando a separação dos pais, pode ficar viciada em drogas pesadas.

Na verdade, o filme não nos mostra outra alternativa na vida de Christiane. O que não quer dizer que inexista. Em dado momento, por exemplo, a mãe menciona que ela vai se atrasar para a escola.

A opção por mostrar só seu envolvimento com outros adolescentes que se drogam é do livro de Kai Hermann e Horst Rieck, do roteiro de Herman Weigel e da direção de Edel.

E é discutível. Afinal, se soubéssemos de alguma alternativa viável para essa menina, sua descida ao inferno seria ainda mais surpreendente. Mas é essa mesma opção que garante ao filme um tom seco, invernal, sem anestesia. Vemos uma Berlim abandonada, sem esperança. Essa é sua força.

As cenas em que os adolescentes vagueiam como zumbis, com seus braços cheios de picadas e os rostos cadavéricos, lembram as de um outro filme duríssimo realizado naquela chamada nova Hollywood dos anos 1970. É "Os Viciados", de 1971, em que jovens injetam heroína como se não houvesse amanhã. Protagonizado por Al Pacino antes da fama de "O Poderoso Chefão" e dirigido por Jerry Schatzberg, parece ser o filme modelo para "Eu, Christiane F.".

Christiane experimenta drogas porque todo mundo de sua turma também experimenta. Mas principalmente porque o garoto pelo qual se apaixonou se droga. É um típico caso de contaminação social. Não por acaso, logo no início, um de seus amigos alerta "se você tomar, se tornará um zumbi como eu".

Nesse sentido, não é difícil entender "Eu, Christiane F." como um filme de horror, em que a evolução na experiência com drogas leva à heroína, até que todo um determinado grupo social seja transformado pela droga.

Não estamos muito distantes de um David Cronenberg, inclusive na atmosfera pesada e invernal que se assemelha às de Toronto ou Montreal, onde o diretor canadense filmou parte de seus filmes. Mas há uma tendência documental em Ulrich Edel, que podemos ver nas cenas de rua, do metrô e no show de David Bowie, momento em que a protagonista inicia sua perdição.

Edel nasceu em abril de 1947. Seu primeiro curta, "Der Kleine Soldat", é de 1971. Rainer Werner Fassbinder nasceu em maio de 1945 e estreou com um curta em 1966, mas seu primeiro longa, "O Amor é Mais Frio que a Morte", viria já em 1969. Tivesse despontado antes, Edel estaria na chamada geração do cinema novo alemão.

A televisão alemã foi uma importante casa para cineastas nos anos 1970, abrigando ou produzindo filmes de praticamente todos os diretores dessa geração. Foi na TV que Edel exercitou seu estilo, em dois telefilmes do final dos anos 1970.

Com o sucesso internacional de "Eu, Christiane F.", foi trabalhar nos Estados Unidos, onde filmou o interessante "Noites Violentas no Brooklyn", de 1989, antes de ameaçar sua carreira com o terrível "Corpo em Evidência", de 1992, veículo desengonçado para a estrela pop Madonna. Depois disso, continuou mais assíduo na televisão alemã ou na americana, realizando eventualmente filmes para cinema.

É por esse filme alemão duro e cruel do início dos anos 1980, reexibido agora em versão remasterizada, que Ulrich Edel merece ser lembrado.

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