Ativistas e dissidentes responsabilizam Irã pelo ataque a Rushdie

País nunca revogou a fatwa que pedia a morte do escritor anglo-indiano, esfaqueado em evento nos Estados Unidos

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AFP

Defensores da liberdade de expressão e dissidentes acusaram neste sábado (13) as autoridades iranianas de serem moralmente responsáveis ​​pelo ataque a Salman Rushdie, já que o Irã nunca revogou a fatwa emitida pelo líder iraniano Khomeini em 1989, que pedia a morte do escritor anglo-indiano.

"Independentemente de a tentativa de assassinato ter sido ordenada diretamente por Teerã ou não, o que é quase certo é que isso é o resultado de 30 anos de incitação do regime à violência contra esse celebrado autor", disse a União Nacional Pela Democracia no Irã , um grupo de oposição com sede em Washington.

Imagem de arquivo do escritor Salman Rushdie, que foi esfaqueado em Nova York e é perseguido por blasfêmia
Imagem de arquivo do escritor Salman Rushdie, que foi esfaqueado em Nova York e é perseguido por blasfêmia - Joel Saget-10set.2018/AFP

Durante anos, o discurso político do Irã deixou de lado a fatwa emitida por Khomeini na esteira de "Os Versos Satânicos", um romance que rendeu a Rushdie o rótulo de "apóstata" na República Islâmica.

No entanto, o sucessor de Khomeini, o líder supremo Ali Khamenei, fez saber nos últimos anos que a ordem continua em vigor.

Em fevereiro de 2017, uma resposta a uma pergunta no site oficial do guia supremo, khamenei.ir, afirmou que a fatwa ainda era válida. "Resposta: o decreto permanece como foi emitido pelo imã Khomeini", dizia a mensagem.

Da mesma forma, o perfil no Twitter do guia supremo indicou em 2019 que a fatwa era "sólida e irrevogável".

Defensores da liberdade de expressão acrescentam que uma recompensa de mais de US$ 3 milhões, ou cerca de R$ 15 milhões, pela cabeça de Rushdie, oferecida por uma fundação iraniana, também permanece em vigor.

"Ali Khamenei e outros líderes do regime clerical sempre prometeram cumprir essa fatwa anti-islâmica nos últimos 34 anos", acrescentou o Conselho Nacional de Resistência do Irã, outro grupo de oposição proibido no Irã.

O esfaqueamento de Rushdie em um evento público no estado de Nova York nesta sexta, 12, no entanto, ocorre em um momento diplomático sensível para o Irã, que está considerando uma oferta de várias potências para ressuscitar o acordo de 2015 sobre seu programa nuclear. Tal cenário aliviaria as sanções que pesam sobre a economia iraniana.

A polícia do estado de Nova York deteve e identificou o agressor como Hadi Matar, de 24 anos, afirmando que o motivo do ataque é desconhecido até o momento.

Vários comentaristas apontaram para uma conta no Facebook de um homem chamado Hadi Matar, repleta de imagens de líderes iranianos. A conta foi desativada horas após a agressão, e até o momento não foi confirmado que ela pertencia ao suspeito.

Hadi Matar, acusado de esfaquear o escritor anglo-indiano Salman Rushdie
Hadi Matar, acusado de esfaquear o escritor anglo-indiano Salman Rushdie - Cadeia de Chautauqua via REUTERS

Uma fonte próxima à investigação disse ao canal NBC que Matar "simpatiza com o extremismo xiita e os Guardiões da Revolução", sem que haja evidências conclusivas de uma relação entre o suposto agressor e aquela força iraniana.

"Esta é a verdadeira República Islâmica; você negocia com tal regime e permite que seus apoiadores e lobistas entrem em sua sociedade. Dá para entender como nos sentimos como reféns deste regime?" Hossein Ronaghi, defensor da liberdade de expressão e um dos críticos mais ferrenhos da liderança iraniana dentro do país perguntou no Twitter após o ataque a Rushdie.

As ações do Irã estão sendo acompanhadas de perto por Washington, que, nas últimas semanas, acusou Teerã de elaborar um plano para assassinar o ex-conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, e também a dissidente iraniana Masih Alinejad, que vive nos Estados Unidos.

As autoridades iranianas, por sua vez, não fizeram comentários oficiais até agora. Mohammad Marandi, assessor da equipe que negocia o programa nuclear, escreveu no Twitter que, embora "não derrame lágrimas" por Rushdie, o ocorrido "é estranho" em tempos decisivos para a crise em torno dessas negociações.

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