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'Multiversus' põe LeBron James e Salsicha para lutar com super-heróis

Warner mistura personagens da DC com 'Game of Thrones' em dinâmica de crossover de games como 'Super Smash Bros.'

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A Arlequina, inimiga do Batman, é mais forte que Arya Stark, de "Game of Thrones"? E se LeBron James, astro da NBA, brigasse com o Salsicha do "Scooby-Doo"?

Responder questões estapafúrdias envolvendo pancadas entre figuras aleatórias é a proposta de "Multiversus", game que amealhou 20 milhões de usuários em menos de um mês —audiência similar ao início de "Fortnite".

Imagem de divulgação do game 'Multiversus', em que o elenco da Warner sai na porrada
Imagem de divulgação do game 'Multiversus', em que o elenco da Warner sai na porrada - Divulgação

Mesmo durante a fase beta, "Multiversus" liderou o ranking de vendas da NPD nos Estados Unidos, desbancando "Elden Ring".

A espinha dorsal do título é o crossover, a justaposição de universos ficcionais distintos. Seja um personagem de drama ou comédia, "Multiversus" passa um filtro cartunesco à Looney Tunes em quem entra no caldeirão.

Não que o crossover seja uma novidade. Dá para dizer que o recurso é usado desde a mitologia grega. O Hércules dos 12 trabalhos fez uma ponta na saga dos argonautas.

Outro exemplo antigo de crossover se dá com Cervantes, que importou as versões ilegítimas de seu "Dom Quixote" ao próprio livro.

O crossover contemporâneo foi moldado por Stan Lee, criador de inúmeros heróis da Marvel. Se um monstro atacasse Nova York na revista do Quarteto Fantástico, as repercussões chegavam às histórias do Homem-Aranha. Para acompanhar a narrativa completa, era necessário ler ambos os gibis.

Isso sem contar as eventuais brigas entre heróis superpoderosos. Qualquer desculpa furreca vale. Dava até para chamar encapuzados da concorrente DC, tudo pelo "amor aos quadrinhos", é claro —de olho no lado financeiro.

Os espectadores de cinema conhecem esse motor. O esquema é hoje usado à exaustão nos filmes da própria Marvel, hoje uma propriedade da Disney.

A obsessão da indústria cultural contemporânea por marcas famosas, as chamadas propriedades intelectuais, incubou games como "Multiversus", título que provavelmente passaria batido se não fosse pelo uso das joias do catálogo da Warner, a dona do jogo.

O game é gratuito para jogar. O título gera dinheiro com a venda de cosméticos que não influem na competitividade, como roupas ou vozes de locutores.

Não que o modelo "free to play" seja garantia de êxito. "Marvel Heroes", "Gears Pop", "Hyper Scape" e "Crucible" são algumas figurinhas do álbum de fiascos recentes. Jogos online competitivos precisam manter o interesse do público e as propriedades intelectuais são um atalho para isso.

Para sustentar "Multiversus", a desenvolvedora Player First Games faz anúncios constantes de novos participantes de sua arena insana. Rick e Morty, da animação homônima, e Gizmo, do filme oitentista "Gremlins", foram algumas adições.

Perdura a expectativa. Qualquer coisa da HBO Max pode eventualmente entrar no jogo –Rachel de "Friends", talvez?

Diante de "Fortnite", que trouxe conteúdo de "Dragon Ball", "Chapolin" e "John Wick", e "Free Fire", com uma parceria com a Carreta Furacão, o sopão da Warner soa natural.

A principal inspiração para "Multiversus", no entanto, vem de "Super Smash Bros.", outra mistureba. Criação da Nintendo, o jogo surgiu no final dos anos 1990, época em que o gênero de luta inovava para manter a popularidade. Entre os destaques do período estavam as séries "Marvel vs. Capcom" e "King of Fighters", também baseadas em crossover.

Nos computadores se disseminava o Mugen, ferramenta de criação de games de porrada apócrifos. Com a liberdade sem direito autoral das fan fics, qualquer um poderia entrar na porrada. O que parecia um devaneio de entusiastas hoje é trivialidade oficial.

Era esperado que a Nintendo misturasse seus heróis em um jogo de luta tradicional, em que ganha quem nocautear o oponente. O conceito é fácil de entender, porém violento demais para a casa do Mario.

Para driblar a agressividade, o objetivo de "Smash" é empurrar o adversário para fora do cenário. Quem apanha é mais propenso a voar longe. Assim, ficou mais palatável fazer o Pokémon Pikachu descer o sarrafo na Samus de "Metroid".

O mais recente volume da franquia é "Smash Bros. Ultimate", de 2018. É uma grande produção recheada de conteúdo, com dezenas de batalhadores, mais de uma centena de cenários, campanha que rende dezenas de horas e mais de 700 músicas. Vendeu mais de 28 milhões de cópias, segundo a Nintendo.

Com uma certa tendência à autorreferência, a Nintendo erigiu uma monumental homenagem ao videogame. Com participações que vão de "Minecraft" a "Final Fantasy 7", as adaptações tinham esmero e respeito. Novos personagens eram aguardados e comemorados feito Copa do Mundo.

A chama de "Smash Ultimate" foi apagada em outubro do ano passado. Quem encerrou o ciclo foi Sora, de "Kingdom Hearts", game que faz um crossover de personagens da Disney com os da desenvolvedora japonesa Square. Sim, um personagem de um crossover foi parar em outro crossover.

Sem "Smash", ficou um vácuo. "Multiversus" copiou, mas não fez igual. Em termos de produção, o game da Warner é menor. A fita se compromete a entregar bem disputas de duplas online e só. São apenas cinco cenários, sempre com as mesmas músicas, e elenco com pouco mais de 20 opções —pelo menos, até o momento.

Uma pista do futuro de "Multiversus" foi dada com a vinda de Adão Negro, da DC, para o jogo. O vilão não consta entre os mais populares do panteão de Aquaman, Cyborg, Flash, Lex Luthor e Batgirl.

O fato de haver um longa-metragem com o ator Dwayne Johnson influenciou na escolha, afinal, a Warner é em essência um estúdio de cinema.

A mestiçagem de mídias agora vai além de uma ferramenta de marketing, passa também a alterar o desenvolvimento dos games. Com uma proposta aparentemente rasa, "Multiversus" testa uma nova fronteira da indústria do entretenimento.

Multiversus

  • Onde PC, PlayStation e Xbox
  • Preço Grátis (compras opcionais dentro do jogo)
  • Classificação 10 anos
  • Desenvolvimento Player First Games
  • Publisher Warner Bros. Interactive Entertainment
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