Rappers comemoram derrota de Bolsonaro e levam política ao Primavera Sound

Neymar e bolsonarista que se pendurou em caminhão ainda foram motivos de piada em shows de Tasha e Tracie e Badsista

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São Paulo

A primeira edição do Primavera Sound no Brasil, ocorrida neste fim de semana, não chegou a ter o mesmo fervor político que os últimos Lollapalooza e Rock in Rio, mas contou com algumas manifestações tanto do público quanto dos artistas. Foram os rappers, sobretudo, que fizeram referências à eleição presidencial deste ano.

Primeira apresentação desse gênero no evento, a dupla Tasha e Tracie fez um comentário ácido em provável referência a Neymar, jogador bolsonarista. Tracie celebrou a Copa do Mundo, ressaltando que, às vezes, torce para que certos atletas se machuquem.

O rapper L7nnon se apresenta no palco Primavera, durante o Primavera Sound - Adriano Vizoni/Folhapress

As gêmeas enalteceram mulheres negras e envolveram o público, com canções como "Amarrou" e "Pisando Fofo". As artistas subiram ao palco vestidas com blusões, que logo foram ao chão enquanto cantavam o verso "respeita minha boceta", de "Cachorraz Kamikase".

À noite, L7nnon, o rapper carioca dos hits "Desenrola Bate Joga de Ladin", "Freio da Blazer" e "Ai Preto", encerrou as apresentações do palco Beck's e fez um discurso que acena à polarização política do Brasil.

"Neste momento em que o país está tão dividido, ame mais", afirmou, sem se estender. O músico contou com um público modesto, apesar de animado.

L7nnon disse que estava com medo de se apresentar no festival porque, devido ao horário no qual foi escalado, imaginou que pudesse não ter muita gente para prestigiar. "Provavelmente, muitos de vocês não me conhecem", falou, se referindo à diferença entre ele e os artistas alternativos que dominaram o evento. "Mas estou me sentindo em casa."

Numa celebração às vidas negras, L7 exibiu um vídeo, nos telões, com imagens de crianças negras vítimas de bala perdida. Além dos seus três hits já citados, o rapper cantou músicas como "Realengo Freestyle", "HB20", "Perdição" e "Gratidão".

No domingo, foi a vez do cearense Don L levar rap ao festival. O artista se apresentou no Elo, a partir das 16h20, e cantou músicas como "Vila Rica", "A Todo Vapor", "Pânico de Nada", "Cocaína" e "Bingo".

Um dos destaques de seu show foi Thiago França, que fez belos solos de saxofone e foi ovacionado pelos fãs do rapper. O instrumentista usou um boné do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Referências políticas também surgiram em algumas falas de Don L e Terra Preta, com quem ele dividiu o microfone. Aos risos, o cearense falou que era preciso unir a luta de classes ao tesão. Também afirmou que há muita luta pela frente, mas, agora, é hora de celebrar o que chamou de felicidade dos brasileiros.

"A gente foi campeão. Tiramos aquele verme de lá", disse Terra Preta, em referência à derrota de Jair Bolsonaro na eleição presidencial deste ano. O momento foi de aplausos no público. Don L ainda puxou um coro de "lutar, criar, poder popular" —dizeres que estampavam uma bandeira erguida por fãs.

Encerrando as apresentações do Elo, a funkeira MC Dricka também politizou seu show. A cantora celebrou a vitória do petista Lula e incentivou o público a fazer um "L" com as mãos. "Fomos campeões nessa porra. Agora, só falta ganhar o hexa", gritou Dricka.

Um dos momentos mais eletrizantes do show foi quando ela convidou a artista venezuelana Arca —que havia tocado no mesmo palco, horas antes— para rebolar ao seu lado. Dricka também chamou algumas fãs e cantou batidões como "De 38 Carregado", "Como Cê Tá Maravilhosa" e "Vai Passar Nervoso".

Outra pessoa a levar uma veia política ao festival foi a DJ Badsista. Zombando dos atos golpistas que tomaram o país nos últimos dias, ela exibiu imagens de pessoas vestidas com a camiseta do Brasil e do homem que se pendurou num caminhão.

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