Arata Isozaki, japonês que venceu o prêmio de arquitetura Pritzker em 2019, morreu nesta quarta-feira de causas naturais. O arquiteto tinha 91 anos e estava na sua casa em Okinawa, no sul do Japão, segundo o comunicado público emitido pela mulher Misa Shin.
Reconhecido como mestre e pensador da arquitetura japonesa, Isozaki se destacou desde os anos 1960, não apenas por seus projetos construídos, como também por sua obra teórica sobre intersecções da tradição budista e xintoísta com o pensamento moderno ocidental.
Foi o oitavo japonês a receber o Pritzker, apelidado de Nobel da arquitetura. O prêmio, o maior reconhecimento para um arquiteto, é entregue desde 1979 a profissionais vivos pelo conjunto de sua obra.
Em sua justificativa, o comitê do Pritzker disse que Isozaki era considerado um visionário entre seus pares, aclamado pelo seu comprometimento com a arte do espaço. Segundo o anúncio de 2019, Isozaki "vai além da estrutura da arquitetura e levanta questões que transcendem eras e fronteiras".
Isozaki teve como professor Kenzo Tange, que participou da reconstrução de Hiroshima depois de a cidade japonesa ser destruída pela bomba atômica em 1945. Tange pôs o Japão no mapa do modernismo arquitetônico e se tornou o primeiro arquiteto japonês a receber o Pritzker, em 1987.
Nessa parceria, Isozaki participou do plano para a baía de Tóquio em 1960. A ideia era expandir a cidade sobre o mar, por meio estruturas de transporte rápido e edifícios que abrigassem milhares de pessoas.
Desde 1963, Isozaki tinha seu próprio escritório no Japão. Entre suas primeiras obras de destaque está a biblioteca, hoje chamada Praça de Artes de Oita, sua cidade natal. Essa obra garantiu a ele o prêmio anual dado pelo Instituto de Arquitetos do Japão em 1967.
A carreira internacional do arquiteto se iniciou a partir de 1980. "Queria ver o mundo com meus olhos, então cruzei o globo ao menos dez vezes antes dos 30 anos", recordou o arquiteto, em texto divulgado pelo Pritzker em 2019. "Perseguia as oportunidades de fazer isso e, assim, continuava me perguntando ‘o que é arquitetura?’."
Sua primeira obra no exterior foi o MoCA, o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles, construído entre 1981 e 1986. No centro da metrópole californiana, nos Estados Unidos, o museu tem entrada com pátio descoberto, com blocos revestidos de granito na cor vermelha.
Ele também participou da preparação de Barcelona para receber os Jogos Olímpicos de 1992, projetando o ginásio de Montjuic, o Palau Sant Jordi, que recebeu as competições de ginástica, handball e vôlei. O espaço conta com uma cobertura de metal de alta complexidade, com proteção de calor e de som.
Hoje, o arquiteto tem obras em mais de dez países, tão diversas quanto o Palácio do Centenário de Nara, no Japão, uma construção que evoca uma técnica tradicional de telhados japoneses.
Um dos seus designs para o Oriente Médio foi o Centro de Convenções do Qatar, na capital Doha, onde estruturas parecidas com as árvores suportam o prédio.
Apesar de não aderir formalmente ao movimento que ficou conhecido como metabolismo —grupo de jovens arquitetos japoneses que, entre 1960 e 1980, dizia ser o último a mudar a arquitetura—, Isozaki colaborou com a dinâmica do movimento. Nessa linha, projetou uma cidade que se expandia pela atmosfera como árvores de pedra.
O desapego em relação aos cânones da arquitetura marcou suas obras. "A mudança se tornaria meu estilo", dizia. Ele sintetizou sua linguagem arquitetônica nos livros "Japan-ness in Architecture", lançado pela MIT Press, e "Katsura Villa: Space and Form", publicado pela editora Rizzoli em 1987.
Entre suas obras mais recentes estão a sala da orquestra sinfônica de Xangai, na China, que foi feita de madeira em 2014, e a Allianz Tower em Milão, na Itália, no mesmo ano.
Embora não tenha trabalhado no Brasil, Isozaki fez um projeto para o edifício do MAC, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na capital paulista, mas o concurso, feito em 2001, preferiu o trabalho do suíço Bernard Tschumi, que jamais saiu do papel.
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