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Televisão

Casamento às Cegas quer vender o amor ideal, mas casais só buscam fama

Participantes aceitam experimento estapafúrdio da Netflix com mais vontade de virar influenciador do que se apaixonar

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São Paulo

As redes sociais estão arruinando os reality shows. Pessoas que entram em programas como o BBB e A Fazenda agora pouco se importam com o milhão que cai na conta bancária do vencedor –seu interesse mesmo são os milhões de seguidores que ganham nas redes sociais.

Agora a mesma maldição parece cobrir Casamento às Cegas Brasil, reality da Netflix cuja segunda temporada ganhou seus últimos capítulos nesta quarta-feira.

Verônica Brito em cena da segunda temporada de Casamento às Cegas Brasil, reality show da Netflix
Verônica Brito em cena da segunda temporada de Casamento às Cegas Brasil, reality show da Netflix - Helena Yoshioka/Divulgação

No programa, homens e mulheres são levados a um experimento que supostamente provaria a possibilidade de se apaixonar por alguém que você nunca viu. O problema é que quase nenhum dos participantes parece acreditar na proposta estapafúrdia. O que eles querem mesmo é ficar famosos.

Casamento às Cegas não alcança a multidão de espectadores do BBB, é claro, mas vem gerando burburinho nas redes sociais desde que estreou no mês passado. A Netflix lançou os dez capítulos em três levas diferentes na tentativa de esticar a discussão e prender o interesse do público.

Só dá para descobrir quem casa ou não no último episódio. Até lá, é preciso vê-los conversando sem se ver em cabines, depois se aventurando numa espécie de lua de mel e, em seguida, dividindo a rotina num apartamento.

Sem dar muitos spoilers, poucos disseram sim no altar desta vez —e mesmo os que aceitaram não parecem estar firmes da decisão. Um dos casais, aliás, decide se separar antes mesmo da chegada do grande dia. A sensação que fica no final da temporada é que não, o tal experimento proposto pela Netflix não tem a menor chance de dar certo.

É parecido com o que aconteceu na primeira temporada. Só dois casais quiseram casar, e até eles já se separaram. A maioria dos participantes aproveitou a onda de fama e trabalha hoje como influenciadores digitais depois de ganhar centenas de milhares de seguidores.

O programa, no fim das contas, não serviu para seu propósito, mas deu fama e dinheiro a quem participou. Azar no amor, sorte no trabalho.

A Netflix tenta fazer parecer que de fato é possível encontrar uma alma gêmea sem nunca tê-la visto. O problema é que as cenas às vezes parecem roteirizadas, montadas e plásticas. As supostas discussões dificilmente soam verdadeiras. Nos depoimentos, os participantes são tão exageradamente desenvoltos que ficam mais parecendo atores do que pessoas anônimas.

Programas desse tipo são vitrines para as mais cobiçadas marcas do mercado publicitário. Basta rodar no feed do Instagram de alguns dos participantes para ver publicações patrocinadas por empresas como Hershey’s, Comfort, Wella e Blaze.

A fama dada pelo programa pode até ser potencializada por outra plataforma. Shayan Haghbin, um dos homens da primeira temporada, foi alçado à Fazenda no ano passado mesmo tendo sido taxado de macho escroto pelos canceladores da internet. Hudson Mendes, por sua vez, criou uma conta no site OnlyFans para ganhar dinheiro com fotos eróticas.

A segunda temporada terá um episódio de reencontro, a ser lançado no próximo dia 1º, em que um dos casais pode revelar que o amor não resistiu à passagem dos meses. Isso, aliás, aconteceu na edição passada. A proposta do reality é nobre, mas falha.

É, no fim das contas, um besteirol como qualquer outro lançado aos montes no streaming.

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