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Deize Tigrona canta o prazer feminino no Carnaval do Recife e cora bochechas

Cantora se apresentou no Festival Rec-Beat e falou do funk enquanto cultura afro-futurista e dos obstáculos da carreira

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Recife

A cantora Deize Tigrona deixou os seguranças do palco do Rec-Beat com as bochechas coradas. Uma das primeiras mulheres a cantar o prazer feminino no funk, Tigrona se apresentou na 27ª edição do festival diferentão, que acontece durante o Carnaval do Recife, no Cais da Alfândega, às margens do rio Capibaribe.

A cantora Deize Tigrona se apresenta no festival Recbeat, durante o Carnaval do Recife de 2023
A cantora Deize Tigrona se apresenta no festival Recbeat, durante o Carnaval do Recife de 2023 - Hannah Carvalho/Divulgação

Sabendo que boa música não é cantada apenas em língua inglesa, o Rec-Beat aposta em artistas do mundo todo, explorando diferentes culturas e sonoridades. Neste ano, por exemplo, foram convidados a cantora Djely Tapa, do Mali, e Purahéi Soul, dupla do Paraguai, formada por Miguel Narvaez e Jennifer Hicks. Nesse sentido, o objetivo do festival é identificar tendências do mundo da música.

"O funk é uma cultura afrofuturista, vem realmente de favela, lugar que ainda é problema social, mas que faz a roda do capitalismo girar, para dentro e fora da comunidade, seja com a nossa arte ou nosso conhecimento, instrumentos que movimentam o mundo", diz Tigrona, bebendo uma cerveja em seu camarim, pouco antes de subir ao palco.

Em sua apresentação, Tigrona cantou o sucesso "Injeção", de 2004, produzido por DJ Marlboro, que a tornou conhecida até no exterior. Mixada pelo americano Diplo, a música foi sampleada pela cantora M.I.A. em seu single "Bucky Done Gun", lançado no ano seguinte.

Em 2009, Tigrona caiu em depressão, largou a carreira musical e trabalhou como gari nas ruas do Rio de Janeiro. Em 2020, ela chegou a passar um tempo vivendo no Recife e em Olinda, numa "vida de mochileira", como ela diz. Por isso, retornar à capital pernambucana, agora cantando, é um momento todo especial.

Com o disco "Foi Eu Que Fiz", do ano passado, Tigrona voltou ao mercado, se consolidando também no circuito dos novos festivais. "Hoje eu entendo o motivo para a minha depressão", ela conta. "Era mãe, estava adotando uma criança, tinha 1 milhão de shows na Europa, era uma correria muito grande."

Nesse novo álbum, a cantora se vale da linguagem explícita em faixas com "Bondage" ou "Ibiza", ambas interpretadas no show do Rec-Beat. Uma atração à parte, o intérprete de Libras teve de se virar para traduzir tudo o que estava sendo cantado.

Segundo ela, a opção por falar de sexo abertamente é também uma forma de gerar uma reação catártica no público, o que ela mesmo, do palco, aprecia. "Não há tanta resistência, mas ainda há os olhares tortos", afirma. "Sempre quis ser artista. Eu experimento, essa linguagem cria uma emoção entre artista e o público, eu sei que eles vão vibrar."

Tigrona transita por diferentes manifestações culturais. Como influência, ela cita o audiovisual. Dizia assistir às minisséries "Engraçadinha: Seus Amores e Seus Pecados", de 1995, e "Hilda Furacão", de 1998, três anos depois.

Nas artes plásticas, Tigrona participou, no ano passado, da mostra "Vazar o Invisível", no espaço OM.art, no Rio de Janeiro, elaborando a instalação "Livro de Pau", em que conta passagens da própria história. Em breve, a artista deve lançar sua autobiografia, ainda sem previsão de data. Ela conta preferir ir com calma, porque o processo de escrita tem despertado alguns episódios difíceis do passado.

Como na faixa "Sururu das Meninas", em que trata do amor entre mulheres, Tigrona tenta antecipar as tendências de comportamento da sociedade, misturando as linguagens. "O futuro é promissor, eu canto pela liberdade, canto para viver", diz.

O jornalista viajou a convite da Secretaria Municipal de Cultura do Recife

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