Conheça Chvrches, banda de pop retrofuturista que abre os shows do Coldplay

Trio escocês confronta misoginia com música sombria e descendente do rock alternativo inglês dos anos 1980

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Chvrches Ale Frata/Live Images

São Paulo

"Ele disse ‘você precisa se alimentar’/ ‘mas mantenha a boa forma’ e ‘fique bonita, mas não se obceque’", canta Lauren Mayberry, vocalista da banda Chvrches, na canção "He Said She Said".

A música tem vocação para cobrir todo um estádio com sua sonoridade glacial e uma letra grudenta —no melhor sentido dessa expressão.

Não à toa, o trio de synthpop formado em Glasgow, na Escócia, que está completando uma década de existência, se diz satisfeito e grato pela tarefa de abrir os shows do Coldplay no Brasil, para manter a energia da plateia lá em cima antes de Chris Martin e companhia subirem ao palco.

O trio escocês Chvrches
Da esq. para a dir., os membros da banda Chvrches: Martin Doherty, Lauren Mayberry e Iain Cook - Divulgação

Segundo Mayberry, o Coldplay foi generoso por conceder ao Chvrches —maneira estilizada de escrever "churches", ou igrejas— 45 minutos para a banda mostrar a que veio a um público que muito provavelmente não a conhece.

A quantidade de tempo é limitada, é claro, mas eles conhecem o território em que estão pisando. "É como fazer uma mixtape para outra pessoa", diz a vocalista e compositora, se referindo à antiga prática de fazer uma curadoria musical em fita para dar de presente a alguém. "Você faz mixtapes diferentes para pessoas diferentes."

O Chvrches sabe bem para quem estão fazendo a tal curadoria, como mostra "He Said She Said", um dos hits do quarto e mais recente álbum, "Screen Violence", de 2021.

Além da inconfundível mensagem de confronto à misoginia, é impossível ouvir a banda e não reconhecer as suas raízes, que eles poderão exibir em mais detalhes nos shows solo neste mês em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O grupo ecoa a atmosfera sombria e carregada de sintetizadores dos anos 1980, de nomes como Depeche Mode —para a qual o Chvrches já abriu shows no início da carreira—, The Cure e New Order. O som também remete ao dream pop de Cocteau Twins, Curve e Lush —exemplos de vozes femininas à frente de canções raivosas e gélidas.

Esse é o caldo em que o Chvrches se inspira, diz Martin Doherty, o terço da banda responsável por tocar baixo, guitarra e teclado. "Amo Cocteau Twins e estou aberto para canalizar outras influências, mas usamos técnicas modernas para criar um som futurista. Não científico, mas que mire para a frente."

Iain Cook, o outro músico do trio, diz que eles seguem o próprio gosto a despeito das influências. "Não pensamos muito a respeito de seguir tradições", afirma. "Seguimos o nosso gosto e o que queremos dizer. Temos essas influências, mas nosso foco é fazer a nossa música sem se preocupar tanto com isso."

O Chvrches teve a chance de se aproximar de um de seus ascendentes ao colaborar com Robert Smith, vocalista da banda The Cure. "Diga-me como/ é melhor quando o Sol se põe/ nós nunca vamos escapar dessa cidade", Mayberry e Smith cantam em uníssono em "How Not to Drown".

Outra influência da banda, em especial em "Screen Violence", é o cinema de terror. John Carpenter, o diretor que inovou o gênero com a franquia "Halloween", fez um remix da faixa "Good Girls", que remete à "final girl", a protagonista feminina de slashers que sobrevive ao banho de sangue e se tornou um arquétipo depois de "Halloween", de 1978.

Além de cineasta, Carpenter é músico —e, em troca, o Chvrches fez um remix de "Turning the Bones", single de um álbum do diretor

"O cinema de terror tem trilhas sonoras incríveis, e elas são uma parte importante da história", diz Mayberry. "No que se refere às nossas letras, o gênero se tornou uma lente para contarmos histórias pessoais sobre coisas terríveis."

Como "Screen Violence" sugere logo no título, o álbum trata de horrores da vida real —a violência nas telas do dia a dia, a desagregação emocional e o isolamento social causado pela pandemia, contexto em que o disco foi feito, com os integrantes espalhados por diferentes países.

"As músicas são autônomas em relação ao nosso cânone. Fomos cuidados para não irmos tão a fundo assim com o gênero", afirma Iain Cook.

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