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Série sobre Nacho Vidal faz ode a pênis de 25 cm em história sobre astro do pornô

Produção recheada de sexo que carrega o nome do ator, do Lionsgate+, quer humanizar figuras da indústria

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São Paulo

Besuntado, o torso reflete as luzes coloridas da boate, numa dança que dispara feixes em direção aos homens e mulheres que acompanham a performance de alta voltagem sexual. Quase nu, Martiño Rivas rebola, passeia com as mãos pelo corpo e faz cara de mau, enfeitiçando boa parte dos personagens ao longo dos oito episódios de "Nacho".

Martiño Rivas em cena da série "Nacho", do Lionsgate+
Martiño Rivas em cena da série "Nacho", do Lionsgate+ - Manuel Fernandez-Valdes/Divulgação

Não é à toa. A nova série do Lionsgate+, parte de um esforço colossal do streaming para produzir tramas em língua espanhola, quer escandalizar o público com a história de um dos nomes mais buscados do submundo da internet, o bem-dotado astro da pornografia espanhola Nacho Vidal.

O ator, de 49 anos, é em seu país de origem uma celebridade, conhecida por aqueles que assistiam aos seus vídeos e também pelos conservadores. É uma espécie de Alexandre Frota espanhol, que não enveredou para a política, mas acumulou uma bagagem de polêmicas com direito até a acusação de homicídio culposo num ritual envolvendo um sapo venenoso.

"Estou em preparação para este trabalho desde os meus 11 ou 12 anos de idade", brinca Rivas, dando a ampla dimensão de Nacho Vidal na Espanha. "Quando criança, via alguns filmes dele, assim como a maioria dos meus amigos. Foi minha introdução ao mundo do pornô, que muita gente consome, apesar da hipocrisia que isso desperta."

É na vida pregressa do astro, no trajeto percorrido até alcançar tal status, no entanto, que "Nacho" se concentra. O primeiro episódio começa narrando sua infância e a adolescência embalada por drogas e álcool. À noite, ele caçava mulheres em boates. De dia, ganhava dinheiro fazendo o que mais gosta, transando –no caso, com mulheres mais velhas e ricas.

Ele se alista, contra a sua vontade, e após a temporada no Exército engata um romance com uma moça que o convence a usar seu talento para enriquecer. O talento é um pênis não apenas longo, mas grosso, que chama a atenção dos donos de uma boate de shows eróticos e, depois, de figurões da indústria de filmes adultos.

"Este é um sujeito que decidiu viver sua vida no limite e que era muito magnético. Sua história é como a de ‘Billy Elliot’, só que em vez de contrariar expectativas e a vontade dos pais por querer dançar, ele queria transar", diz a produtora Teresa Fernández-Valdés, comparando sua obra ao filme de Stephen Daldry e costurando "Boogie Nights: Prazer Sem Limites", de Paul Thomas Anderson, na fila de influências.

Sua vontade era investigar as figuras por trás do pornô, uma indústria que movimenta milhões, é consumida em larga escala e ainda é pouco discutida por causa do enorme preconceito que a ronda. Atuar nessas cenas quentes é como qualquer trabalho de ator, ela frisa, contando ainda que teve dificuldade em ter o projeto aprovado, enquanto uma série anterior, sobre narcotráfico, este sim ilegal, não encontrou barreiras.

Apesar do discurso bonito e da busca por temas universalmente humanos, "Nacho" tem, claro, uma dose de sexo gigantesca. O episódio inaugural pode até causar ansiedade naquele espectador que só está ali em busca de algo além das manjadas sequências mecânicas e pouco explícitas de transa que invadiram o streaming.

As mais variadas posições do Kama Sutra se alternam com peitos e bundas, onipresentes no cinema e na televisão, nunca mostrando o dito-cujo de Nacho Vidal, mencionado a toda hora. Até que o finzinho do capítulo alcança o clímax com um avantajado pênis ereto ocupando toda a tela, delineado por uma luz branca e etérea que o torna objeto de adoração. E não é de borracha, como costuma acontecer em Hollywood. É do próprio astro, consultor criativo da série que o emprestou para a cena.

Não é nudez gratuita, defende Fernández-Valdés, que teve que brigar muito para manter o momento de grande revelação na série. Além de sentir necessidade de naturalizar o corpo masculino numa indústria que explora o feminino sem pudores, ela sabia que os 25 centímetros eram essenciais para entender a história do protagonista. "Sua vida e sua fama são baseadas em seu pênis", afirma, emendando que nenhuma prótese ou dublê de corpo daria a dimensão da ferramenta.

Isso fica claro em cada frase do roteiro. "Enquanto sua família ia à igreja, ele encontrou seu próprio templo, onde era venerado como um ser superior", diz um narrador assim que Nacho Vidal começa a passar a noite transando com a namorada no palco de uma boate, enlouquecida a cada arrancada de cueca.

No imenso mar de plataformas oferecendo assinaturas aos espectadores hoje em dia, é neste tipo de conteúdo mais adulto que o Lionsgate+, antigo Starzplay, tem investido. "Nacho" encontra ecos em "P-Valley", sucesso de crítica sobre o mundo do strip-tease, e em outros títulos para maiores do streaming, que vão do mundo do crime ao das drogas.

No que depender da grande capacidade da nova série de criar momentos polêmicos, não será problema se destacar. Sexo, afinal, vende, como a carreira de Nacho Vidal provou.

Nacho

  • Quando Estreia nesta sexta (3), no Lionsgate+
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Martiño Rivas, María de Nati e Andrés Velencoso
  • Produção Espanha, 2022
  • Ciração Ramón Campos, Teresa Fernández-Valdés e Gema R. Neira
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