Conheça fotógrafo de BH que retrata a favela com flores para fugir dos estereótipos

Projeto destaca com poesia a negritude dos moradores do Aglomerado da Serra, maior comunidade da cidade

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São Paulo

Dançarinos, trabalhadores locais, crianças e adolescentes da comunidade Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, são modelos do fotógrafo Rafael Freire, de 30 anos. Seu projeto "Favela, a Flor que se Aglomera", se inspira no entorno para resgatar a autoestima das pessoas, em maioria negras, que moram, estudam e trabalham na região.

Para o artista, beleza e delicadeza são ideias que não são comumente ligados à periferia, aos seus moradores e às pessoas negras, em especial os meninos.

"Comecei a ter esse olhar para a população preta quando comecei a olhar para mim, valorizar a minha aparência e a minha inteligência. Isso veio depois de adulto mas poderia ter vindo antes. Quero mostrar a beleza com as minhas lentes e não as do racismo", diz.

retrato de homem negro envolto em tecido similar ao algodão para imitar uma nuvem
Para 'florir a favela' Rafael Freire, 30, fotografa vizinhos e conhecidos na comunidade Aglomerado da Serra, em Minas Gerais - Rafael Freire

As flores estão presentes em quase todas as fotos de Freire, que diz buscar "florir a favela e trazer elementos para mostrar que as pessoas são como sementes, podem ir longe".

O trabalho começou em 2015, quando Rafael era monitor de fotografia na Escola Municipal Senador Levindo Coelho. Na época, segundo ele, não era possível sair da escola com as crianças para fazer imagens novas, devido a um conflito entre facções. "Comecei a fotografar a favela vazia e daí levar as imagens para eles."

A tarefa dos alunos era unir foto e palavra para criar uma poesia sobre o lugar onde moravam. A atividade acontecia no contraturno escolar com crianças e adolescentes entre sete e 14 anos.

Uma das alunas, no poema, disse sentir falta de flores na paisagem que via de sua janela. "Isso me incomodou demais, saí para procurar, e realmente não tinham flores no morro."

Rafael comprou sementes e plantou em uma das encostas da comunidade. As flores nasceram. As pétalas brancas e amarelas começaram a ser usadas como adereços na pele negra e no cabelo crespo de quem ele retratava.

Dois anos depois, ele reuniu sua turma de 2015 e levou até a encosta para ver o quanto o local estava florido.

Além das fotografias, rodas de conversa sobre autoestima e negritude fazem parte do seu trabalho. Os encontros, que começaram na escola, tomaram praças e parques da região. "Como não temos um espaço, é importante tentar ocupar os lugares públicos."

As rodas de conversa deixaram de ser periódicas após a pandemia, agora são marcadas em um grupo de WhatsApp. Atualmente ele ensina fotografia para jovens da região em encontros gratuitos.

Seu trabalho, que já vinha sendo notado nas redes sociais por nomes como Lázaro Ramos e Babu Santana, foi exposto no no Memorial Vale, centro cultural da capital mineira, pela primeira vez em novembro de 2022.

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