São tantas as tradições da família real e da aristocracia britânica que não era difícil criar um bingo de quais clichês fashion estariam na coroação de Charles 3º.
Mais do que em outros eventos, dezenas de chapeuzinhos estavam na Abadia de Westminster, usados pelas britânicas ou figuras de alguma forma vinculadas à Commonwealth, caso da mulher de Justin Trudeau, o premiêcanadense.
Não fosse o disco rosa-pálido equilibrado na diagonal da cabeça e adornado com uma rede que cobria a outra metade do rosto, Sophie Trudeau estaria com um visual inofensivo, como a maioria dos convidados.
Ele era composto por um vestido de mangas longas transparentes e comprimento midi, na mesma cor do acessório alienígena, com sapatos combinando e uma bolsinha com flores, algo que remete a um chá da tarde num jardim. Bem britânico.
Brigitte Macron também apostou no rosa, mas num tom mais claro e acompanhado de sobretudo. Já Emmanuel, o presidente francês vestiu um terno simples, com colete.
A austeridade da cerimônia foi bem-vinda. O Reino Unido não passa por seu melhor momento econômico e político. A terra das coroas de ouro maciço cravejadas de pedras está em seu terceiro primeiro-ministro em menos de quatro anos.
Janja, primeira-dama brasileira, usou um vestido vermelho em tom mais emudecido da grife nacional Neriage, figurinha carimbada em seu guarda-roupa desde a posse de Lula. Valorizar os designers nacionais em momentos como estes costuma ser prática comum de representantes de Estado em ocasiões oficiais.
É uma ocasião de Estado, embora seja uma cerimônia religiosa, para todos os efeitos. Fica entre uma posse presidencial e um batizado tunado com diamantes de 22 quilates.
Charles, diferentemente de sua mãe, Elizabeth, diz prezar pela modernização da monarquia e tentou passar essa mensagem ao fazer uma cerimônia enxuta, reduzida a cerca de 2.200 convidados, ante os 8.000 do funeral da rainha, em 2022.
Na coroação de Elizabeth, em 1953, imperaram os vestidos longos, bordados e detalhados, bem diferente de hoje, com modelos simples, marcados pelos cortes e pelas cores.
Não que uma ou outra celebridade não tenha chamado a atenção, caso da cantora Katy Perry, que escondeu o rosto em um chapelão lilás, combinado com luvas até os cotovelos.
A ostentação ficou por conta da família real. A princesa de Gales, Kate Middleton, rouba a cena desde que saía por aí com vestidinhos de marcas fast fashion, à la Zara e H&M. Não foi diferente agora.
Ela usou brincos que eram de lady Di e um vestido branco Alexander McQueen que se parecia com o modelo usado em seu casamento, feito pela designer da grife, além de uma tiara com folhas brancas, replicada para a princesinha Charlotte.
Também de branco foi Camilla, agora rainha. Ela usou um longo vestido com mangas, bordado com flores douradas e prateadas do designer Bruce Oldfield, um de seus favoritos.
Entre os homens, não teve muito como roubar a cena de Charles, que viveu mais trocas de looks que uma debutante, com mantos e mais mantos costurados com símbolos de diferentes monarcas britânicos.
Ele entrou com o robe de veludo usado pelo avô na coroação de 1937. Depois, ficou com uma bata branca, símbolo da pureza perante Deus, mas logo ganhou uma capinha dourada.
Quem não tem cão caça com gato. Os britânicos, que não podiam homenagear sua pátria com cafonices como o chapeuzinho reservado às mulheres, apostaram em outras tradições perdidas no tempo, caso do fraque, e os ex-premiês presentes não abriram mão da chance de usar um item tão demodê.
Se ao menos se valessem dos kilts, nos divertiríamos um pouco com a possibilidade de bater um ventinho.
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