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'Boogeyman' é terror dinâmico, mas frustra no monstro e nos assuntos

Filme escrito pelos roteiristas de 'Um Lugar Silencioso' adapta com bastante liberdade o conto homônimo de Stephen King

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Boogeyman: Seu Medo É Real

  • Quando Em cartaz nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Vivien Lyra Blair, Sophie Thatcher e Madison Hu
  • Produção EUA, 2023
  • Direção Rob Savage

Já raspando o tacho das obras do escritor americano Stephen King, conhecido por clássicos como "O Iluminado" e "It - A Coisa", o terror "Boogeyman – Seu Medo É Real" chega aos cinemas pelas mãos do diretor que melhor aproveitou a estética das temíveis chamadas via Zoom durante a pandemia do coronavírus, o britânico Rob Savage.

Aos 17 anos, Savage escreveu, dirigiu, filmou e editou um longa-metragem de baixíssimo orçamento que estreou no Festival de Roma de 2012, mas foi com "Cuidado com Quem Chama", de 2020, lançado quando as pessoas ainda limpavam as compras com álcool e aplaudiam os profissionais da saúde, que o jovem diretor alcançou a fama.

Cena do filme 'Boogeyman: Seu Medo É Real', de Rob Savage
Cena do filme 'Boogeyman: Seu Medo É Real', de Rob Savage - Divulgação

"Dashcam", seu filme seguinte, já contou com a produção da Blumhouse, selo responsável pela franquia "Atividade Paranormal" e o viral "M3GAN", mas foi mal recebido tanto pela crítica quanto pelo público por retratar uma protagonista negacionista, de extrema direita e, como se já não bastasse, muito pentelha.

Desta vez, Savage se afasta do cenário pandêmico e também dos comentários políticos para fazer uma aposta segura –adaptar alguma coisa de Stephen King. Acontece que a maioria dos livros do autor já foram adaptados para o cinema e até refilmados, como "Carrie - A Estranha", "Cemitério Maldito" e "Chamas da Vingança".

Restou, então, um conto intitulado "The Boogeyman", ou o bicho-papão, publicado há 50 anos numa edição da revista masculina Cavalier, então concorrente da Playboy.

No conto, um psiquiatra recebe um paciente que desabafa sobre as mortes misteriosas de seus três filhos. Pouco antes de morrerem, as crianças gritaram "bicho-papão".

Com os mesmos roteiristas de "Um Lugar Silencioso", "Boogeyman - Seu Medo É Real" se concentra mais na família do psiquiatra do que na do paciente. Interpretado por Chris Messina, o doutor Harper é um viúvo que se vê na tarefa repentina de cuidar sozinho das filhas enlutadas, a adolescente Sadie e a pequena Sawyer.

Para piorar a situação ainda mais, o doutor atende um homem, chamado Lester Billings, que culpa uma entidade sombria pelos assassinatos dos filhos. A consulta tem o pior desfecho possível, e a criatura sobrenatural que atormentava a família de Billings se muda para a residência dos Harpers.

Como todo bom monstro, o bicho-papão vive em armários, debaixo da cama ou em qualquer cantinho escuro. A novidade é que o monstrengo imita as vozes dos entes queridos de suas presas, o que rende um contraste sinistro entre a sanguinolência de seus ataques e as palavras de conforto esvaziadas de sentido.

Com movimentos de câmera dinâmicos, Savage faz um bom trabalho fora do subgênero do "desktop horror", de "Cuidado com Quem Chama" e "Dashcam". Apesar dos clichês, como o mofo preto que denota uma presença maligna na casa, o diretor não tem medo de infligir violência nem mesmo à menina mais nova, o que torna a busca por uma salvação ainda mais urgente.

Só não espere ver a criatura no rol dos monstros mais bem concebidos da história do cinema, como o xenomorfo de "Alien" ou o homem pálido de "O Labirinto do Fauno". Em "Boogeyman", o bicho-papão é uma versão menor e mais simplificada dos alienígenas de "Um Lugar Silencioso" —e feito em computação gráfica, é claro.

É compreensível que a produção tenha recorrido à tecnologia para concretizar um monstro que aparece até grudado no teto, mas a sensação de perigo se desfaz quando percebemos que, mesmo aderindo à suspensão da descrença que o terror demanda, o bicho não está fisicamente lá e que os atores estão reagindo ao nada.

Há o tema protocolar do luto, de como as crianças só são atacadas quando os pais não estão atentos aos seus anseios emocionais, e todo o linguajar da autoajuda que é cada vez mais presente nas produções de um período pós-traumático.

Mas o fã do terror não vive só de trauma, queremos uma máscara de látex também.

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