Descrição de chapéu Filmes mostra de cinema

Quem é Billy Woodberry, ícone da L.A. Rebellion que deu espaço ao cinema negro

Aos 73 anos, diretor do clássico 'Abençoe seus Pequeninos Corações' está em São Paulo para retrospectiva da obra no IMS

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Marcelo Miranda
Curitiba

Quando tinha pouco mais de 20 anos de idade, no começo dos anos 1970, Billy Woodberry foi estudar cinema na Universidade da Califórnia, a UCLA. Ele e os colegas formaram um grupo de interessados em ver e fazer filmes distantes dos circuitos convencionais de Hollywood.

Mal sabia o jovem Woodberry que, décadas depois, parte dessa geração da qual ele fez parte, formada principalmente por pessoas negras, asiáticas, indígenas e latinas, ia ser celebrada como renovadora da produção independente americana, sob a alcunha de L.A. Rebellion —ou rebelião de Los Angeles, em português.

Billy Woodberry
O diretor de cinema Billy Woodberry - Divulgação

O termo surgiu pela percepção do historiador afro-americano Clyde Taylor. Em 1986, quando era professor na Universidade de Nova York, Taylor organizou uma mostra no Museu Whitney intitulada "The L.A. Rebellion: A Turning Point in Black Cinema", algo como a rebelião de Los Angeles, um ponto de virada no cinema negro.

Essa mostra reunia filmes de ex-alunos da UCLA, entre eles Charles Burnett, Julie Dash, Haile Gerima, Larry Clark e o próprio Billy Woodberry.

"Não tínhamos a consciência de fazer parte de um movimento. Naquela época, só pensávamos no que podíamos realizar juntos e quais as maneiras de expressar o que estávamos sentindo", relembra Woodberry, de 73 anos, em entrevista.

O sentimento, no caso, era de reação e resistência à produção hegemônica de Hollywood, muito marcada pela branquitude de grandes estrelas e pela baixa presença de profissionais negros nas suas frentes. Havia naqueles estudantes um especial e urgente interesse em tratar do cotidiano, dos dilemas e das vivências afro-americanas nos bairros mais pobres de Los Angeles.

Woodberry está em São Paulo para participar de uma retrospectiva dedicada à sua carreira no Instituto Moreira Salles, o IMS, que começa agora e se estende até o fim de junho. Serão exibidos os cinco filmes que ele dirigiu, incluindo cópia em película do clássico "Abençoe seus Pequeninos Corações", seu único longa-metragem de ficção, lançado há 40 anos.

Além disso, passam no IMS três trabalhos nos quais colaborou, entre eles o monumental documentário "Los Angeles por Ela Mesma", de 2003, de Thom Andersen, que contrapõe o mito da "cidade dos anjos" idealizado por Hollywood a olhares mais contundentes de cineastas da L.A. Rebellion; e sete curtas-metragens, feitos entre 1929 e 1995, escolhidos pelo próprio homenageado como essenciais na sua formação —caso de "Couro de Gato", de 1962, do brasileiro Joaquim Pedro de Andrade.

A chegada de Woodberry à UCLA nos anos 1970 e toda a efervescência da L.A. Rebellion se deram num momento em que a universidade criava o Programa de Etno-Comunicações, que consistia em estimular a entrada de estudantes não brancos na instituição.

Muito dessa movimentação do período é atribuída ao professor Elyseo Taylor, na época o único docente negro na instituição californiana. "Sua presença foi fundamental na união dessas pessoas num mesmo ambiente, ao promover ações de integração, como cineclubes e sessões com diretores convidados para falar com os alunos. Ele nos trouxe cultura, nos trouxe referências", afirma Woodberry.

Outra figura importante na sua trajetória estudantil foi o brasileiro Mário da Silva, com quem firmou parceria na UCLA. Silva fez direção de fotografia do primeiro curta-metragem de Woodberry, "A Bolsa", de 1980.

Filmado nas ruas de Watts, subúrbio de Los Angeles com grande concentração de pessoas negras e de bastante importância na construção visual da L.A. Rebellion, o curta é representativo do estilo neorrealista de Woodberry.

O cineasta se lembra com carinho do amigo, atualmente morando no Rio de Janeiro. "Ele tinha se mudado para os Estados Unidos nos anos 1960 e era muito talentoso com a câmera. Foi a primeira pessoa que eu conheci quando entrei na universidade. Me apresentou ao Elyseo Taylor e ao Charles Burnett. Mário foi um guia."

A retrospectiva do IMS terá ainda uma palestra de Billy Woodberry nesta quinta-feira, já com vagas esgotadas. Mas o espectador interessado em ver e ouvir o cineasta ao vivo não precisa se preocupar.

Woodberry vai acompanhar e comentar várias das sessões na mostra, incluindo a de abertura, que exibe "Abençoe seus Pequeninos Corações". Após a exibição deste que é um dos melodramas mais tocantes do cinema americano, ele vai conversar com a professora e pesquisadora Tatiana Carvalho Costa.

Billy Woodberry em Retrospectiva

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