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'The Idol' só vai se salvar se o episódio de estreia for o pior da série

Com Lily-Rose Depp e The Weeknd, a nova aposta da HBO narra a crise de uma cantora pop regada a sexo e drogas

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The Idol

  • Quando Aos domingos, às 22h, na HBO e no HBO Max
  • Elenco Lily Rose-Depp, Abel Tesfaye e Troye Sivan
  • Criação Sam Levinson e Abel Tesfaye

A HBO Max programou a estreia da série "The Idol" para o último domingo (4), exatamente uma semana depois do esperadíssimo último episódio de "Succession", uma das séries mais comentadas, elogiadas, invejadas e vistas dos últimos anos.

Quase dá para ver a cena. Uma reunião dos chefões do canal de TV a cabo, agora de streaming, que, no fim dos anos 1990, revolucionou a experiência de ver séries com "Sex and the City", depois "Família Soprano", depois "The Wire", e que nos últimos anos mais parece um trem descarrilhado tentando se agarrar a algum modo de seguir relevante.

The Idol
Abel Tesfaye em cena de 'The Idol', da HBO - Divulgação

Fico pensando em que personagem de "Succession" a frase soaria mais natural. "Vamos estrear ‘The Idol’ no domingo seguinte ao episódio final de ‘Succession’. O público gosta de ver rico se comportando mal, se somarmos nudez, sexo e gente jovem, ninguém resiste." Eu votaria em Roman Roy, só porque sempre foi meu preferido, mas talvez ficasse mais verossímil dita pelo primo Greg, de tão banal.

A série é de Sam Levinson, filho do lendário Barry Levinson, diretor de clássicos do cinemão como "Bom Dia, Vietnã", de 1987, vencedor do Oscar por "Rain Man", de 1988, e que também dirige séries de TV recentes como a ótima "Dopesick", de 2021. O filho já trocou todo esse aposto por seu próprio grande trunfo —ele é o criador de "Euphoria".

Foi essa série, que estreou em 2019, que elevou Zendaya a musa e tem sexo, drogas, gente muito jovem e violência como pilares. Faltavam os bastidores da música pop, o que, parece, foi a contribuição do cantor canadense The Weeknd, e que agora está fazendo a transição para seu nome de batismo, Abel Tesfaye.

A fórmula parece tão explícita no primeiro episódio que, na cena que deveria ser o clímax da revelação da personagem principal, a cantora pop famosíssima e eternamente insatisfeita Jocelyn, papel de Lily-Rose Depp, que é filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis, em que ela se masturba no sofá de sua casa ao mesmo tempo em que se estrangula com a outra mão, fica tudo parecendo mais uma versão de teatro infantil de filme pornô do que uma transgressão televisiva, que costumava ser a marca registrada da HBO.

Ela acabou de voltar de uma balada depois de ter feito uma sessão de fotos, em que teve de enfrentar um membro de seu entourage para mostrar os peitos na fotografia, como era a vontade dela mas não do "consultor de intimidade" da gravadora, um posto recente em produções artísticas.

Mais tarde no mesmo dia vaza uma foto íntima, um close de Jocelyn com a cara toda manchada de esperma. Assessores em pânico, um executivo da Live Nation chega sem avisar num conversível.

Ele se reúne com o "time" de Jocelyn, que tem Hank Azaria como empresário e a incrível Jane Adams como uma assessora malucona, que não esconde os cabelos grisalhos e acha tudo careta nos dias de hoje. Estão todos em alerta, quando Jocelyn vir a foto pode ter uma reação terrível e repetir o colapso nervoso do qual está se recuperando, que pode ou não ter sido provocado pela morte de sua mãe.

Entre uma coisa e outra, ela ensaia a coreografia do novo single com seus dançarinos, de que faz parte a cantora, dançarina e modelo sul-coreana Jennie Ruby Jane, do supergrupo Blackpink. Fica insinuado que entre ela e Jocelyn haja mais intimidade do que com os outros dançarinos.

O perigo se materializa com a presença de uma repórter da Vanity Fair, que está lá para fazer um perfil da cantora e desliga o gravador para confessar que está sendo pressionada pelo editor para pegar a reação da cantora à foto vazada.

O figurino de Jocelyn também beira o teatro infantil. Deve haver uma lei na produção que proíbe que se cubra os peitos e a bunda da personagem ao mesmo tempo. Um ou outro, ou ambos, precisa estar aparente, ou alguém é demitido. Única explicação plausível.

E surge Tedros, personagem de The Weeknd, o dono da boate a que Jocelyn vai. Toca "Like a Prayer", um clássico de Madonna, ela se joga na pista, ele a vê, reconhece, a anuncia pelo microfone e diz que vai dançar com ela. Aliás, referência pop é o que não falta neste episódio.

Britney Spears, óbvio, é quase um alter ego de Jocelyn. Em uma cena, ela e a assistente conversam enquanto "Instinto Selvagem" passa na televisão. Na sessão de fotos, a trilha é "Criminal", de Fiona Apple e, num diálogo entre ela e Tedros, Prince é citado como um deus do pop.

Não deu para saber se The Weeknd é um bom ator, e o personagem, um canastrão. Pode ser o contrário. Mas, naquele universo, tão longe do que uma pessoa comum pode experimentar, um canastrão mais velho que surge na vida de uma menina levada no auge da exuberância física e hormonal e decide "ensinar" uma coisa ou outra sobre o sexo e a vida a ela, me pareceu a parte mais verossímil.

"The Idol" parece bem ruim até agora, mas pode melhorar. No Festival de Cannes, na entrevista coletiva dada pelo elenco e pelo criador da série depois da exibição dos dois primeiros episódios, foi dito que há uma reviravolta depois do terceiro capítulo. São apenas seis. Capaz que dê para assistir.

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