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'A Noite do Dia 12' filma a dureza dos assassinatos não resolvidos na França

Após filme desastroso, diretor alemão Dominik Moll tem bom retorno improvável com longa que já começa com fim anunciado

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A Noite do Dia 12

  • Quando A partir de quinta-feira (12) nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Bastien Bouillon, Bouli Lanners, Théo Cholbi
  • Produção Bélgica, 2022
  • Direção Dominik Moll

Após o desastroso "Seules les Bêtes", de 2019, era necessário alguma mudança para recolocar a carreira de Dominik Moll nos trilhos.

Surge então "A Noite do Dia 12", seu sétimo longa. Novamente com roteiro escrito por ele e seu fiel parceiro Gilles Marchand, foi o grande vencedor do César de 2022, levando seis prêmios, entre eles o de melhor filme e melhor diretor.

Moll é alemão, mas fez todos os seus filmes na França, onde também leciona, na prestigiada Fémis. Seus primeiros longas eram disparados os melhores até então.

Dois homens brancos olham para trás numa rua escura
Bastien Bouillon e Bouli Lanners em cena do filme 'A Noite do Dia 12', em que interpretam investigadores a cargo de um misterioso caso de feminicídio - Divulgação

"Intimité", o primeiro, lançado em 1994 e baseado em Jean-Paul Sartre, tem a cara do cinema francês nos anos 1990, sob a clara influência de Eric Rohmer.

"Harry Chegou para Ajudar", de 2000, seu belo segundo longa, une crime e província como um Claude Chabrol menos inspirado, o que é um feito e tanto, dada a grandeza de seu modelo.

A partir do terceiro "Lemming: Instinto Animal", de 2005, perde-se na narrativa de mistério e estranheza. Em "O Monge", de 2011, tentou um outro registro, sem sucesso. Seguiram-se o fraco "Más Notícias para o sr. Mars", de 2016, o mais cômico de seus filmes, e o já mencionado "Seules les Bêtes".

"A Noite do Dia 12" surge num momento em que sua recuperação parecia improvável. De todos os seus filmes, é o que tem menos humor. É como se a pandemia provocasse uma seriedade maior, um pessimismo indisfarçável que fez bem ao filme, já que humor não é o forte do cineasta.

O protagonista é Yohan, detetive de polícia interpretado por Bastien Bouillon. Ciclista amador nas horas de folga, Yohan é o chefe da equipe que investiga o assassinato brutal de Clara, na noite de 12 de outubro de 2016 em Saint-Jean de Maurienne, perto de Grenoble.

O maior risco que o filme assume é o de informar, já na cartela inicial, que este crime faz parte dos quase 20% que permanecem sem solução. O espectador sabe então que irá acompanhar uma investigação que não vai dar em nada.

A pergunta "quem matou Clara?" é formulada em nossas mentes, como num romance típico de Agatha Christie. Mas a resposta jamais virá, o que não nos isenta de ter nossos palpites. Há até o suspeito típico, homem arrogante contra o qual não encontrarão provas.

Como estão habituados com crimes, os investigadores fazem piadas, conversam sobre amenidades durante as reuniões, dividem uns com os outros as inquietações de suas vidas pessoais. É como se não houvesse diferença entre esse trabalho e um outro qualquer.

Uma certa alienação é necessária para lidar com crimes e pessoas em contato com o mal. Deixar-se afetar demais numa investigação de assassinato é perder a capacidade de trabalhar.

Moll não se contenta em mostrar o cotidiano dos investigadores. Há complicadores com o passar do tempo, a mudança na equipe e as pressões externas, sobretudo de uma nova juíza que não gostou de ver o caso arquivado. Novas questões aparecem, mostrando as mudanças de costumes.

Em um momento específico, por exemplo, uma nova investigadora que se junta à trupe três anos depois pergunta a Yohan se não é estranho que os assassinos sejam quase sempre homens e que os policiais também. "Os homens matam, os homens são a polícia... Um mundo de homens."

É uma maneira de dizer, neste mundo que não cessa de maltratar suas mulheres, que homens investigando homens tendem a não encontrar nada pela limitação de suas visões, quando não pela falta de empatia. Que é necessário um outro olhar para as coisas, um outro modo de entender reações e respostas.

É também a diferença entre 2016, quando aconteceu o crime, e 2019, em que os clamores por igualdade entre homens e mulheres e reivindicações de representatividade estão mais fortes.

Logo depois desse diálogo, com os policiais de tocaia no local do crime, surge a mais bela cena do filme e —não é exagero dizer— de toda a carreira do cineasta: os pais prestam tributo à filha, colocando velas no lugar em que ela morreu há três anos. Após alguns segundos, eles passam a ser vistos pelo reflexo no vidro do furgão policial.

A imagem dura pouco, o suficiente para não chantagear sentimentalmente os espectadores, mas o bastante para que nossas retinas gravem a construção visual de incrível beleza.

Dominik Moll, com a ajuda de seu fiel escudeiro Marchand, também nos dá um outro olhar para o policial francês.

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