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Ledusha celebra 70 anos com disco de poemas musicados e reimpressão de livro

Álbum coletivo 'Disco no Risco' traz sonorizações feitas por Juliana Perdigão, Gustavo Galo, Peri Pane e Bruna Lucchese

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Isabela Yu
São Paulo

Pelo Instagram, três fãs da poeta Ledusha se uniram para criar uma homenagem em forma de disco. Em 2021, a escritora e tradutora Estela Rosa compartilhou cinco fotografias de poemas do livro "Notícias da Ilha", publicado em 2012.

Um deles, "Moço Bonito", dedicado a Cazuza, chamou atenção do compositor Dimitri BR, que decidiu musicar os versos. Na mesma época, o músico Peri Pane criou uma melodia no violão para "Calada Descobri Como É Ser Nada", de "Lua na Jaula", de 2018.

Capa de 'Disco no Risco'
Capa de 'Disco no Risco' - Divulgação

Foi a partir desses encontros que a ideia do projeto "Disco no Risco" tomou forma para, dois anos depois, chegar às plataformas de streaming, bem a tempo do aniversário de 70 anos da escritora, comemorado na última quarta (12).

A empreitada encabeçada por Estela Rosa, Dimitri BR e Gustavo Galo se materializou em formato de álbum com oito faixas interpretadas por dez artistas. Após o contato inicial, o trio convidou amigos que possuem afinidade com o texto de Leda Beatriz Abreu Spinardi, que desde a estreia com "Risco no Disco", de 1981, caiu no gosto do público, que admira a escrita repleta de humor e referências culturais.

No final dos anos 1990, Leda assinou uma coluna semanal com o mesmo nome na seção Mais!, da Folha. "Ela é precursora da geração dos poetas de Instagram, que publicam poemas enxutos. Acho impressionante o poder de síntese", diz Estela Rosa, curadora da página no Instagram Mulheres que Escrevem, que soma 65 mil seguidores desde 2016.

Conhecida como integrante da geração de poetas marginais, Leda não se vê como parte do grupo de poetas como Paulo Leminski, Ana Cristina Cesar e Angela Melim, que se mudaram para o Rio de Janeiro no final dos anos 1970.

"Muitas pessoas a associam à geração marginal, mas ela se sente desencaixada desse grupo. Inclusive, acho que é muito Ledusha estar neste lugar instável, ser um risco entre eles", afirma a organizadora do projeto. A geração mimeógrafo formada por autores que se autopublicaram se reconhecia pelo carimbo de raio, símbolo adotado na capa do disco-homenagem.

Cada colaborador escolheu o poema com o qual mais se identificava e, assim, desenvolveu a sonoridade com foco na voz. Na produção musical, Otávio Carvalho, ajudou a formatar e finalizar as músicas tecidas por camadas de violões, guitarras e sintetizadores.

Na seleção, há poemas dos livros "Finesse & Fissura", de 1984, "Notícias da Ilha" e "Lua na Jaula". Por coincidência, ninguém escolheu um poema do "Risco no Disco" e há menções a tigres na letra de três músicas —"Solo", "Ali Onde a Ausência" e "Quem Dera".

De Berlim, Juliana Perdigão gravou voz, baixo e guitarra de "Solo" e, no início, se conectou aos versos ao ler em voz alta "na curva escura da avenida/ tigres loucos de amor".

No início do namoro com a poeta Angélica Freitas, grande fã de Ledusha, ela foi introduzida aos livros e se encantou com a veia pop da autora. "São textos musicais, imagéticos e urbanos. Minha companheira tem todas as edições. Foi ela quem me mostrou", lembra a compositora.

Os livros estão esgotados há anos nas livrarias e são raros até em sebos, então há fragmentos dessas obras espalhadas pela internet. Em geral, a conexão com a música chama atenção dos leitores, pois não são raras as citações a Billie Holiday, Maria Callas e Cole Porter, com a casualidade que inclui Jean-Luc Godard ou Clarice Lispector na narrativa. Essas são algumas das estrelas que compõem o universo da autora. Fora a ligação com Cazuza, eternizada na parceria em "Baby Lonest", de "Burguesia", de 1989.

Na leitura de Gustavo Galo, que, ao lado da companheira, a poeta Júlia Rocha, gravou "Estala a língua", há uma atmosfera musical que perdura em toda a produção da poeta. "Leda é uma ouvinte de música com um ouvido muito apurado. Então, seus poemas são carregados de eletricidade. Associo suas letras ao tipo de música que me formou, o rock", afirma Gustavo Galo.

A versão final do projeto foi revelada há um mês para ela, que não havia escutado nada até então, mas aprovou o trabalho. Disse que ainda conseguia se enxergar nas músicas.

Neste sábado (15), o grupo homenageia Ledusha na livraria Megafauna, no edifício Copan, em leitura musicada por Bianca Zampier, Bruna Lucchesi, Dimitri BR, Estela Rosa, Gustavo Galo, Júlia Rocha, Otávio Carvalho e Peri Pane.

A editora Luna Parque, responsável pela segunda impressão do "Risco no Disco", de 2016, disponibilizará uma tiragem limitada do livro durante a realização do evento.

Disco no Risco

  • Quando Show ao vivo na livraria Megafauna - av. Ipiranga, 200, loja 53, São Paulo, às 17h
  • Onde Disponível nas plataformas digitais
  • Autoria Vários artistas
  • Gravadora Selos Pequeno Imprevisto e Mulheres que escrevem
  • Organização Dimitri BR, Gustavo Galo e Estela Rosa
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