Descrição de chapéu The New York Times

Entenda como a turnê de Taylor Swift conquistou o mundo e quebrou recordes

'The Eras Tour' alcança nível de popularidade global dos tempos de Michael Jackson e une a época fragmentada do século 21

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ben Sisario
The New York Times

Quando Taylor Swift chegou a Los Angeles na semana passada, o frenesi em torno de sua turnê recordista "Eras" já estava em intensidade máxima.

As manchetes se derramavam em elogios, dizendo que ela presenteara os membros da equipe de produção com bônus de US$ 100 mil cada. Políticos pediram que ela adiasse seus shows em sinal de solidariedade com funcionários de hotéis em greve. Cambistas estavam vendendo os ingressos para seus show por US$ 3.000 ou mais. E as pulseiras da amizade eram incontáveis.

Hoje em dia, o centro de um mundo musical com essa exceção fragmentado só poderia ser Taylor Swift.

Taylor Swift em show da Eras Tour na Califórnia, nos Estados Unidos
Taylor Swift em show da 'Eras Tour' na Califórnia, nos Estados Unidos - Michael Tran/AFP

A turnê da superestrela do pop é um fenômeno comercial e cultural de grandes proporções. Aliado à sua aguçada sensibilidade de marketing, o catálogo de sucessos da cantora, que definem toda uma geração, a ajudaram a alcançar um nível altíssimo de demanda e saturação na mídia, algo que não era visto desde as épocas áureas de Michael Jackson e Madonna, nos anos 1980 —uma hegemonia que o mundo do entretenimento considerava impossível de ser reproduzida no fragmentado século 21.

"A única coisa comparável é o fenômeno da Beatlemania", comentou Billy Joel, que assistiu ao show de Swift em Tampa, Flórida, com sua mulher e filhas.

Em um verão de turnês de grandes nomes como Beyoncé, Bruce Springsteen, Morgan Wallen e Drake, a turnê de Taylor Swift se destaca tanto pelas cifras envolvidas quanto pela atenção enorme da mídia.

Embora Swift, 33 anos, e seus empresários não divulguem os números das bilheterias oficialmente, a revista especializada Pollstar estimou que ela tem vendido cerca de US$ 14 milhões em ingressos cada noite. Até o final da turnê mundial completa, que inclui 146 concertos em estádios que vão avançar por 2024, as vendas de ingressos podem chegar a US$ 1,4 bilhão ou mais —superando os US$ 939 milhões ganhos pela turnê de despedida de Elton John, o recordista atual.

Ao longo de sua carreira, Taylor Swift já acumula mais álbuns que foram nº 1 da Billboard do que qualquer outra artista mulher, superando Barbra Streisand. Como a turnê está intensificando o interesse por todo o conjunto de sua obra, dez de seus álbuns entraram para a parada este ano, e ela é a primeira artista viva desde o trompetista e bandleader Herb Alpert, em 1966, a ter quatro títulos entre os Top 10 simultaneamente.

"É uma façanha espantosa", disse Alpert, que tem 88 anos, entrevistado pelo telefone. "Considerando como é o rádio hoje e como a música é distribuída, com streaming, não pensei que ninguém nesta era fosse capaz disso."

Mas como uma turnê virou muito mais que isso –assunto para colunas de fofocas, tema de previsões meteorológicas, multiplicador de vendas de miçangas de pulseiras da amizade (a moeda corrente extraoficial dos fãs de Taylor Swift) e a razão por que ninguém conseguia reservar um quarto de hotel em Cincinnati no final de junho?

"Taylor Swift é a melhor CEO e a melhor diretora de marketing na história da música", disse Nathan Hubbard, executivo de música e vendas de ingressos, além de co-apresentador de um podcast sobre Swift. "Ela está seguindo nos passos de gente como Bono, Jay-Z e Madonna, que todos tinham consciência aguda de sua marca. Mas, de todos eles, Taylor Swift é a primeira da geração que já nasceu online."

Críticos musicais dizem que a turnê "Eras" mostra Taylor Swift no auge de sua forma, como grande talento que atrai multidões para shows em grandes espaços e é hábil em lidar com a mídia, uma pop star com dom de criar grandes espetáculos e o brilho de uma compositora clássica.

Shania Twain, a cantora country-pop cuja carreira de certa maneira prefigurou a de Taylor Swift, assistiu a um show da "Eras" em Las Vegas. É uma produção que inclui mais de 44 canções e dura até 3,5 horas. Ela elogiou o "equilíbrio belíssimo" entre a encenação high-tech e os momentos intimistas. "Tenho que aplaudi-la" disse Twain em entrevista telefônica. "Como artista, eu sei quanto trabalho é preciso para criar algo assim."

O poder do exército de fãs de Swift –sem falar no medo de desagradar à estrela ou até mesmo dar a impressão de fazê-lo— tem garantido que quase toda a repercussão da turnê na imprensa tenha sido positiva. Embora alguns fãs (e alguns pais de fãs) tenham ficado chocados com o preço dos ingressos e a dificuldade em conseguir lugares, a frustração foi dirigida sobretudo à Ticketmaster, não a Swift.

Após algumas semanas de manchetes vinculando a cantora romanticamente com um vocalista que alguns fãs consideravam problemático, começou a circular nas páginas sobre celebridades a notícia de que eles teriam se separado. (Os representantes de Swift se negaram a dar declarações para este artigo.)

Para os fãs, os shows são uma peregrinação e uma redescoberta da alegria dos encontros em massa. Os voos estão lotados de "Swifties", e viajantes trocam histórias e comparam roupas –inspirados em visuais ligados às "eras" de Swift— em estacionamentos e corredores de estádios. Em Kansas City, a comediante Nikki Glaser estava assistindo ao show pela oitava vez –um nível de dedicação que ela estima que já lhe custou US$ 25 mil.

"Este ano resolvi não congelar meus óvulos", disse Glaser. "Vou investir esse dinheiro na coisa que amo mais no mundo, que é Taylor Swift."

Antes de "Eras", Swift não saía em turnê desde 2018. E seu catálogo ganhou mais sete álbuns nº 1 desde então, alimentado em parte por três "Versões de Taylor" regravadas de seus primeiros LPS –um projeto saudado por seus fãs como uma cruzada para recuperar o controle de sua música, se bem que também seja um ato de vingança após a venda de seu antigo selo, algo que, segundo ela, "me tirou o trabalho de toda minha vida".

"Folklore" e "Evermore" ampliaram seu leque, aventurando-se no indie-folk fantástico, e trouxeram novos colaboradores para seu lado: Aaron Dessner, da banda The National, e Justin Vernon, também conhecido como Bon Iver, figuras do mundo do rock que ajudaram a atrair novos ouvintes.

A outra grande turnê este ano que está atraindo fãs para reservar voos transcontinentais e comparecer fantasiados e em êxtase também é de uma mulher: Beyoncé, 41 anos, cuja turnê "Renaissance" é uma fantasia de música disco e retrofuturista. Como Swift, também Beyoncé é uma artista e empreendedora pioneira, que controla sua própria carreira e fomenta uma forte conexão online com seus fãs. Somadas ao filme "Barbie" de Greta Gerwig, uma crítica do patriarcado apresentada em rosa choque, são os sinais de mulheres poderosas dominando o discurso da cultura pop.

Mas na música, pelo menos, a escala e o sucesso da turnê de Taylor Swift não têm igual. Este mês, depois de completar 53 apresentações nos Estados Unidos, ela vai partir em um itinerário internacional de pelo menos 78 shows, antes de retornar à América do Norte no outono de 2024. A turnê completa de Beyoncé tem 56 concertos; a de Bruce Springsteen, 90. Harry Styles encerrou recentemente uma turnê de 173 shows em arenas e estádios, arrecadando US$590 milhões.

Tradução Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.