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Televisão

Final de 'And Just Like That' é cheio de firulas e bastante aborrecido

Último episódio perde tempo com a despedida do apartamento de Carrie e encerra segunda temporada morna e brochante

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And Just Like That... Um novo capítulo de Sex and the City (2ª temporada)

  • Onde HBO Max
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Sarah Jessica Parker, Cynthia Nixon e Kristin Davis
  • Produção EUA, 2023
  • Criação Darren Star

Entrou nesta madrugada na HBO Max a segunda parte do episódio final da segunda temporada de "And Just Like That", derivado de "Sex and the City". E só de escrever esta frase inicial já fica claro que estamos falando de uma história que, talvez, esteja se arrastando por tempo demais.

O que, em si, não é nenhum problema. Ninguém fala isso sobre "Star Wars" ou "Os Simpsons", série que está no ar desde 1989 e não dá nenhum sinal de que esteja ficando sem assunto.

Mas a verdade é que esta temporada prometia mais do que entregou. A volta de Samantha, a personagem mais sexualmente voraz e pessoalmente autocentrada, era um assunto tão quente na trama quanto fora dela.

Cena da segunda temporada da série 'And Just Like That..' - Divulgação

A informação de que a atriz Kim Cattrall tinha gravado uma cena em uma garagem para o episódio final, que exigiu ser vestida pela figurinista original, Patricia Field, e que o fez sem encontrar nenhuma das outras atrizes do elenco principal, com quem ela é rompida publicamente, fez surgir mil e uma teorias a respeito do que teria acontecido tanto na realidade quanto na série.

Uma das teses mais recentes era que Samantha, a personagem, iria morrer na cena gravada. Parecia verossímil, pelo menos seria um ponto final nesta história. Mas aí, nesta semana, foi divulgada a informação de que "And Just Like That" terá uma terceira temporada, então possivelmente a volta de Samantha tenha sido atrelada à volta da atriz ao elenco.

O que dá para contar, sem estragar as surpresas do roteiro, é que a hipótese descrita acima não se comprova.

A cena com Samantha abre o episódio, todo centrado em um último jantar que Carrie prepara para se despedir do seu apartamento de solteira, aquele com o closet azul, onde ela vive durante as seis temporadas de "Sex and the City". É para onde ela volta depois da morte do marido, Big, em "And Just Like That" e onde seu atual (e ex) namorado, Aidan, se recusa a pisar.

Para quem conhece os meandros imobiliários de Manhattan, até faz sentido que um apartamento de um quarto, bem localizado, arejado, com luz natural e que não fique em uma parte ultra barulhenta da cidade seja assim tão cultuado.

Mas um apartamento é um apartamento. Pode querer dizer um milhão de coisas para quem passou grande parte da vida adulta nele, mas daí a ser tema central de um episódio final dividido em duas partes que reúne o elenco inteiro, é um tanto esquisito e bastante sem charme.

Que as três amigas de Carrie em ‘Sex and the City" tivessem muitas lembranças ali e quisessem se despedir —o que nenhuma delas fez com o próprio apartamento, diga-se— até vai. Mas que ligação tem o novo elenco com aquele lugar?

Carrie acabou de comprar um apartamento novo, enorme e incrível, em frente ao exclusivíssimo Gramercy Park e convida as novas amigas, todas ricas e bem-sucedidas, ou duras mas com muito potencial, como a comediante Che Diaz, personagem de Sara Ramirez, e o ex-colega de podcast Jackie Nee, personagem do ator Bobby Lee, para um jantar no antigo, menor e, agora, vendido?

Celebrar o passado não é vergonha para ninguém, lógico, e grande parte do interesse por essa série é em si uma forma de celebrar o passado.

"Sex and the City" foi uma série fenomenal, revolucionária, e assim como o público ainda sente uma ligação muito forte com essas personagens que conheceu 25 anos atrás —ou a qualquer momento desde então, já que as seis temporadas de "Sex..." estão no catálogo do canal e, sim, a série continua ótima até hoje— assistir a "And Just Like That" é uma maneira de rever a própria vida.

Tinha muita gente que odiava a ideia de Carrie perder a cabeça e qualquer fronteira moral quando o assunto envolvia o Mr. Big, personagem de Chris Noth, com quem ela acabou se casando, e que tinha certeza de que ela seria muito mais feliz com o bom moço da história, o caipirão Aidan, personagem de John Corbett, com quem ela volta a se envolver nesta temporada.

Essa teoria foi botada à prova nesta segunda leva de episódios que se encerra hoje. Aidan continua bonzinho, apaixonado, é divorciado e Deus levou Mr. Big, então Carrie não tem com que se distrair.

O romance maduro dos dois não teve grandes sobressaltos, como de fato é mais comum entre pessoas que já fizeram todas as besteiras da juventude, aprenderam com elas e agora conseguem apreciar um namoro com pausas, ritmo estável e entre pessoas que tem suas próprias vidas e partes dela em que preferem não ter a interferência do outro.

Mas quem disse que o que é bom na vida dá boa televisão? Uma boa trama só para em pé se tiver um bom conflito. E os conflitos criados por Michael Patrick King, que escreveu e dirigiu as duas partes do episódio final, não têm a mínima graça. Pior: não aparecem na série.

O que a gente vê são as explicações dos personagens para as coisas que não vão acontecer. Resumo da ópera: foi morno, brochante, aborrecido. Mas eu não vejo a hora de ver o que vai acontecer na próxima temporada.

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