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Imenso e monótono, 'Starfield' é uma grande oportunidade perdida

RPG de exploração espacial produzido pela Bethesda, de 'Skyrim', tem um mapa tão vasto quanto é pouco cativante

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São Paulo

Starfield

  • Quando Lançamento quarta que vem (6)
  • Onde PC, Xbox Series
  • Preço R$299 no Steam; R$349,95 para Xbox; incluso na assinatura do Xbox Game Pass
  • Classificação 16 anos
  • Produção EUA, 2023
  • Desenvolvedora Bethesda Game Studios

Por volta das 15 horas jogadas em "Starfield", me senti preparado para admitir que o aguardado RPG de ficção científica do estúdio americano Bethesda não é muito interessante.

Foi com essa quantidade de tempo investida no game que, pouco impressionado com o que tinha visto até aqui, resolvi selecionar um dos locais que aparecia no mapa do sistema solar que estava visitando em busca de algo diferente para fazer.

Me transportei até lá —através de viagem rápida; o jogo não permite outro tipo de locomoção no espaço— e percebi, animado, que estava em uma estação espacial abandonada onde funcionou um cassino, mas que agora era ocupada por piratas espaciais. Finalmente algo para se fazer em um jogo que até aqui tinha sido de missões pouco criativas e locais desinteressantes.

Imagem do videogame "Starfield" mostra pessoa em roupa de astronauta andando em planeta alienígena, com montanhas ao fundo e um planeta no céu
O problema de “Starfield”, o novo RPG de ficção científica da desenvolvedora americana Bethesda, é que os momentos interessantes encontrados no seu universo gigantesco são muito raros - Divulgação/Bethesda Game Studios

Entrei na estação e cassino, torcendo para que fosse uma área com alguma rica história por trás, no melhor estilo "Fallout: New Vegas", ou que trouxesse a tensão e a magia que a variedade de "Skyrim" conseguia evocar —dois jogos já clássicos desenvolvidos pela Bethesda que trouxeram grandes contribuições para o RPG de mundo aberto.

Mas "Starfield" não é um novo "Skyrim". Ao entrar na área, o que encontrei foram inimigos idênticos aos que eu já havia visto dezenas de vezes até aqui, algumas armas a serem coletadas, um único registro que indicava que o cassino faliu por conta de críticas nada elogiosas, e só.

Com cerca de 30 horas jogadas para esta crítica, a lista de casos como o do cassino se acumula: de robôs gigantes que você pode ver, mas não pilotar, a veículos que você pode até entrar e se sentar no banco do motorista, mas não dirigir e muito menos usar para atravessar as longas distâncias em planetas amplos e vazios.

Podem parecer detalhes em um jogo que é imenso e foi feito para ter centenas de encontros diferentes, mas o problema de "Starfield" é justamente o fato de que, em um universo gigantesco, os momentos interessantes são muito raros. O sentimento que permeia toda a experiência é de que se trata de um jogo sem muito brilho e cheio de oportunidades perdidas.

A fórmula tradicional de jogos de mundo aberto da Bethesda foi repetida à exaustão em "Starfield", e a escala sem precedentes infelizmente não trouxe consigo um universo rico o bastante para justificar seu tamanho.

O jogo se passa no ano de 2330, em um futuro não tão distante no qual a humanidade abandonou a Terra e colonizou dezenas de sistemas solares da Via Láctea. O jogador começa sua aventura como um minerador em um planeta remoto num canto pouco importante dos chamado Sistemas Colonizados.

Ao entrar em contato com um artefato de origem desconhecida, chama a atenção de uma organização de exploradores espaciais conhecida como A Constelação. Fazer parte do grupo garante ao jogador logo de cara uma nave. Depois de um breve tutorial, você pode fazer o que bem entender e ir para onde quiser.

Falando dos pontos fortes, Starfield é um jogo bonito, com poucos bugs ou problemas técnicos —um feito raro em jogos deste tamanho— e um combate acelerado. A visão do personagem pode ser alternada entre primeira e terceira pessoa, e é possível usar armas de fogo, a laser e corpo a corpo. A variedade de itens impressiona —apesar de a constante troca de equipamentos tornar necessário que se passe bastante tempo nos menus de inventário, algo que acontece em muitos RPGs.

No espaço, o combate com a nave é ainda mais alucinado do que o em terra, e é um dos pontos fortes do jogo, com uma certa curva de aprendizado que exige que o jogador aprenda a gerenciar os vários sistemas da nave —como armas, escudos e motores— para se dar bem em um confronto.

Ainda assim, ao jogar, não passei muito tempo na nave viajando pelo espaço. O mundo aberto é imenso: cem sistemas solares e mais de mil planetas, de acordo com a Bethesda. Mas a principal maneira de explorá-lo, e de se locomover nele, é através de um ou outro estilo de viagem rápida.

Pular de um sistema solar a outro é feito dessa forma, como era de se esperar. Mas uma vez que o jogador pousa em um planeta, não existe nenhuma outra maneira de atravessar as grandes distâncias a não ser correndo ou usando uma mochila propulsora bastante limitada.

Todo planeta em que é possível pousar tem algo para se fazer: alguma estação de pesquisa ou caverna de recursos, ou até mesmo morada de piratas, mas a experiência começa a ficar bastante repetitiva com o tempo.

As missões também sofrem desse mal. Muitas delas são o tipo de tarefa que lotam RPGs de mundo aberto de menor qualidade: viaje até esse lugar, busque esse item, converse com essa pessoa, e pronto. A história principal consiste, no início, em buscar mais artefatos como o primeiro que você encontra, mas é difícil se importar com os seus companheiros exploradores, que tem personalidades pouco desenvolvidas.

Certamente existem joias escondidas: uma missão que te coloca na pele de um agente duplo infiltrado em um grupo de piratas, ou outra na qual o jogador investiga um ataque de alienígenas violentos em uma comunidade isolada. Mas, mesmo nesses melhores momentos, foi difícil afastar a sensação de que eu poderia estar jogando um jogo em que não fosse preciso me esforçar tanto para me divertir.

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