Sem sexo a três, 'Passagens' leva triângulo amoroso às telas com erotismo de sobra

Filme do diretor americano Ira Sachs tem enrosco entre Adèle Exarchopoulos, Franz Rogowski e Ben Whishaw

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Duda Leite
São Paulo

Ira Sachs não tem medo do erotismo. "Quando fiz esse filme, minha intenção era criar prazer para o público de uma forma erótica. Não apenas através do sexo, mas através da intimidade e da complexidade", disse o diretor de "Passagens", que estreia na quinta-feira, dia 17.

O filme narra um intenso triângulo amoroso envolvendo o cineasta narcisista e manipulador Tomas, vivido por Franz Rogowski, seu marido editor Martin, papel de Ben Whishaw, e uma professora de escola primária, Agathe, encarnada por Adèle Exarchopoulos.

Cena do filme 'Passagens', de Ira Sachs
Franz Rogowski e Adele Exarchopoulos em cena do filme 'Passagens', de Ira Sachs - Divulgação

O filme ganhou a classificação NC-17, a mais alta nos Estados Unidos. Apesar da liberdade sexual dos personagens, os três nunca vão para a cama juntos, assim como no clássico "Jules e Jim: Uma mulher para Dois" de François Truffaut.

"Acho que há uma cena de um ménage em 'A Mãe e a Puta' de Jean Eustache, mas acredito que os personagens nem transam. Os franceses tinham muito medo da homossexualidade. Era um tabu que os diretores não se arriscavam a tocar", afirma Sachs.

Nascido em Memphis, no Tennessee, nos Estados Unidos, Sachs parece se sentir mais confortável na Europa. Seu filme anterior, "Frankie", estrelado por Isabelle Huppert, foi filmado na cidade portuguesa de Sintra. "Passagens" foi todo concebido e filmado em Paris. "Preciso me sentir confortável onde estou contando uma história, além das condições favoráveis para realizá-las, baseado no financiamento", afirma o diretor.

Sachs tem uma grande afinidade com o cinema francês. Uma das inspirações para esse projeto foi Sandrine Bonnaire, atriz de filmes como "Aos Nossos Amores", de 1983, dirigido por Maurice Pialat e "Os Renegados", de 1985, de Agnès Varda. "Sandrine e Adèle têm algo de Joana D’Arc. São atrizes cujas performances criam algo de religioso em mim. Sandrine foi o anjo da guarda desse filme, com sua beleza, delicadeza e vulnerabilidade, apesar de nunca ter estado lá e eu não conhecê-la pessoalmente", diz Sachs.

O clima no set era eletrizante, segundo o diretor. Durante as filmagens, Ira disse estar apaixonado pelos três protagonistas. "Quando conheci Franz, senti que havia uma energia explosiva entre nós. Na verdade, eu amo os três e isso está no filme. Havia uma qualidade única de juventude e felicidade no set."

Houve, ainda, espaço para questionamentos sobre o caráter autobiográfico da obra, uma vez que o protagonista é um cineasta. O diretor afirma que, sim, "Passagens" é um filme muito pessoal, mas sem ser autobiográfico e que são os outros personagens, Martin e Agathe, com quem ele mais se identifica.

Entre os filmes que trazem cineastas como protagonistas, suas referências foram "Je Tu Il Elle", de Chantal Ackerman, "Taxi Zum Klo", de Frank Ripploh e "Tracey Despedaçada", de Jacques Nolot, onde os cineastas se desnudam literalmente na frente das câmeras. "Eu não tirei a roupa durante as filmagens, mas quis me expor. Portanto, me pareceu muito natural que o personagem principal fosse alguém que tem poder, mas que não entende suas consequências, assim como eu."

Apesar das fortes cenas de sexo, Sachs se negou a usar no set os chamados coordenadores de intimidade, os profissionais que fazem o intermédio entre elenco e direção, que surgiram em Hollywood após o movimento MeToo.

"Acho fundamental que os atores se sintam seguros e nunca explorados. É importante que eles saibam seus limites, e tenho que respeitá-los. Meu problema com os coordenadores de intimidade é a forma como dirijo. Tento falar o mínimo possível no set. Há uma linguagem de confiança entre eu e meu elenco. Se trouxer uma terceira pessoa, a conversa fica literal", diz Sachs.

"Passagens" marca a quinta colaboração entre Ira e o roteirista brasileiro Mauricio Zacharias. "Nossa colaboração é baseada na bondade e na confiança. Mauricio tem talentos muito diferentes dos meus. Respeitamos o que cada um traz para a mesa."

Uma das qualidades de "Passagens" é a atuação naturalista do elenco. "Não ensaio com meus atores antes do início da filmagem, portanto todo dia há o risco de acontecer uma catástrofe. Mas também, um milagre. Meu trabalho é esperar por esse milagre."

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