Descrição de chapéu Gal Costa

César Lacerda, parceiro de Gal e Jorge Mautner, revê dez anos de carreira em álbum

Compositor lança 'Década', com trabalhos dos cinco álbuns anteriores que refletem percursos da nova música brasileira

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Rio de Janeiro

"Década", disco de César Lacerda que revê seus dez anos de carreira fonográfica, sintetiza em suas doze canções uma estrada larga. Nesse tempo, foi parceiro de artistas como Ronaldo Bastos, Chico César e Jorge Mautner. Foi gravado por vozes como Maria Bethânia, Gal Costa e Lenine, com composições presentes em mais de 60 álbuns de outros intérpretes.

Agora, o cantor, compositor e produtor documenta no trabalho —em gravações inéditas acompanhado apenas de seu violão— uma trajetória que é sua, única, mas também de sua geração e mesmo do Brasil e do mundo nesse período.

O músico César Lacerda, que lança o disco 'Década'
O músico César Lacerda, que lança o disco 'Década' - Lou Alves/Divulgação

Trajetória sua porque ali estão músicas de seus cinco álbuns anteriores: "Porquê da Voz" (2013); "Paralelos e Infinitos" (2015); "O Meu Nome É qualquer Um", que ele divide com Romulo Fróes (2016); "Tudo Tudo Tudo Tudo" (2017); e "Nações, Homens ou Leões" (2021). Além delas, há canções gravadas por outros artistas e nunca registradas por ele, como "Minha Mãe", lançada num dueto de Gal e Bethânia. Completam o repertório duas inéditas.

"Década" também testemunha os caminhos da música brasileira nesses dez anos, incluindo artistas que despontaram neste século. Não só porque há ali canções originalmente gravadas por colegas de geração de Lacerda, como Luiz Gabriel Lopes e Flavio Tris.

Mas sobretudo porque o álbum conta da construção de uma carreira dentro de um mercado que viu a mudança radical do físico para o streaming, assim como os cruzamentos que se deram nesse período entre indie, folk adolescente e as variantes tradicionais do que se costuma denominar MPB.

Por fim, sob a beleza das canções, há um contexto mais amplo que inclui a vida do país e do globo nesses dez anos: os protestos de 2013, George Floyd, pandemia, ameaças à democracia brasileira, emergência de vozes feministas, o questionamento das fronteiras de gênero, ativistas como Greta Thunberg apontando para a urgência de se olhar para a crise climática etc.

Tudo tratado sob um olhar que pode ser entendido como uma ética do cuidado —com o planeta, com o outro, com o amor, com o tempo.

Ao rever sua discografia, Lacerda dá conta da natureza de seu olhar. "O ‘Porquê da Voz’ foi lançado num ano insurrecional no Brasil, 2013. Eu estava buscando uma voz minha mas também uma voz do Brasil que estava se esfacelando", diz. "‘Paralelos e Infinitos’ é meu flerte com a música indie americana, mas é um também um relato pessoal sobre uma relação minha. Eu falando de amor precedendo a chegada do golpe".

"‘O Meu Nome É qualquer Um’, que fiz com Romulo, trata de feminismos, movimentos negros, a presença da tecnologia na nossa vida, o aprofundamento do conservadorismo. ‘Tudo Tudo Tudo Tudo" traz o olhar do Marcus Preto. É uma tentativa de me levar para uma música mais pop", diz. "Hoje vejo que era eu sofrendo com que a esquerda não conseguia se comunicar. E ‘Nações, Homens ou Leões’ é sobre tentar recuperar uma alegria, uma dança, um segundo a mais frente ao fim do mundo".

As duas canções inéditas de "Década’ apontam nesse sentido da ética do cuidado. "Faz o Teu" convoca docemente cada um à responsabilidade de salvar o mundo —figurada e literalmente. Dedicada à Victória Leão Vendramini, companheira de Lacerda, e ao poeta Leonardo Fróes, "O Amor Fincou Raízes por Aqui" é uma canção de amor que integra planta e gente ("Nos tornamos um jardim", diz um dos versos).

Lacerda conta que as duas canções serviram de pilares para o disco. "Acordei com os primeiros versos de ‘Faz o Teu’ e vi que estava construindo uma canção afetado pelo tema da crise climática, como outras de minha obra", diz o compositor.

"Já ‘O Amor Fincou Raízes por Aqui’ fala da vitória do silêncio, do amor em sua condição total", afirma Lacerda. "Sempre procuro mirar alguma dimensão de luz diante do assombro. É como se a minha canção fosse o sonho do que eu pretendo realizar, a bandeira do que eu quero de mim, da sociedade. Procurei reunir canções que se irmanam com essas ideias".

A centelha do projeto surgiu numa conversa de Lacerda com a cantora Filipe Catto, que sugeriu a ele um disco com o nome "Década", gravado no formato voz e violão, reunindo canções que contassem de alguma forma seus dez anos de carreira.

Apesar de o formato voz e violão remeter a uma ideia de origem das canções, a como elas foram feitas, Lacerda explica que não foi bem assim. "A única que está no disco como foi composta é 'Faz o Teu'". Mesmo 'O Amor Fincou Raízes’ eu mudei a forma de tocar, tornei-a mais rítmica. ‘Fazedor de Rios’, por exemplo, eu não sabia tocar. De alguma maneira, eu recompus as canções".

Com muitas composições prontas para ganharem o mundo —só com Ronaldo Bastos, são mais de 20 parcerias inéditas—, o músico fecha sua primeira década pensando na próxima. "Quero fazer algo com o repertório dos argentinos Charly Garcia, Luis Alberto Spinetta e Fito Paez", diz. "Esses caras falando de poesia, arte e do compromisso com isso me fazem lembrar porque comecei a fazer música".

Década

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