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Grammy perde ousadia, indica velhos nomes, e delira com filme 'Barbie'

Premiação nomeia seu artistas queridinhos, como Taylor Swift e Billie Eilish, e pesa a mão ao lembrar do longa da boneca

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São Paulo

O Grammy, maior premiação da indústria musical, não quer sair da zona de conforto. É o que mostra a lista de artistas e bandas indicados para a 66ª edição do prêmio, marcada para ocorrer em 4 de fevereiro do ano que vem.

A seleção, divulgada nesta sexta-feira, é uma reunião de figurinhas carimbadas da premiação. Taylor Swift e Billie Eilish, que colecionaram estatuetas ao longo dos últimos anos, foram indicadas seis vezes cada uma, inclusive nas categorias principais.

A cantora Billie Eilish segura cinco troféus do Grammy em 2020 - Robyn Beck/AFP)

Swift, vencedora recordista na categoria álbum do ano, com três estatuetas, foi nomeada ao mesmo título pela sexta vez com o disco "Midnights". Sua canção "Anti-Hero" também foi lembrada em categorias de peso.

Eilish, por sua vez, fez história em 2021 ao levar as quatro estatuetas principais –artista revelação, melhor álbum, canção e gravação. Apesar de não ter lançado álbum no último ano, a cantora de 21 anos lançou a faixa "What Was I Made For?" para a trilha sonora do longa-metragem "Barbie", com a qual vai concorrer a cinco estatuetas. É um número impressionante.

Aliás, o Grammy surpreendeu ao apostar pesado no efeito pop do filme da boneca mais famosa do mundo. A categoria de melhor canção para obra audiovisual, na qual costumam ser nomeadas faixas de diferentes filmes e seriados, desta vez ficou repleta do nome da boneca.

Foram indicadas, só nesta categoria, quatro faixas da trilha sonora de "Barbie", deixando apenas uma vaga livre, ocupada pelo retorno de Rihanna aos microfones com "Lift Me Up", de "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre".

Colar-se à popularidade do filme, um dos maiores eventos culturais do ano, indica uma tentativa do Grammy de atrair audiência não só dos fãs de divas pop, mas também de um público que não acompanha a indústria musical de perto.

É estranho olhar para a lista de nomeados e ver a canção "I’m Just Ken", entoada pelo superpopular Ryan Gosling, que faz o boneco Ken em "Barbie". A faixa, viral no TikTok, soa mais como uma piada musicalizada do que de fato uma composição digna do prêmio mais importante da música.

"Barbie World", outra queridinha dos tiktokers, que tem as rappers Nicki Minaj e Ice Spice recuperando o clássico nostálgico da banda Aqua, também não merecia tamanho reconhecimento.

Parece que o Grammy está tentando desfazer a imagem de instituição branca e conservadora que tem. O problema vinha aumentando nos últimos anos, especialmente em 2020, quando a premiação foi acusada de racismo por esnobar o bem-sucedido "After Hours", disco do cantor The Weeknd. A polêmica surgiu na esteira de outras acusações envolvendo supostas fraudes.

A situação piorou no começo deste ano, quando o Grammy deixou de premiar Beyoncé para entregar a estatueta de álbum do ano ao britânico Harry Styles. Não pegou bem, dado que a premiação vinha há anos se recusando a laurear Beyoncé com seus troféus mais relevantes.

O cantor John Legend, dono de baladas românticas que já venceram o Grammy, afirmou a este jornal que o prêmio precisa se atualizar. "Meu objetivo é que tenhamos mais votantes jovens no processo que nos ajudem a moldar o futuro da premiação. O Grammy é decidido por um bando de músicos, não há fãs envolvidos. Precisamos de sangue novo para que o prêmio continue relevante", disse no ano passado.

Seja por ter dado ouvido às críticas ou só porque tem medo de perder audiência, fato é que o Grammy está tentando se alinhar às questões de diversidade. A pessoa mais indicada para o ano que vem é SZA, que é negra, e angariou nove indicações com o aclamado disco "SOS" e a música "Kill Bill".

Nessa toada, a premiação criou a categoria melhor performance africana, na qual indicou apenas artistas pretos –inclusive "Water", da cantora Tyla, que estourou no TikTok com dancinhas sensuais.

Foram adicionadas ao prêmio do ano que vem outras duas categorias: melhor álbum de jazz alternativo e melhor gravação de pop dance.

A última, que parece ter sido criada só para contemplar canções dançantes que não cabem nas categorias pop, reforça a aparente vontade do Grammy de se aproximar do que bomba na internet. Prova disso é que as nomeadas "Rush", bom retorno de Troye Sivan, e "Padam Padam", de Kylie Minogue, foram virais nas redes sociais.

Há as injustiças de sempre. O sucesso estrondoso de "Bzrp Music Sessions, Vol. 53", em que a colombiana Shakira alfineta seu ex-marido Gerard Piqué, foi ignorado. O disco de Hozier merecia ser lembrado. O Grammy também peca em não reconhecer a grandiosidade do k-pop.

Por outro lado, houve boas surpresas. O hit "Flowers" de Miley Cyrus foi devidamente reconhecido, o trio de rock feminino boygenius foi lembrado sete vezes, e a banda Paramore foi merecidamente indicada à categoria de melhor álbum rock.

Com uma lista predominantemente feminina das categorias principais, o Grammy do ano que vem ocorre na Arena Crypto.com, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A lista de convidados e de shows prometem dar brilho à premiação, ainda que sejam os velhos nomes de uma mesma panelinha.

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