Coletâneas definitivas dos Beatles ganham versão com os remixes e 21 faixas novas

'Now and Then', feita com inteligência artificial, foi incluída nas antologias '1962-1966' e '1967-1970', que acabam de ser lançadas

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Os Beatles, John Lennon, Ringo Starr, Paul McCartney e George Harrison, em chegada a Nova York, em 1964 AFP

São Paulo

No dia 2 de abril de 1973, três anos após a separação dos Beatles, a gravadora EMI lançou dois álbuns duplos que formariam a coletânea definitiva com todos os grandes sucessos da banda britânica. Mas nada é definitivo no pop. Depois de cinco décadas, esses discos retornam em novas versões, com inúmeras faixas a mais e toda a tecnologia disponível para tornar ainda mais sublime a música do quarteto.

Os Beatles - Divulgação

As coletâneas "1962-1966" e "1967-1970" traziam, respectivamente, 26 e 28 canções, extraídas dos 13 álbuns de estúdio da banda, somadas a alguns singles. Por mais de duas décadas, enquanto durou a chamada era do vinil, foi a melhor opção para aqueles que pela primeira vez queriam se aventurar pela música dos Beatles.

Mesmo quando o CD passou a imperar no mercado, esses álbuns continuaram vendendo bastante. Em 2000, no entanto, veio "1", reunindo todas as músicas da banda que chegaram ao primeiro lugar nas paradas no Reino Unido ou nos Estados Unidos, e esse CD se tornou por duas décadas a coletânea mais atraente para um público menos exigente.

Agora, "1962-1966" e "1967-1970" retornam tão encorpadas que podem ser um presente de Natal irresistível até para quem já tem tudo que os Beatles gravaram. São 21 músicas adicionadas, entre elas "Now and Then", considerada a última canção da banda, lançada em novembro, depois de anos de trabalhos complementares de estúdio a partir de uma fita demo deixada por John Lennon.

O que impressiona mais não é esta balada soft que não acrescenta muita coisa à obra dos Beatles. O chamariz dessas novas versões é a remixagem feita por Giles Martin, filho de George Martin, o produtor de quase tudo que a banda gravou.

A primeira coletânea engloba os sete discos iniciais —"Please Please Me", de 1963, "With the Beatles", de 1963, "A Hard Day´s Night", de 1964, "Beatles for Sale", de 1964, "Help!", de 1965, "Rubber Soul", de 1965, e "Revolver", de 1966. Todas as faixas tiveram remixagem concluída neste ano por Martin. A nova edição oferece 12 músicas a mais.

Do álbum de estreia, entram "I Saw Her Standing There" e "Twist and Shout". Foi incluído também "This Boy", lado B do single "I Wanna Hold Your Hand", de 1963. "Roll Over Beethoven" e "You Really Got a Hold on Me", de "With The Beatles", e "You Can’t Do That", de "A Hard Day’s Night", ganharam seus lugares. "If I Needed Someone" é a adição extraída de "Rubber Soul".

O álbum mais contemplado com as inclusões é "Revolver", em cinco faixas —"Taxman", "Got to Get You into My Life", "I’m Only Sleeping", "Here, There and Everywhere" e "Tomorrow Never Knows". Essa valorização acompanha a percepção tardia, tanto dos fãs quanto da crítica, de que "Revolver" já engloba muito das inovações musicais que ficaram escancaradas no disco seguinte, "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band", obra-prima da banda, lançada em 1967.

Além de "Now and Then", as outras oito faixas adicionais de "1967-1970" são "Within You Without You", canção de George Harrison do "Sgt. Pepper’s", três do chamado "Álbum Branco", de 1968 "—Dear Prudence", "Glass Onion" e "Blackbird", "Hey Bulldog", da trilha sonora de "Yellow Submarine", de 1969, "Oh Darling" e "I Want You (She’s So Heavy)", ambas de "Abbey Road", de 1969, e "I Me Mine", de "Let It Be", de 1970.

Apenas seis músicas da segunda coletânea, que integraram as trilhas dos filmes "Magical Mistery Tour" e "Yellow Submarine", tiveram remixagem especialmente para este lançamento. O resto do material teve atenção recente de Giles Martin. De 2017 a 2020, ele fez esse trabalho para as edições de 50 anos de "Sgt. Pepper’s", "The Beatles", o "Álbum Branco", "Abbey Road" e "Let It Be", aproveitadas aqui.

Não é bom esperar grandes alterações. Martin faz um trabalho essencialmente técnico, não criativo. Ele limpa todas as pistas sonoras e dá pesos diferentes a algumas, num processo que ele mesmo definiu uma vez como "purificação". Ficou ótimo. Nem poderia ser diferente, já que o trabalho de seu pai com os Beatles é a produção musical mais relevante da história do rock e do pop.

Nos dois discos, as faixas seguem rigorosamente a ordem cronológica de lançamento. Um ouvinte que tenha três horas e 49 minutos disponíveis pode fazer uma audição ininterrupta. De "Love Me Do" a "The Long and Winding Road" —é bom deixar "Now and Then" fora dessa avaliação—, é evidente a evolução musical do grupo.

Do iê-iê-iê do início, com suas letras simples de "menino conhece menina/ menino perde menina/ menino ganha menina", à complexidade harmônica de "Let It Be" ou "Across the Universe", eles são adolescentes virando adultos, musicalmente falando. E vale lembrar que foram eles os maiores responsáveis por trazer a crônica da vida cotidiana às letras do rock.

Para quem é um verdadeiro adepto, um outro passatempo possível nesta longa audição é perceber quais das canções assinadas por Lennon e McCartney nas coletâneas —são 65 no total— têm mais a cara de um ou do outro. Eles assinaram sempre juntos, mesmo em canções em que um deles praticamente não pôs a mão.

"Help!" é de Lennon, "Yesterday" é de McCartney, todo mundo já sabe. Mas e tantas outras? Aos interessados nesse estudo mais profundo do pop, uma dica é o livro "The Beatles: A História por Trás de Todas as Canções", monumental obra de Steve Turner que existe em edição brasileira da Cosac Naify, encontrável em sebos.

Agora, com 75 canções nos dois discos, fica difícil até para o fã mais ranzinza reclamar da falta de uma ou outra música que poderia ser merecedora de estar entre as melhores. A exceção é, sem dúvida, "Helter Skelter", que tem sido constante nos shows de Paul McCartney.

É curioso comparar esse repertório com as escolhas de McCartney em sua recém-terminada passagem pelo Brasil. No show que encerrou a visita, no último sábado, no Maracanã, entre 21 músicas escolhidas entre o material dos Beatles, ele incluiu 13 canções que estão nessas coletâneas.

As capas originais dos álbuns são um capítulo curioso na história gráfica do pop. A de "1962-1966" tem estampada uma foto feita por Angus McBean em 1963, usada na capa de "Please Please Me". Nela, os quatro Beatles posam na escada interna do prédio da EMI, em Londres, olhando para baixo.

Em 1968, quando a banda preparava o álbum "Get Back", eles resolveram refazer a foto, no mesmo lugar e com o mesmo enquadramento. O projeto acabou adiado e se transformaria no álbum "Let It Be", de 1970, mas a foto ficou engavetada até a ideia de lançar as coletâneas, indo então para a capa de "1967-1970".

A mais antiga tem uma moldura vermelha na capa, mesma cor que predomina na contracapa. Na segunda, a cor é o azul. Numa alusão ao disco "The Beatles", que ficou conhecido como "Álbum Branco", por ter a capa totalmente nessa cor, apenas com o nome da banda em relevo, essas duas coletâneas são habitualmente tratadas pelos fãs como "Red Album" e "Blue Album".

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