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Encontros entre artistas deram brilho ao Festival de Verão Salvador

Edição de 25 anos do evento teve Daniela Mercury com Ilê Aiyê e Margareth Menezes e BaianaSystem com Carlinhos Brown

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Salvador (BA)

O Festival de Verão Salvador comemorou, neste final de semana, seus 25 anos de história e, ao encapsular parte do tradicional e do contemporâneo da música baiana às vésperas do Carnaval, se firmou como um esquenta não oficial das festividades de rua da cidade.

Apresentação de Daniela Mercury, Margareth Menezes e Ile Aiyê na 25ª edição do Festival de Verão Salvador, em 2024
Apresentação de Daniela Mercury, Margareth Menezes e Ile Aiyê na 25ª edição do Festival de Verão Salvador, em 2024 - Divulgação

O grande trunfo do evento, que renovou sua proposta e curadoria musical no ano passado, foram os encontros inventivos entre artistas, que já haviam sido testados na edição de 2023.

Dois deles ajudam a mostrar o que de inédito o evento oferece para seu público. No dia da abertura, a banda BaianaSystem uniu forças com Carlinhos Brown para uma viagem pela música afrodiaspórica feita na América do Sul —e, por ser um encontro entre gerações, também pela história da música feita na Bahia.

Foi uma junção poderosa que se valeu da maleabilidade sonora da banda liderada por Russo Passapusso e da longevidade de Brown para alcançar um balanço entre o experimental e o popular que deixou o público do Parque de Exposições hipnotizado.

No dia seguinte, o festival embarcou nas comemorações de cinco décadas do mais antigo bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê. Ele foi incluído em uma homenagem tocada por Daniela Mercury com participação da ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Foi o momento mais impactante do evento visualmente, com as Deusas do Ébano do bloco circulando pelo palco preenchido por vários instrumentistas —além das cantoras e da banda de Mercury. Musicalmente, o show provou a solidez da relação que a cantora mantém com o Ilê desde 1980, e também o poder da voz e presença de Menezes.

Carlinhos Brown e Russo Passapusso, do BaianaSystem
Carlinhos Brown e Russo Passapusso, do BaianaSystem - Duane Carvalho

Mas combinações fluidas como essas não são regra no festival. Primeiro, porque dependem da curadoria, que precisa reconhecer o potencial que a união daqueles artistas guarda. Depois, da própria disposição dos escalados em fundir os repertórios para criar algo inédito.

Nesse sentido, Baco Exu do Blues com Psirico e Leo Santana com Luísa Sonza não conseguiram passar da primeira página e apresentaram combinações menos empolgantes. Foram os shows que deram a sensação de que talvez fossem mais proveitosos se feitos individualmente.

Em um palco iluminado, o cantor Léo Santana, homem negro, alto, braços largos e tatuados, usa uma camiseta regata branca e óculos escuros. À sua frente, Luísa Sonza, mulher branca, de cabelos loiros, segura um microfone branco, em dueto com Santana
Leo Santana e Luísa Sonza cantam juntos no Festival de Verão Salvador - Reprodução

Mesmo nesses momentos menos interessantes, o festival acaba carregado pelo público. Os baianos não têm a toa fama de animados —saem do chão, dançam e batem palmas com frequência incomum em relação à maioria das plateias nos festivais no Sudeste do país.

É algo notado pelos artistas, que parecem mais motivados a se entregar nas performances, e os shows tendem a crescer. Quase todos os cantores destacaram o calor da plateia, e Lulu Santos chegou a afirmar que Salvador oferece "provavelmente a melhor experiência que um artista brasileiro pode ter de encontro com seu público".

É uma sensação que chegou ao ápice no show de Leo Santana —dos escalados, aquele que está mais conectado com a música contemporânea das ruas de Salvador. O pagodão do GG, como ele é chamado, bateu diretamente nos corpos e balançou as dezenas de milhares de presentes, que fizeram trenzinhos humanos massivos, coreografias com as lanternas do celular e não pararam de dançar.

No Festival de Verão, a força e originalidade da música baiana ganha contornos únicos —algo impossível de se reproduzir em eventos fora de Salvador. Até mesmo nos momentos mais introspectivos, como o show de Caetano Veloso com "Transa", as performances ficam repletas de novos contextos e sentimentos.

No caso de Ivete Sangalo e Bell Marques, as apresentações funcionaram praticamente como uma prévia de suas atrações do Carnaval. Animados como de costume, deram amostras do poder de mobilização que têm essas duas figuras históricas da música de trio elétrico.

Em termos de estrutura, o Festival de Verão evoluiu desde o ano passado. Antes com palcos colados, o evento agora trouxe os shows principais um de frente para o outro, o que facilitou a circulação, apesar de cansar um pouco mais as pernas. No calor de janeiro em Salvador, a sensação foi de que estava mais fácil andar e as plateias ficaram menos abarrotadas, o que contribuiu na experiência de maneira geral.

A adoção de passarelas que deixam os artistas chegarem mais perto da pista comum também foi um ganho, já que os cercados para convidados —uma área repleta de atores globais e celebridades de todo tipo— e os camarotes, em geral, são ambientes mais frios. Se a animação dos baianos é uma das virtudes do Festival de Verão, quanto maior a comunhão entre os artistas e a massa, melhores as apresentações.

Com ambição de se tornar um dos maiores festivais do país, o evento ainda tem pontos a evoluir. Mas, em sua versão repaginada, já encontra atributos que são diferenciais e podem alavancá-lo a partir daquilo que ele tem de mais peculiar —em especial, os shows com fusão completa e entrosada dos artistas e a força do público e da música locais.

Os jornalistas viajaram a convite da produção

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