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Chefe da Netflix na Coreia do Sul explica sucesso de filmes e séries como 'Round 6'

Vice-presidente de conteúdo no país, Don Kang diz que o governo local foi indispensável para a produção das obras

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Seul

É sempre com surpresa que Don Kang, vice-presidente de conteúdo da Netflix na Coreia do Sul, diz ler os bons números que as séries produzidas no país têm conquistado. Recentemente, a empresa divulgou que 60% de seus assinantes consomem produções coreanas, numa prova de que "Round 6" não está só.

Mas não devemos nos prender tanto aos números, diz o executivo à Folha. "Entreter o mundo é um trabalho rigoroso, então não podemos descansar."

Cena da série "Round 6", da Netflix
Cena da série "Round 6", da Netflix - Divulgação

A cerca de 160 quilômetros da capital da Coreia do Sul, Seul, um enorme complexo de sets de filmagem evidencia que a Netflix e o país como um todo têm planos cada vez mais ambiciosos para o audiovisual local.

É no Studio Cube, com seus 32.000 metros quadrados e tecnologia de ponta, que a segunda temporada da série que rompeu as barreiras idiomáticas e foi indicada ao Emmy de melhor drama está sendo gravada. Outras produções coreanas da Netflix, como "Profecia do Inferno", também a fizeram de morada.

Com seus vários cubos metálicos enfileirados um ao lado do outro, o estúdio surpreende pelo tamanho. O pé-direito, ao entrar numa das salas coloridas de "Round 6", dispensa a ajuda da computação gráfica para muitas das cenas megalomaníacas da série, elevando a importância e a inventividade do departamento de direção de arte.

Erguida pelo Ministério da Cultura, Esportes e Turismo na cidade de Daejeon em 2017, a empreitada mostra que os sonhos de grandeza da indústria audiovisual coreana são compartilhados por poder público e empresas privadas.

Studio Cube, o principal complexo de estúdios para o audiovisual da Coreia do Sul
Studio Cube, o principal complexo de estúdios para o audiovisual da Coreia do Sul - Korea Creative Content Agency/Divulgação

Kang reitera que, muito antes de a Netflix chegar ao país, talentos e incentivos locais foram imprescindíveis para tornar produtivo aquele ecossistema –e o país, junto com a música e a culinária cada vez mais exportáveis, um exemplo de soft power no século 21, expandindo sua influência e relevância no globo por meio da cultura.

"Várias formas de incentivo do governo tiveram uma influência positiva na indústria. Foi igualmente crucial o apoio do governo para que as nossas histórias fossem exportadas, dando assistência para a compreensão de outros mercados de filmes e séries", diz Kang.

Don Kang, vice-presidente de conteúdo da Netflix na Coreia do Sul
Don Kang, vice-presidente de conteúdo da Netflix na Coreia do Sul - Ji Sang Chung/Divulgação

Mas isso não quer dizer que a Netflix veja seu braço coreano como uma fábrica de produtos internacionais. O escritório da plataforma na Coreia do Sul segue uma diretriz que parece ser global, também destacada por Elisabetta Zenatti, equivalente de Kang no Brasil, em entrevista recente a este jornal.

Cada escritório deve se preocupar com o público local e, justamente por isso, filmes e séries em língua não inglesa vêm conseguindo viajar para outros países cada vez mais. "Quando criamos séries que ressoam com o público local, elas têm potencial de cativar a audiência global, transcendendo as diferenças linguísticas e culturais", diz o executivo.

"As séries coreanas têm sido imensamente populares na Coreia, graças a seu ecossistema robusto, criativo, vibrante e cheio de talentos. E isso muito antes de a Netflix começar a estabelecer parcerias na região", diz Kang, destacando diretores como Park Chan-wook, de "Oldboy", e Bong Joon-ho, de "Parasita", que foram pioneiros na atenção que o cinema sul-coreano recebe hoje.

Apesar de a Netflix não divulgar detalhes sobre hábitos de consumo e assinaturas, o Brasil é hoje um dos principais celeiros de audiência para produções coreanas. Segundo a empresa, 75% dos assinantes brasileiros assistem a conteúdos produzidos na Coreia do Sul. No ano passado, 30 obras vindas de lá apareceram no ranking de mais vistos do Brasil.

E não são só os k-dramas que fazem sucesso, impulsionados pela proximidade com as novelas latino-americanas e seus melodramas. Gêneros como fantasia, ficção científica e ação, representados por "A Criatura de Gyeongseong" e "Black Knight", entre outros, bem como reality shows, como "A Batalha dos 100", também encontram tração entre os brasileiros.

A ligação entre Brasil e Coreia do Sul vai muito mais além, no entanto. Os dois países, hoje produtores de uma quantidade significativa de séries e filmes da Netflix, se encontram num debate complexo sobre os direitos e deveres das plataformas de streaming. Enquanto aqui a regulação do streaming avança em Brasília, lá o departamento de telecomunicações quer que seus lucros subsidiem a indústria local.

Uma das principais medidas de políticas semelhantes adotadas em países mais protecionistas, como a França, determina uma porcentagem mínima de conteúdo nacional nos acervos. Já de olho nisso, a Netflix anunciou um investimento de US$ 2,5 bilhões, equivalentes a cerca de R$ 12,4 bilhões, em seu braço coreano, dobrando o que investiu no país desde 2016.

Parte do resultado já foi visto na semana passada, quando o serviço anunciou sua enorme seleção de conteúdo coreano para este ano. Ao comparar o valor investido com aquele anunciado para os gastos no Brasil entre o ano passado e este, na casa do R$ 1 bilhão, fica claro que a Coreia do Sul é hoje a menina dos olhos da Netflix.

O jornalista viajou a convite da Netflix

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