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Masp dá à moda status de arte em mostra de looks feitos por artistas e estilistas

Museu exibe 78 trajes criados sob encomenda que incluem peças glamurosas de pérolas e outras mais minimalistas

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Randolpho Lamonier + Vicenta Perrotta, 'Casa Transcomunal', 2022; modelo Teodora Oshima

Traje de Randolpho Lamonier e Vicenta Perrotta, 'Casa Transcomunal', de 2022; modelo Teodora Oshima Cassia Tabatini/divulgação Masp

São Paulo

É roupa ou obra de arte? Uma exposição no Masp que abre nesta sexta-feira (22) quer justamente embaralhar a definição do que pode ser vestido ou exibido para apreciação.

Em "Arte na Moda: Masp Renner", o Museu de Arte de São Paulo traz a público, pela primeira vez, 78 trajes desenvolvidos por 26 duplas de estilistas e artistas. Criadas entre 2017 e 2022, as peças foram comissionadas pela instituição, sendo incorporadas diretamente à sua coleção sem serem vestidas, exceto pelos modelos durante o ensaio fotográfico para o catálogo.

Panmela Castro + Walério Araújo, 'Indumentária Marcada', 2022
Traje de Panmela Castro e Walério Araújo, 'Indumentária Marcada', de 2022 - Cassia Tabatini/divulgação Masp

"A primeira função da roupa no museu é pensar o que é uma roupa, para que ela serve", afirma Leandro Muniz, que organizou a exposição junto a Adriano Pedrosa, o diretor artístico do Masp.

"Ela é um objeto cotidiano porque está no seu corpo e no corpo de todo mundo, mas quando entra no museu vira um objeto mais de reflexão do que ligado a um fluxo de consumo, de pura expressão pessoal ou de significação de um grupo", acrescenta ele.

Passear pelo cenário dramático de cortinas cinzas e meia-luz onde o vestuário está exposto, no subsolo do Masp, é entender quem é quem na moda e na arte contemporânea brasileira. Por exemplo, André Namitala, o fundador da Handred —marca carioca que preza por uma sofisticação à brasileira nas suas peças— criou um look com Ayrson Heráclito, nome central para pensar a questão da raça na arte.

Trata-se de um conjunto de saia de palha com um casaco cravejado de pérolas barrocas, peça que levou mais de 400 horas para ser feita. Acompanha o look um acessório em formato de coração que pende do ombro esquerdo do manequim.

Já o figurino da estilista Vicenta Perrota com o artista Randolpho Lamonier foi confeccionado a partir de uma barraca de um morador de rua, à qual foram costuradas camisetas de movimentos sociais, como um "patchwork". "Este trabalho é um 'statement' político e também pensa a roupa como abrigo. A primeira arquitetura que a gente veste é a roupa", afirma o organizador da exposição.

Por mais que o Masp tenha uma coleção de cerca de 600 figurinos em seu acervo, não é comum ver uma exposição de moda no museu. A última foi em 2015, com peças selecionadas ainda na década de 1970 pelo fundador da instituição, Pietro Maria Bardi. Antes desta exposição, na década de 1980, o Masp sediou uma mostra chamada "Traje: Um Objeto de Arte?".

A coleção de moda do Masp, que inclui roupas de estilistas menos conhecidos, foi formada por doações esporádicas na segunda metade do século 20. Há peças da Dior —que desfilou no Masp em 1951, quando o museu ainda era localizado na rua Sete de Abril, no centro de São Paulo— e também do surrealista Salvador Dalí, tesouros parte de um acervo que ainda precisa ser mais estudado, segundo Muniz.

Como se vê nas peças expostas, moda não é só glamour, mas reflete sua época e contexto social. Gloria Coelho e Laura Vinci desenvolveram looks sóbrios e minimalistas, em preto e branco, nos quais uma carapuça envolve a cabeça do manequim, numa alusão às proteções faciais usadas durante a pandemia.

A referência à Covid também aparece num dos trajes de Sonia Gomes e Gustavo Silvestre, onde vemos um logo do delivery de comida iFood num dos braços. As peças da dupla, um encontro certeiro entre os retalhos de Gomes e os tricôs de Silvestre, foram feitas por correspondência, durante a pandemia.

Muniz conta que, para o museu, as peças agora mostradas se situam entre a moda e a arte, embora nunca tenham circulado pela indústria têxtil e demandem cuidados para serem exibidas, como a luz mais baixa para desgastar o tecido o mínimo possível. Depois da exposição, os figurinos serão armazenados no escuro por ao menos nove meses para se recuperarem.

A feitura dos trajes também não é tão veloz quanto o ritmo de produção da indústria do vestuário, se assemelhando mais com o processo de criação de uma obra de arte. Segundo Muniz, "quando a roupa entra no museu o tempo é problematizado —não é o mundo do consumo imediato da moda".

Arte na Moda: Masp Renner

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