Quem é Melly, premiada como artista revelação, que canta a amargura pelo pop

Em 'Amaríssima', cantora e compositora baiana de 22 anos mistura gêneros para cantar paixões e dores do crescimento

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Ítalo Leite
São Paulo

Melly entendeu que crescer é aceitar os dissabores da vida —e fez disso o coração do seu álbum de estreia. "Amaríssima", disco da cantora e compositora baiana de 22 anos que chegou ao streaming nessa terça-feira, é o novo passo da jovem laureada como artista revelação pelo Prêmio Multishow no ano passado.

Álbum de estreia da cantora traz Liniker e Russo Passapusso, da banda BaianaSystem - João Arraes/Divulgação

A vitória na premiação enfim destacou a artista que cantava pelos bares de Salvador desde os 16 anos —a partir dos ensinamentos do pai, também músico—, e que chamou a atenção da indústria com o EP "Azul", lançado em 2021.

Com quatro faixas, o projeto já adiantava uma sonoridade carregada de inspirações no R&B, trap e soul, com a mistura da sonoridade regional do samba-reggae, em letras que abordam desilusões amorosas e paixões.

Agora, em "Amaríssima", Melly traz toda sua bagagem artística e a amplifica em um disco pop. Partindo dos ritmos com que já trabalhou, ela constrói o trabalho guiada pela amargura, mas também aberta ao que a vida tem de doce.

"Depois de criança, temos que aceitar o desconforto, um pouquinho mais do amargo, porque precisamos viver e passar por essas sensações para poder sentir outros sabores melhores", diz Melly.

A artista, também produtora do disco, lança mão de metáforas sobre jogos de sedução, em "Derreter & Suar", e aborda reflexões sobre a passagem do tempo, como em "Bye Bye", para traduzir uma variedade de sabores ao longo de 12 faixas.

Melly abre o álbum com a canção "Falar De Amor", que dá o tom da narrativa da produção. A música aborda o término de um relacionamento ainda não superado, em um percurso que mistura pagode e jersey club, gênero eletrônico. "Mas sabe, né, que eu sinto saudade de você, mulher, que tô pensando em ti, toda hora, né", canta ela.

Ao longo do disco, ela costura lembranças da Bahia para contar as histórias que ela define como confissões de um diário. Em "Cacau", remete o amor por uma mulher ligando-a às qualidades do fruto, como seu cheiro e doçura. A música é um samba-reggae com toques do gênero sul-africano amapiano, popularizado na faixa "Water", de Tyla.

Já "Rio Vermelho" remete ao bairro soteropolitano numa música em parceria com Russo Passapusso, vocalista da banda BaianaSystem —que cedeu seu estúdio na capital baiana para as gravações do disco, incorporando, nessa faixas, influências do próprio som do grupo, com percussão, bateria e guitarra.

Outra parceria de destaque é com a cantora Liniker, em "10 Minutos", em um som sensual que mistura violoncelo, trap e soul.

Sobre outras referências no cenário musical, a artista cita Duda Beat, dona do hit "Bixinho", ao lado de sua musa maior, que ela reverencia com uma tatuagem de dois corações próximo ao ombro. "Amy Winehouse tinha essa mesma tatuagem aqui, assim, dois corações no braço", afirma. "Ela é minha inspiração principal, quem me fez crescer em música."

Melly traz para o universo de "Amaríssima" relacionamentos amorosos entre mulheres e o amor afrocentrado —termo usado para designar uma união afetiva ou sexual entre pessoas negras, representados não só na música, mas também no curta de 18 minutos que acompanha o lançamento.

"São questões que não podiam faltar na minha arte. Se as pessoas podem falar de amores entre dois homens ou amores heterossexuais, tem também pessoas como eu", afirma.

Apesar de sintético, com seus 32 minutos, "Amaríssima" condensa uma pessoalidade que pode sagrá-la como uma nova aposta do gênero pela sua pessoalidade. "Sinto que eu sou uma pessoa bastante amorosa, que sente muito a felicidade e a tristeza de um jeito amaríssimo."

Amaríssima

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