Veja letra de canção inédita gravada por Chico e Fernanda Montenegro

'Manifestação', escrita por Carlos Rennó, faz parte da campanha da Anistia Internacional por direitos humanos

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Carlos Rennó

[SOBRE O TEXTO] A Ilustríssima adianta a letra da canção "Manifestação", parte da campanha da Anistia Internacional no Brasil por direitos humanos. A música é de Russo Passapusso, Rincon Sapiência e Xuxa Levy. A composição foi gravada por Ana Cañas, As Bahias e a Cozinha Mineira, BNegão, Camila Pitanga, Chico Buarque, Chico César, Criolo, Ellen Oléria, Fernanda Montenegro, Filipe Catto, Larissa Luz, Letícia Sabatella, Ludmilla, Luedji Luna, Márcia Castro, Marcelino Freire, Marcelo Jeneci, Paulinho Moska, Paulo Miklos, Pedro Luís, Péricles, Pretinho da Serrinha, Rael, Rico Dalasam, Rincon Sapiência, Roberta Estrela D'Alva, Russo Passapusso e Xênia França. O lançamento do videoclipe, dirigido por João Wainer e Fábio Braga, será em 28 de maio.

 

pessoas azuis carregando estandartes
Ilustração para Imaginação - Edson Ikê

Aqui 'stamos na avenida,

Pelas ruas, pela vida,

Marchando com o cortejo

Que flui horizontalmente,

Manifestando o desejo

De uma cidade includente

E uma nação cidadã tra-

Duzido numa canção,

Numa sentença, num mantra,

Num grito ou numa oração...

.

... Por todo jovem negro que é caçado

Pela polícia na periferia;

Por todo pobre criminalizado

Só por ser pobre, por pobrefobia;

Por todo povo índio que é expulso

Da sua terra por um ruralista;

Pela mulher que é vítima do impulso

Covarde e violento de um machista;

.

Por todo irmão do Congo, lá de Angola,

Do Senegal, aqui refugiado;

Pelo menor de idade sem escola,

A se formar no crime condenado;

Por todo professor da rede pública

Mal-pago e maltratado pelo Estado;

Pelo mendigo roto em cada súplica;

Por todo casal gay discriminado.

.

E proclamamos que não

Se exclua ninguém senão

A Exclusão.

.

Aqui 'stamos nós de volta,

Sob o signo da revolta,

Por uma vida mais digna

E por um mundo mais justo,

Com quem já não se resigna

E se opõe sem nenhum susto

A uma classe dominante

Hostil à população,

Numa ação dignificante

Que nasce da indignação...

.

... Por todo homem algemado ao poste,

Tal qual seu ancestral posto no tronco;

Por todo jovem que protesta até que o prostre

O tiro besta de um PM bronco;

Por todo morador de rua, sem saída,

Tratado como lixo sob a ponte;

Por toda a vida que foi destruída

Em Mariana ou no Xingu, por Belo Monte;

.

Por toda vítima de cada enchente,

De cada incêndio ou seca dura e duradoura;

Por todo escravo ou seu equivalente;

Pela criança que labuta na lavoura;

Por todo pai ou mãe de santo apedrejada

Por quem exclui quem crê num outro deus;

Por toda mãe guerreira, abandonada,

Que cria sem o pai os filhos seus.

.

E proclamamos que não

Se exclua nada nem ninguém senão

A exclusão.

.

Eis aqui a face escrota

De um modelo que se esgota.

Policiais não defendem;

Políticos não contentam;

Uns nos agridem ou prendem;

Outros não nos representam.

E aquele que não é títere,

E é rebelde, vai então

No WhatsApp, no Face, no Twitter e

Combina um ato ou ação...

.

... Por todo defensor da natureza,

E todo ambientalista ameaçado;

E cada vítima de bullying indefesa;

E cada transexual crucificado;

E cada puta, cada travesti;

E cada louco, e cada craqueiro;

E cada imigrante do Haiti;

E cada quilombola e beiradeiro;

.

Pelo trabalhador sem moradia,

Pelo sem-terra e pelo sem-trabalho;

Pelos que passam séculos ao dia

Em conduções que deixam em frangalho;

Pela empregada que batalha, e como,

Tal como no Sudeste o nordestino;

E a órfã sem pais hetero nem homo,

E a morta num aborto clandestino.

Impelidos pelos ventos

Dos acontecimentos,

Louvamos os mais diversos

Movimentos libertários

Numa cascata de versos

Sociais e solidários

Duma canção de protesto

Qual canção de redenção,

Uma canção-manifesto,

Canção-manifestação...

.

... Por todo ser humano ou animal

Tratado com desumanimaldade;

Por todo ser da mata ou vegetal

Que já foi abatido ou inda há-de;

Por toda pobre mãe de um inocente

Executado em noite de chacina;

Por todo preso preso injustamente,

Ou onde preso e preso se assassina;

.

Pelo ativista pelo policial detido

E o policial fodido igual quem ele algema;

Pelo neguinho da favela inibido

De frequentar a praia de Ipanema;

E pelo pobre que na dor padece

De amor, de solidão ou de doença;

E as presas da opressão de toda espécie,

E todo aquele em quem ninguém mais pensa...

.

E proclamamos que não

Se exclua nada nem ninguém senão

A exclusão.

.

Dando à vida e à alma grande

Um sentido que as expande,

Cantamos em consonância

Com os que sofrem: ofensa,

Preconceito, intolerância,

Violência, indiferença;

Os Rafaeis e Amarildos

Da imensa legião

De excluídos do Brasil, do S

Ul ao norte da nação.

.

E proclamamos que não

Se exclua nada nem ninguém senão

A exclusão.


Carlos Rennó, 62, é letrista, jornalista e produtor artístico.

Edson Ikê, 37, é ilustrador e designer.

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