Em três livros, Édouard Louis já arranjou briga com mãe e político

'O Fim de Eddy', livro de estreia do autor francês, é tema do Clube de Leitura Folha de maio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Édouard Louis se tornou um fenômeno literário aos 21 anos, vendendo, apenas na França, mais de 75 mil exemplares de seu primeiro romance, "O Fim de Eddy", em 2014. Mas há muitos descontentes com suas histórias.

Sua mãe foi à televisão após seu primeiro livro. Reda B., imigrante ilegal argelino, foi preso por 11 meses após a publicação de seu segundo livro

Em maio de 2018, ele lançou seu terceiro romance, também autobiográfico, "Qui A Tué mon Père" (quem matou meu pai). Dez meses depois, o político francês Martin Hirsch lançou "Comment J'ai Tué son Père" (como eu matei seu pai).

Em "Qui A Tué mon Père", Louis fala sobre seu pai, um trabalhador do norte da França, na região da Picardia, que teve sua saúde destruída pelo trabalho pesado em usinas e que vive de ajuda social do governo. Ele culpa algumas figuras públicas por terem forçado seu pai a voltar a trabalhar embora estivesse muito mal de saúde. 

Martin Hirsch, uma das pessoas apontadas por Louis junto de presidentes, é o criador da RSA, uma ajuda social que proíbe que seus beneficiários recusem por duas vezes ofertas de emprego sem justificativa aceitável.    

Hirsch é o ex-presidente da Emmaüs, importante movimento de filantropia que nasceu na França e está por toda a Europa, e o atual diretor da rede de hospitais públicos da região de Paris. 

"Comment J'ai Tué son Père" é, além de uma defesa da RSA  —benefício dado a 1,86 milhões de famílias francesas— uma ficção criada a partir da acusação feita por Louis em seu livro. Nele, o personagem principal, chamado Nitram (Martin ao contrário), é interpelado por um jovem escritor que tem "nome de um primeiro-ministro e sobrenome de um rei" (Édouard Philippe é o atual primeiro-ministro francês e o país teve uma série de reis chamados Louis).  

O segundo livro de Louis, "Histoire de la Violence" (história da violência), levou o autor aos tribunais. O romance narra seu encontro com um homem nas ruas de Paris próximo ao Natal de 2012 e como esse encontro ao acaso se desenrolou em um encontro sexual, um estupro sob a mira de uma arma, e uma série de procedimentos policiais.

O autor diz apenas que o homem se chamava Reda e era imigrante. Identificado por DNA três anos depois, logo após o lançamento do livro na França, o suposto estuprador é preso, fica 11 meses na cadeia, e move um processo contra o escritor, a quem acusa de atentar contra sua privacidade com o livro. Ele pede uma confrontação com Louis, que se recusa.

Mas Édouard Louis causa polêmica desde seu primeiro livro. Com "O Fim de Eddy", no qual narra sua infância dentro de uma família pobre da classe operária do norte da França, os preconceitos que sofreu por ser gay e sua mudança de nome  —Édouard era antes Eddy Bellegueule— conseguiu se indispor com sua mãe. Ela e seus irmãos foram à televisão e aos jornais se defender, disseram ao jornal Corrier Picard, por exemplo, que não são nem racistas nem homofóbicos e que amam "Eddy".

Na época Louis disse que seu livro —bastante violento e realista— era um ato político. "Se falamos dessas pessoas, sempre somos acusados de racismo de classe, de 'proletofobia', mas me parece absolutamente essencial mostrar essa realidade se queremos mudá-la", disse em vídeo da livraria Mollat.

O escritor francês Édouard Louis - Joel Saget/AFP
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.