[SOBRE O TEXTO] Os dois poemas inéditos nesta página integram o livro “Mr. Babenco - Solilóquio a Dois sem Um”, no qual o cineasta, em conversa com a atriz Bárbara Paz, sua esposa, relembra momentos marcantes de sua vida e carreira. O livro, com lançamento previsto para o fim deste mês pela editora Nós, reúne fotografias e poemas feitos por Babenco na juventude.
Uma lágrima
não é tudo
ou quase nada.
Especialmente agora
que revi
o túnel, o espelho, a mirada oca.
E a carne geográfica do nosso passado.
Eclipses de
cores formadas na mágica
de olho reconstrutor,
na mais vaga espumatura.
Estive lá, te estando
e te vendo ser
Microscópica porcelana
vento aguado
tensão de línea inacabada pela curva do mundo.
Te quiero
e afundas na distância
E escorres por entre a pele o árido leitoso
Da minha dor.
Tua letra
é o fascínio
daquilo que não se esquece.
O trejeito do rosto, este sim,
se dilui
se apaga
se atropela
se corrompe
se desfaz
se recompõe
gravita
e dela emerge
um totem
silencioso e terminal.
Alado e jovial.
Simplesmente
isso.
Hector Babenco foi um cineasta argentino naturalizado brasileiro (1946-2016). Dirigiu “Pixote” (1980), “O Beijo da Mulher Aranha” (1985) e “Carandiru” (2003), entre outros.
Ilustração de Bomju Coelho, artista visual.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.