Cem anos depois, "O Gabinete do Dr. Caligari", um filme modesto e pensado para ser um manifesto antibélico provou-se o marco zero de um estilo autoral e profundo de se fazer cinema.
Sua estética revolucionária —marcada por cenários que pareciam pintados nas paredes de um estúdio, geometria irregular, portas e janelas alongadas e pontiagudas, figurino extravagante e maquiagem pesadíssima— foi absorvida e ressignificada infinitas vezes na história do cinema.
Confira abaixo alguns dos mais ilustres filhos de "Caligari" e do expressionismo alemão no cinema.
Nosferatu (1922)
De F.W. Murnau
Adaptação não oficial de "Drácula", de Bram Stoker, o filme se vale do clima onírico e do contraste entre luz e sombra para criar um novo modelo de terror.
O Pensionista (1927)
De Alfred Hitchcock
O mestre do suspense aprendeu com os alemães os ângulos inusitados de câmera e o clima soturno que utilizou em seus primeiros filmes, na Inglaterra.
O Homem que Ri (1928)
De Paul Leni
Leni importou para os EUA a estética que lhe serviu para moldar um personagem icônico, que inspiraria a criação do Coringa.
Monstros (1932)
De Tod Browning
Considerado escandaloso demais, o filme explora um mundo de aberrações humanas e trapaças. Esteticamente, remete-nos a obras de Wiene e Murnau.
Cidadão Kane (1941)
De Orson Welles
Welles estudou com afinco "Dr. Caligari" para compor a iluminação, cenários e angulações de câmera do filme tido como o mais importante da história do cinema.
Eraserhead (1977)
De David Lynch
Lynch estreou no cinema explorando a narrativa fragmentada, a fotografia intimista e o enredo grotesco a exemplo da estética expressionista.
“Batman, o Retorno” (1992)
De Tim Burton
Além da evidente marca estética expressionista em seu trabalho, Burton tomou o sonâmbulo Cesare de "O Gabinete do Dr. Caligari" como modelo de seu Pinguim, vivido por Danny DeVito.
Donny Correia, doutor em estética e história da arte pela USP, é professor de linguagem cinematográfica e autor de, entre outros, “Cinefilia Crônica, Comentários sobre o Filme de Invenção” (2018).
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.