Ailton Krenak estreia coluna na Folha

Escritor e líder indígena, recém-empossado na Academia Brasileira de Letras, escreverá mensalmente

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O ativista e escritor Ailton Krenak, primeiro indígena eleito para a ABL (Academia Brasileira de Letras), estreia nesta semana uma coluna na Folha. Seus textos serão publicados mensalmente no site do jornal e na edição impressa da Ilustríssima.

Krenak nasceu em 1953 em Itabirinha, em Minas Gerais, e começou a se dedicar à organização política de povos originários e à causa ambiental nos anos 1970.

Ailton Krenak durante mesa-redonda da Feira do Livro, no estádio do Pacaembu, em São Paulo - Ronny Santos - 9.jun.22/Folhapress

Na década de 1980, se tornou um dos mais importantes articuladores do movimento indígena brasileiro, percurso marcado por seu discurso emblemático na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, ocasião em que pintou o rosto com tinta preta para defender a inscrição dos direitos indígenas na nova Constituição.

O alcance da sua interpretação das crises do mundo contemporâneo se multiplicou, nos últimos anos, com a publicação do best-seller "Ideias para Adiar o Fim do Mundo", em 2019, seguida do lançamento de "A Vida Não É Útil" e "Futuro Ancestral".

Nos livros, que reúnem ensaios curtos e transcrições de conferências, Krenak critica o pensamento ocidental que concebe uma humanidade abstrata apartada da natureza e se baseia em uma racionalidade predatória. Para ele, os indígenas são considerados parte de uma subhumanidade que nunca será admitida nesse projeto universalista, o que está na raiz da violência histórica do Estado contra os povos originários.

"Não tem sentido dizer que somos iguais quando príncipes sauditas embarcam carros de luxo em aviões para passear na Europa. Enquanto eles escravizavam povos no mundo inteiro, as declarações de igualdade só cresciam. Todo tipo de segregação e sacanagem acontece sob o manto tacanho da igualdade. Somos radicalmente diferentes. É uma tremenda embromação", disse em entrevista à Folha em 2022.

O escritor também defende que o futuro, em um cenário de ameaças crescentes à vida no planeta em razão da emergência climática, depende de uma reconexão com as memórias da Terra e com o legado de antepassados. "A vida transcende as nossas ideias especistas. Se todos nós desaparecermos como espécie humana, a vida continua", afirmou em episódio do podcast Ilustríssima Conversa no início de 2023.

"O Antropoceno deixou escancarada a inviabilidade do projeto Sapiens —essa coisa do Sapiens, que nunca para de progredir, que está sempre se reproduzindo, tanto do ponto de vista biológico quanto do ponto de vista da sua ambição de criar mundos. 'Se a gente comer o planeta Terra, nós vamos colonizar Marte.' Alguns sujeitos andam propondo esse tipo de coisa."

O reconhecimento de sua obra atingiu um novo patamar em 2023, quando Krenak foi eleito para a ABL e se tornou a primeira pessoa indígena a ocupar uma cadeira da instituição centenária.

Em seu discurso de posse, no início de abril, o escritor saudou a diversidade étnico-racial e linguística brasileira e o papel da oralidade na produção literária nacional —oralidade que também molda a sua obra.

"Mário de Andrade disse: 'Eu sou 300'. Olha que pretensão. Não sou mais que um, mas posso invocar os 305 povos indígenas que, nos últimos 30 anos, passaram a ter a disposição de dizer: 'Estou aqui. Sou guarani, sou xavante, sou kayapó, sou yanomami, sou terena'."

A coluna de Krenak na Folha substituirá a de Itamar Vieira Junior, que deixou de escrever para o jornal a pedido.

Colunistas da Ilustríssima

Mensalmente, aos domingos: Bernardo Carvalho, Ailton Krenak, Juliana de Albuquerque e Glenn Greenwald (publicação no site nos dias anteriores)

Quinzenalmente, aos domingos: Álvaro Machado Dias (publicação só no site)

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