Bolsa dispara na última sessão do mês e fica estável em março apesar de tensão global

Dólar acumulou alta de 1,88%, mas ainda fica no negativo no ano

Operadores na Bolsa de Nova York
Operadores na Bolsa de Nova York - Richard Drew - 26.mar.2018/AP
Anaïs Fernandes
São Paulo

A Bolsa brasileira disparou no último pregão de março e, depois de 30 dias marcados por ameaças de uma guerra comercial global, conseguiu fechar praticamente estável no mês.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas, subiu 1,78% nesta quinta-feira (29), para 85.365,56 pontos. O giro financeiro foi de R$ 10,9 bilhões.

Em março, avançou apenas 0,01%, mas no ano ainda acumula alta de 11,73%. 

Como comparação, o Dow Jones, principal índice de Nova York, caiu 2,49% de janeiro a março, no seu maior declínio trimestral em mais de dois anos. Na Europa, a Bolsa de Londres acumula queda de 4,64%, e a de Frankfurt recuou 4,02%.

"Dos 61 pregões no ano até o momento, em 23 deles o S&P 500 teve oscilações acima de 1% ou abaixo de -1%. No ano de 2017 inteiro, houve 251 pregões e em apenas oito deles o índice teve oscilações assim, o que ilustra bem o momento volátil lá fora", aponta Ignacio Crespo, economista da Guide Investimentos.

No primeiro dia de março, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 25% ao aço e de 10% ao alumínio importados no país. No mesmo mês, ele também definiu tarifas bilionárias aos produtos chineses —no total de US$ 60 bilhões— e derrubou Wall Street. 

Os atritos entre Estados Unidos e China, no entanto, parecem ter dado uma trégua aos investidores, e as ações do setor de tecnologia, que impactaram fortemente as bolsas de Nova York nos últimos dias, tiveram um pregão melhor nesta quinta.

O Nasdaq, índice que lista ações de tecnologia, subiu 1,64%. O Dow Jones subiu 1,07%, e o S&P 500, 1,38%.

"O mês foi mais volátil do que esperávamos, principalmente pelo cenário externo. existe preocupação com movimentos da economia americana e de inflação por lá. Mas a percepção de risco foi se reduzindo ao longo do mês", diz Marco Saravalle, da XP Investimentos.

Nesta quinta, o dólar comercial fechou em baixa de 0,93% ante o real, cotado a R$ 3,30. O dólar à vista caiu 1,14%, a R$ 3,303.

No mês, a divisa acumula alta de 1,88%, mas no primeiro trimestre ainda registrou queda de 0,27%.

O fluxo de venda do último pregão do mês foi influenciado pela formação da Ptax, uma taxa definida pelo Banco Central e que serve de referência para diversos contratos cambiais. No fechamento de mês, o mercado tende a "brigar" para trazer a cotação do dólar para mais perto de seus interesses.

Lá fora, o dólar se valorizou ante 20 das 31 principais divisas do mundo.

INVESTIMENTOS

Os fundos cambiais, opção para quem quer seguir o comportamento de moedas estrangeiras como o dólar, tiveram alta de 1,68%, após desconto de IR, e lideraram o ranking de investimentos em março.

Os fundos multimercados livres tiveram rentabilidade de 0,74%, já sem o IR. O ouro rendeu 0,32%.

Já os fundos de ações indexados, alternativa para quem quer acompanhar a Bolsa brasileira, fecharam março no negativo (-0,42%), ante alta de 2,26% no mês anterior.

BRASIL

Por aqui, a taxa básica de juros em baixa segue afetando aplicações de renda fixa. O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) cortou a Selic pela 12ª vez seguida no dia 21, à mínima histórica de 6,5% ao ano.

“O mercado já tinha precificado a queda, que influencia investimentos de forma geral, sejam produtos indexados à taxa básica de juros e a poupança ou até a renda variável”, disse Vinicius Maeda, diretor de Relação com Investidores da Magnetis.

“O investidor fica mais atento e aumenta o apetite por risco”, afirmou. 

A poupança com depósitos antes de 3 de maio de 2012 rendeu 0,5% em março, enquanto a caderneta com aplicações após essa data teve ganho de 0,385%. 

O Tesouro Selic, título público que acompanha a taxa básica de juros, rendeu 0,41%. CDB que rende 90% do CDI teve ganho de 0,39%, e fundos de renda fixa (duração baixa grau de investimento) tiveram ganho de 0,37%.

AÇÕES

Das 64 ações do Ibovespa, 57 subiram nesta quinta, 6 caíram e uma ficou estável.

As ações da Braskem lideram a alta, com os papéis avançando 6,81%, cotados a R$ 48.

A petroquímica divulgou balanço nesta quinta mostrando que teve lucro líquido consolidado de R$ 313 milhões no quarto trimestre, revertendo prejuízo de R$ 2,617 bilhões no mesmo período do ano anterior, quando o resultado foi impactado por pagamento de multa em acordo de leniência global no âmbito da Operação Lava Jato.

Em segundo veio a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), com avanço de 5,77%, diante da alta dos preços do minério de ferro na China. As ações Vale subiram 2,17%.

Os papéis preferenciais da Petrobras tiveram alta 0,99%, e os ordinários, de 1,43%, acompanhando os preços do petróleo no exterior, em pregão também marcado por leilão de blocos de petróleo e gás da Bacia de Campos.

O setor financeiro foi bem, respondendo ao anúncio do Banco Central na véspera de que o percentual de recursos que os bancos são obrigados a recolher aos cofres do BC será reduzido.

Os papéis do Itaú Unibanco subiram 1,34%. As ações preferenciais do Bradesco avançaram 2,65%, e as ordinárias tiveram valorização de 2,5%. O Banco do Brasil subiu 1,76%, e as units -conjunto de ações- do Santander Brasil registraram alta de 4,45%.

No front contrário, a Qualicorp liderou as quedas (-0,93%), seguida pela Eletrobras, cujos papéis recuaram 0,52% (ordinária) e 0,82% (preferencial), em meio a dúvidas sobre o processo de privatização da elétrica estatal.

Com a Reuters

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