O livro "O Poder Inovador da Diversão" tem uma tese sedutora. Segundo seu autor, Steven Johnson, a evolução da sociedade deve muito mais aos nossos passatempos e caprichos do que nos contam os livros de história.
A partir de uma pesquisa que passa por temas e épocas variadas, o autor busca conectar criações de áreas como moda, música, gastronomia, cinema e urbanismo com grandes inovações que só surgiram mais tarde.
Dessa forma, consegue mostrar que muitos objetos que nos rodeiam têm parentesco com brinquedos, instrumentos musicais e jogos do passado.
O autor nos conta que, séculos antes de se falar em computadores e inteligência artificial, já se haviam construído autômatos capazes de grandes façanhas, inclusive tocar melodias pré-programadas em instrumentos.
Também mostra que o produtivo teclado do computador foi inspirado nas teclas do piano e como apostadores em busca de melhores performance ajudaram a desenvolver a probabilidade.
Tudo isso foi possível, diz Johnson, porque a brincadeira desafia as regras de como o mundo deve funcionar e cria novas convenções.
VALE-TUDO
Porém o autor parte de conceito amplo do que é diversão e até difícil de justificar.
O que não é uma necessidade básica humana e é feito apenas pela busca do prazer entra nesse pacote.
Cabe aí a procura por novos sabores, a criação de lojas luxuosas que incentivavam o passeio descompromissado e o desenvolvimento do cinema a partir de espetáculos de ilusionismo.
A narrativa passa por cantos remotos da terra para mostrar como o comércio de especiarias expandiu fronteiras e ajudou a configurar o mundo como o conhecemos hoje, pela história antiga do xadrez, cujas peças e regras foram mudando conforme evoluía a sociedade antiga e medieval, e o nascimento dos primeiros games, criados por engenheiros do MIT em computadores de milhões de dólares por puro prazer.
Em outro momento Johnson defende o papel de destaque dos bares para revoluções, por dar o ambiente ideal para que ideias revolucionárias se espalhassem.
Observando o papel desses ambientes de descontração e discussão nos Estados Unidos em seu período colonial, aposta que, sem eles, a independência americana poderia demorar décadas a mais e a disputa ter acabado com resultado diferente.
EMPOLGAÇÃO
O livro convence que a arte e o entretenimento podem ser fontes de criação que se espalha por outras áreas. Mas em muitos momentos é difícil não torcer o nariz e achar que o autor se empolgou demais com sua conclusão.
Acontece, por exemplo, quando tenta explicar a Revolução Industrial não pelo desenvolvimento da tecnologia e do mercado financeiro, mas sim como consequência de um frenesi por tecidos de algodão que vinha ocorrendo na Inglaterra.
Além disso, algumas vezes a herança deixada pelas brincadeiras do passado para as tecnologias que vieram depois não convencem.
No caso dos robôs, por exemplo, o fato de terem sido precedidos por brinquedos autômatos não significa, necessariamente, que seus inventores pensaram, ou conheciam, os divertidos ancestrais daquilo que criavam.
Com muita informação, o livro funciona muito bem como um almanaque curioso sobre histórias de invenções.
Poderia se levar um pouco menos a sério para aproveitar melhor outro potencial da diversão, o de prender o leitor para transmitir o conteúdo com mais eficiência.
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